Um turismo de isolamento, que busca a natureza, o distanciamento de grandes centros urbanos, a valorização de áreas rurais e estar com a família. Tendências para um setor que tenta se reerguer em meio à pandemia de covid-19 que abalou o mundo.
Para algumas pessoas, a saída encontrada para lidar com a pandemia foi aliar o home office com a possibilidade de ir para um local mais isolado. O produtor de desenvolvimento Victor Prata já passou por quatro casas alugadas pelo site Airbnb desde março deste ano. Morador da cidade do Rio de Janeiro, ele escolheu a região serrana de Petrópolis para se isolar, trabalhar e relaxar em contato com a natureza. A última casa escolhida por Victor e a família foi a da cineasta Thamires Duarte. O local, que antes da pandemia era alugado apenas nos fins de semana, virou a principal fonte de renda da cineasta desde março.
Impactos da pandemia
O impacto da covid-19 no setor turístico foi forte. Até o ano passado, um em cada 10 empregos no mundo eram ligados a essa área, segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT).
“Cerca de 100 milhões de empregos estão em risco neste momento”, avalia Sandra Carvão, responsável por Inteligência de Mercado e Competitividade da OMT.
Segundo dados do IBGE, o índice de atividades do setor no Brasil cresceu 19% entre março e agosto deste ano, com acumulado de 63,4% em quatro meses. Mas, ainda amarga uma queda de 38,8% em comparação ao mesmo período do ano passado.
Retomada das viagens
Aos poucos, o turismo tem sido retomado no país e os viajantes preferem sair de casa quando há certeza de que há segurança sanitária nos locais que pretendem visitar. Foi o caso das cariocas Mariana Daim Aquino e Francis Bellesia, que escolheram ir até Alter do Chão (PA) para uma pousada que oferecia protocolos de segurança. “A gente já ficou sabendo das políticas e práticas de segurança antes mesmo de sair de casa”, conta Francis. E Mariana acrescenta: “o turista tem que ser cauteloso, para se proteger e proteger os locais e a todos que estão ao redor”.
A Vila de Alter Pousada Boutique Amazônica foi o local escolhido pelas duas. A proprietária do local, Andrea Aymar, conta que a pousada ficou fechada por seis meses e teve que tomar decisões arriscadas para o negócio: não demitir nenhum funcionário e investir em equipamentos de higienização contra o coronavírus, num momento em que não entrava dinheiro em caixa.
Outro destino nacional que também começou a ser procurado foi a cidade de Lençóis, na Chapada Diamantina (BA). A abertura foi gradual e, a princípio teve exigências, como exame contra covid-19 e pré-reserva de hospedagem.
O casal gaúcho Aramis Malinski Argenta e Katiuscia Curtis foram à região em outubro e se sentiram seguros com as exigências, apesar das adaptações feitas ao roteiro, já que nem todos os locais do parque da Chapada estavam abertos. “A gente fez um roteiro bem definido para vir aqui, com várias expectativas, mas no decorrer do tempo, a gente teve que entregar tudo e receber o que a natureza tem para nos dar. Então, o passeio está sendo uma surpresa”, conta satisfeita Katiuscia, apesar das mudanças.
A administradora do local em que eles ficaram hospedados, a Pousada Solar Azul, Eline Macedo, conta que a abertura da cidade era algo esperado, mas também havia o receio dos turistas não se adequarem aos procedimentos. “Agora, eu percebo que eles entenderam que a hospitalidade não foi prejudicada, que a acolhida existe e se sentem seguros por essa postura”, avalia.
Agora as exigências de exame prévio de covid-19 e pré-reserva de hospedagem, foram suspensos pela Justiça. Mas a rede hoteleira de Lençóis afirma manter as medidas de segurança.
Turismo e inovação
Um dos setores que aposta na retomada do turismo é a área de inovação, principalmente com startups que conseguiram se reinventar durante a pandemia e também planejar um retorno seguro. A plataforma Worldpackers, que já foi vencedora do 1º Desafio Brasileira de Inovação, da OMT e governo brasileiro, foi uma dessas empresas. O site que conecta mais de 2 milhões de pessoas no mundo todo, oferecendo programas de troca de trabalho por hospedagem, no início da pandemia teve queda de 80% de faturamento.
Outra startup, a Sisterwave é uma plataforma que conecta mulheres viajantes e moradoras locais, oferecendo hospedagem e segurança para as turistas que viajam sozinhas. “Na pandemia, pela primeira vez, a gente contornou nosso discurso: ao invés de falar 'vai, mulher, viaja', a gente disse o contrário: fique em casa”, explica Jussara Pellicano Botelho, CEO da Sisterwave.
Agora, a plataforma já se prepara para voltar às atividades, com um protocolo rígido de higiene que ofereça uma segurança a mais para a turista.