Cotidiano

Lutador de wrestling supera lesões e foca em medalha em Tóquio 2020

“Emocionante. Uma luz no fim do túnel”. Foi assim que Eduard Soghomonyan, atleta de wrestling (luta greco-romana), recordou o momento em que conquistou a vaga olímpica para o Brasil em Tóquio 2020. A presença nos Jogos – a segunda na carreira – veio após a vitória por 8 a 3 sobre o venezuelano Moisés Pérez, na final da categoria até 130Kg, no Pré-Olímpico da modalidade, em Ottawa (Canadá). Armênio, naturalizado brasileiro, Soghomonyan vive em Los Angeles (Estados Unidos), onde reside com a família desde 2017,

Em entrevista à Agência Brasil, o lutador lembrou a série de dificuldades físicas que o levaram até a cogitar abandonar o esporte. “Tive muitas lesões nos últimos anos. Fiquei mais de um ano e meio fora das competições. Fui mal nas poucas que participei. Eram muitas dúvidas na cabeça. Por isso, a vaga foi uma vitória na vida também. Gritei muito. Difícil segurar a emoção “, lembra.    

Tóquio 2020 

Para os Jogos Olímpicos do ano que vem o objetivo é bem claro: conquistar uma medalha. Para chegar lá, o atletta pretende manter a mesma estratégia usada no Pré-olímpico. “Não interessa o lugar que vou estar no chaveamento. Cheguei lá no Canadá sabendo que o fundamental era a vaga. E consegui. Tem que saber pelo que você está treinando e está lutando. Daí o resultado vem”, projeta. Com bom humor, ele usa o pensamento positivo até mesmo quando questionado sobre o adiamento dos jogos. “Olha! Foi até bom, porque machuquei o meu dedo na porta do carro. E não estava conseguindo fazer praticamente nada”. Voltando à seriedade, ele diz que o tempo maior de preparação vai ser muito positivo. “Nos Jogos do Rio de Janeiro, a minha preparação foi muito prejudicada (veja abaixo). Agora, não terei desculpa. Tenho mais de um ano para fazer tudo direito e chegar lá voando para dar o meu melhor. Eu sei o que eu quero. E vou lá buscar”. 

Covid-19

Los Angeles é uma das principais cidades e centros urbanos do sul da Califórnia. O estado norte-americano está sob medidas mais restritivas, adotada no combate à pandemia do novo coronavírus (covid-19). “Se o objetivo era deixar as pessoas em casa, ele está sendo alcançado. Nas últimas semanas, Los Angeles é praticamente uma cidade fantasma. Eu mesmo só saio para comprar o básico no mercado. Nada mais”. Apesar de rígido, o lutador considera correta as medidas de preveção implementadas pelo governo. “Esse vírus afeta todo mundo. Não é brincadeira. As pessoas precisam ficar em casa para que tudo se resolva o mais rápido possível. Quero que a vida volte ao normal, mas todos tem que ajudar”, defende.

Uma vida de idas e vindas

Eduard chegou ao Brasil em 2011. A passagem aérea da Armênia, terra natal do atleta, até o Brasil foi comprada com o dinheiro da venda do carro. A guerra de Nagorno-Karabakh, que durou até o início dos anos 1990, pesou na drástica decisão de deixar o país. “Via muita gente sofrendo demais com os conflitos, até mesmo alguns dos meus familiares. Eu trabalhava como carregador de caminhão. Era uma rotina dura para conciliar o trabalho com os treinos. Por isso apostei na possibilidade de ter uma vida melhor no Brasil”, recorda o lutador, que tinha dificuldades de se manter na seleção armênia de wrestling por já ter passado por três cirurgias.

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Recém-naturalizado brasileiro, Soghomonyan, defendeu o país na Rio 2016. Desde 2004 o país não não tinha representante masculino. Arquivo/Tomaz Silva/Agência Brasil

Naturalizado brasileiro em 2016, ele representou o país nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Foi o primeiro atleta a defender as cores verde e amarelas desde 2004 na luta Greco-Romana. “Chegar no Brasil já havia sido um guerra que eu consegui vencer. E ter participado daquelas Olimpíadas foi uma vitória. A recepção e o apoio dos brasileiros foram espetaculares. Passei por um longo caminho para chegar até lá. Tenho muito orgulho de tudo. Mas, uma pena que eu não estava me sentindo muito bem no dia das disputas. Teve muita gente que atrapalhou demais”, lembra Soghomonyan, fazendo referência ao complicado processo de naturalização que demorou mais de quatro anos para ser concluído. Nesse longo período, o atleta não poderia representar a Armênia, deveria ficar só treinando, sem participar de competições oficiais. “Foram oito viagens em aproximadamente um mês para concretizar a documentação. Uma rotina louca, bem naquela época dos Jogos, o que me prejudicou demais”, lamenta.
Depois dos Jogos do Rio de Janeiro, ele se mudou para Los Angeles, mas sem esquecer o Brasil e as pessoas que o ajudaram nesse período. “Vivo aproximadamente 60% do tempo aqui em Los Angeles. O restante do tempo divido entre São José dos Campos, no interior paulista, e o restante do mundo, durante as competições. Isso é uma rotina normal entre os atletas de alto nível. Não tem jeito. Se você quer estar entre os melhores precisa treinar com os mais fortes”.

Nos Estados Unidors, o lutador conheceu a sua esposa, também armênia. Casados desde 2017, eles viram a família crescer no início desse ano.  “O nosso primeiro filho é o Ricardo. Uma bênção. Ele tem nome brasileiro. É Ricardo. Prometi que, se tivesse um filho homem, esse seria o nome para homenagear o meu amigo que me ajudou muito na minha chegada ao Brasil em 2011”, lembra com carinho.