Cotidiano

Funcionários da Cinemateca fazem ato em defesa da instituição 

Funcionários da Cinemateca Brasileira realizaram, na tarde de hoje (19), um ato em defesa da instituição, que tem o maior acervo audiovisual da América do Sul e enfrenta, atualmente, uma crise de gestão, capaz de resultar, segundo eles, em perdas irreversíveis para o patrimônio cultural do país. 

A mobilização também teve como propósito a reivindicação de direitos dos trabalhadores, já que os salários estão atrasados há três meses. 

Empregados já haviam deflagrado greve nesta quinta-feira (18), a fim de pressionar a administração a colocar os pagamentos em dia. Inicialmente, a paralisação está prevista para durar, no mínimo, até o dia 26, data em que está marcada a próxima reunião do Conselho Administrativo da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), que firmou acordo, em 2018, com o governo federal, para gerir o espaço até 2021. 

Em dezembro de 2019, porém, o então ministro da Educação, Abraham Weintraub, encerrou o contrato com a Acerp, afetando a Cinemateca Brasileira, a TV Escola e a TV Ines, que produzia conteúdos para pessoas com deficiência auditiva.

Acervo

O rombo no orçamento e a insegurança causada na estrutura da Cinemateca também têm ameaçado a preservação do acervo, que é composto por mais de 250 mil rolos de filmes e mais de um milhão de volumes que documentam a história do cinema nacional. Atualmente, a instituição tem uma dívida de R$ 450 mil com a Enel, companhia que fornece energia elétrica em São Paulo. 

A empresa deu um prazo até a próxima quinta-feira (25) para que a Cinemateca quite o débito. Caso a conta não seja paga, a energia será cortada, o que irá impedir o sistema de ar-condicionado do acervo de continuar funcionando. Conforme destaca a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), que ontem realizou uma reunião para discutir a crise da Cinemateca Brasileira, por iniciativa da Comissão da Educação, Cultura e Esportes, sem climatização apropriada e sem supervisão constantes, os filmes de nitrato de celulose, usados pela indústria cinematográfica até os anos 1950, ficam sujeitos à autocombustão. Ou seja, há perigo de incêndio no local, o que já aconteceu em décadas anteriores.

Diante dos problemas vivenciados pela Cinemateca Brasileira, instituições e membros da sociedade civil articularam uma rede para apoiar a valorização da entidade e de seu quadro de funcionários. O apoio surge de parlamentares da Alesp, na forma da Frente Ampla pela Cinemateca Brasileira, e de coletivos como o Mariana em Movimento, que atua no bairro Vila Mariana.

Procurada pela Agência Brasil para se posicionar sobre a manifestação, o Ministério do Turismo, ao qual a Secretaria Especial da Cultura está subordinada, disse em nota “que segue trabalhando para alinhar as ações e definir, dentro das competências institucionais, a forma ideal para reincorporação da Cinemateca à União”.

Por email, a Cinemateca informou que não vai se manifestar sobre o assunto. A Agência Brasil procurou a direção da Acerp, mas não teve retorno até a publicação desta matéria.