Cotidiano

Exposição traz trajetória do arquiteto da 1ª casa modernista do país

O Itaú Cultural abre hoje (27) a Ocupação Gregori Warchavchik, que relembra a vida e a trajetória do arquiteto responsável pela primeira casa modernista no Brasil. O ucraniano chegou ao país em 1923, trazendo as ideias que no ano anterior haviam causado diversos choques no campo das artes visuais e literatura, durante a Semana de Arte Moderna.

Warchavchik abriu o debate público sobre pensamento modernista aplicado também às construções e ao planejamento das cidades com um artigo publicado no Correio da Manhã em novembro de 1925. No texto, expôs o descompasso que via entre as mudanças sociais e tecnológicas e o conservadorismo nos projetos arquitetônicos.

“O homem num meio de estilos antiquados deve sentir-se como num baile fantasiado. Um jazz-band com danças modernas num salão estilo Luiz XV, um aparelho de telefonia sem fio num salão estilo Renascença, é o mesmo absurdo como se os fabricantes de automóveis resolvessem adotar a forma de carro dos papas do século 14”, comparava no artigo que havia sido publicado originalmente em italiano.

Geometria e concreto

As ideias logo viraram concreto. Primeiro na casa da Rua Santa Cruz, concluída em 1928, onde foi viver após seu casamento com Mina Klabin, filha mais velha do fundador do grupo Klabin. As paredes brancas e lisas contrastaram com o estilo rebuscado que era regra nas edificações da época. “Uma arquitetura que traz algumas referências que vêm de arabescos, uma série de detalhamentos que lembram uma arquiteutra inglesa de um século, um século e meio atrás que trazia algumas referências do que seria neoclássico hoje”, explica a produtora do Itaú Cultural, Camila Nader sobre os costumes da arquitetura das primeiras décadas do século 20 no Brasil.

Em 1930, é finalizada a residência que ficou conhecida como Casa da Rua Itápolis ou Casa Modernista. Valorizando as formas geométricas, os projetos escondem as telhas e usam linhas retas tanto na edificação como um todo quanto nos detalhes. “Janelas, portas e portões já saem muito mais limpos, com uma estética muito mais racional do que a anterior. Todo o detalhamento quase gótico anterior some”, comenta Camila sobre as propostas de Warchavchik.

As formas secas e brancas fizeram com que os projetos chegassem a ser comparados a mausoléus, como ficou registrado em jornais da época, que podem ser vistos na exposição. O arquiteto, no entanto, já antecipava ideias que seriam marcas das construções modernas brasileiras das décadas seguintes. “É algo que traz um pouco essa referência do concreto armado que depois a gente vai ver mais na década de 1950 na arquitetura de outras pessoas, como Paulo Mendes da Rocha e Vilanova Artigas”, enfatiza Camila.

Fotografias e projetos populares

Além dos projetos para famílias da elite paulistana, Warchavchik aplicou seu pensamento em propostas para residências populares. Uma das ideias do arquiteto era quase adaptar o ascendente modelo industrial à construção civil. “Essa perspectiva dele de porque você consegue construir um carro em um único dia porque você não consegue construir uma casa em um único dia também. Um pouco essa ideia de que a velocidade em que se construísse as casas seria um método de popularização do acesso”, destaca.

Ao longo da carreira, Warchavchik desenhou ainda prédios públicos e espaços como a sede do Clube Atlético Paulistano, o ginásio do Clube Hebraica e o salão de festas do Clube Pinheiros.

A mostra traz essas construções, por meio de fotos, plantas e os projetos. Há ainda depoimentos em vídeo sobre o trabalho ea  vida do arquiteto.Uma parte da exposição está no Museu Lasar Segall, que também foi projetado por Warchavchik, originalmente para ser residência do pintor com sua esposa a escritora Jenny Klabin Segall, cunhada do arquiteto. Ali podem ser vistas as fotografias do arquiteto, que tinha um laboratório de revelação em sua casa. “Uma série de retratos que ele fez de pessoas importantíssimas no período”, ressalta Camila.

Serviço

A exposição vai até o dia a 23 de junho, no Itaú Cultural, na Avenida Paulista, de terça a sexta-feira, das 9h às 20h, e aos sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h. No Museu Lasar Segall, na Vila Mariana, de quarta a segunda-feira, das 11h às 19h.