Uma das principais referências do Brasil no Tiro Prático é da cidade de Santarém, no Pará, a aproximadamente 1.222 quilômetros da capital Belém. Alessandro Nascimento, de 42 anos, é um dos quatro integrantes da equipe verde e amarela, que participaria do Mundial de Tiro Prático, inicialmente programado para começar em 28 de novembro, na cidade de Pattaya (Tailândia). No entanto, a competição, como tantas outras, foi adiada em decorrência da pandemia do novo coronavìrus (covid-19).
O Mundial, transferido para novembro de 2021, mudou os planos do brasileiro, da divisão Standard, que permite customizações no equipamento, mas estabelece limitações de tamanho físico, não sendo permitidas miras óticas ou eletrônicas.
“A mudança foi por uma boa causa, a saúde todos. Agora é ajustar o foco. Para chegar em novembro do ano que vem em condições de fazer bonito. Vamos estudar bastante. A ideia era chegar bem cedo lá na Tailândia e fazer uma adaptação legal para o fuso horário. Vamos planejar bem como utilizar esse ano que 'ganhamos'”, projeta o atleta.
A covid-19 atingiu em cheio o estado do Pará, relata o atleta. “Aqui em Santarém, estamos saindo de duas semanas de lockdown e de um rodízio de CPFs. Foram muitos casos, mas parece que a curva começa a declinar um pouco. Eu sou contador e vi muitos clientes passando necessidades. Tenho clientes que estão há quase três meses com os estabelecimentos fechados”, lamenta.
Atleta a modalidade tiro prático desde 2013, Alessandro Nascimento foi um dos precursores do tiro na região Norte. “Todo atirador brasileiro é um herói. Naquela época, ainda não tínhamos o clube aqui na cidade. Me filiei em Belém. E atirava em um espaço que montei na propriedade rural que possuo aqui perto da cidade. Homologuei tudo para a prática do tiro, trouxe pessoas de outros estados para cursos na região e, aos poucos, as coisas foram crescendo. Depois, com a inauguração do Clube de Tiro Tapajós, aqui em Santarém, facilitou bastante”, explicou o atleta, um dos sócios da agremiação.
As viagens muito longas e as dificuldades de locomoção entre as cidades também foram complicadores no início do esporte na região. “O Pará é muito grande. Me lembro que as viagens para participar dos torneios em Novo Progresso, a mais de 600 km, e em Paragominas ou Parauapebas, a mais de 1.000 km, sempre em estradas de chão. Dificultava demais. Não ter um clube de tiro na cidade, praticamente, inviabiliza a prática do esporte”, constata.
Com a melhora da infraestrutura e a inauguração do clube em Santarém, Alessandro pôde se dedicar também à preparação física. Segundo ele, uma parte vital para quem quer se dar bem na modalidade. “Em 2013, eu pesava 106 quilos. E comecei a treinar, a me dedicar mesmo, correr, pedalar… Tenho um acompanhamento direto de nutricionista, nutrólogo. E estou me mantendo nos 87 kg. Um peso bom para a minha altura de 1,82 m. Ajuda demais no deslocamento pelas pistas, na preparação para os disparos. A diferença na precisão é muito grande”, admite.
Histórico
O Mundial da Tailândia no final de 2021 será o segundo na carreira de Nascimento. O atleta santareno estreou em 2017, na edição realizada na cidade de Chateauroux (França). “Foram cinco dias de torneio, mas quatro com as provas de tiro. Exige muita regularidade. Uma espécie de maratona. Investimento alto, muito treino, muitos recursos. Mas aprendi demais com aquela experiência. Cada detalhe é decisivo em uma prova desse nível. Pode fazer o atleta ser campeão ou ficar fora do pódio. A pista era extremamente difícil, muito técnica. Eu estava muito bem nos primeiros quatro dias. Mas, realmente, senti a pressão no último dia. Olhei para o lado e vi que uma das lendas do esporte, um cara que é várias vezes campeão mundial, estava atirando na pista próxima a mim. Muitas emissoras de TV de todo mundo acompanhando. Não foi fácil”, lembra.
Outra passagem importante ocorreu no Campeonato Pan-Americano de Tiro Prático, em Kingston (Jamaica), em 2018. Alessandro voltou do país caribenho com três medalhas (prata por equipe, bronze no individual e bronze no shoot-off). “Me lembro que foram várias pistas bem diferentes, exigindo as mais variadas técnicas de tiro. E tivemos também as nossas armas apreendidas na chegada. O acesso aos equipamentos só era permitido nos dias das provas”, recorda.
E a conquista mais recente ocorreu em fevereiro desse ano. Foi o título do Florida Open Frostproof. Alessandro trouxe para casa os troféus da divisão Standard estrangeiro e da Standard Classe U (Unclassified). “Prova muito difícil e técnica. Um termômetro bom para os próximos desafios”, conclui.