Entidades apontam “verdadeiro genocídio” de populações vulneráveis no país

Entidades apontam “verdadeiro genocídio” de populações vulneráveis no país

O Idec, ONG de Defesa do Consumidor, e mais 11 organizações publicaram uma nota pública de alerta para a sociedade sobre a responsabilidade de autoridades pelas mortes evitáveis por Covid-19. Nessa segunda-feira (18), mais de 100 outras entidades, incluindo o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, solicitaram inclusão no manifesto.

“A população está em risco e as políticas adotadas têm se mostrado ineficazes no combate à pandemia. São as ações, ou a falta delas, que serão diretamente responsáveis pela vida ou morte de milhares de brasileiros. Vamos seguir cobrando”, afirma Teresa Liporace, diretora executiva do Idec.

Mortes evitáveis

A nota é um alerta às autoridades e agentes públicos cujas decisões e atos administrativos estão colocando em risco a vida da população e causando mortes que poderiam ter sido evitadas, caso houvessem sido atendidas as recomendações e consensos científicos. Acusa o “verdadeiro genocídio” de populações mais vulneráveis que está curso no país.

Omissão do Governo Federal

Ressalta ainda as insuficientes medidas de isolamento social da população e destaca a omissão do Governo Federal em relação às evidências científicas sobre a doença, além de manifestar rejeição a qualquer ato legislativo ou medida que busque isentar agentes públicos de responsabilização por seus atos.

Leia o documento na íntegra:

“Todos os governantes são eleitos para cumprir as responsabilidades consignadas pela Constituição Federal e por constituições estaduais. Empossados, juram guardar e proteger vidas de seu povo sob as regras legais.

Princípio basilar deste país, as ações e omissões de todos seus agentes públicos geram responsabilidades de ordem civil, criminal, administrativa e política. É o que descreve a Constituição Federal em diversos de seus artigos, desde o que estabelece um Estado Democrático de Direito (art. 1º) até previsões específicas, como as contidas nos seus artigos 19, III e 37, § 6º.

O não atendimento, pelo Brasil, às diretrizes científicas de instituições nacionais e da Organização Mundial da Saúde para enfrentamento da pandemia gera responsabilidades. Decisões administrativas, assim como a ausência delas, devem ser motivadas e justificadas. Logo, contrariar consensos científicos em detrimento da vida de milhares de pessoas não pode ficar à margem da ordem jurídica.

POR ESSA RAZÃO:

ALERTAMOS que não estão sendo adotadas medidas de isolamento social adequadas, cientificamente comprovadas como política mais eficaz para salvar vidas nos locais onde há aceleração da disseminação de casos e de óbitos, bem como o esgotamento da capacidade do sistema de saúde.

DESTACAMOS a omissão deliberada do Governo Federal, que ignora as fartas evidências científicas para controle da pandemia. A ocorrência de casos e mortes no país, em diferentes regiões e intervalos temporais, exige coordenação nacional e requer execução descentralizada, pilares do Sistema Único de Saúde.

ACUSAMOS que está em curso um verdadeiro genocídio dos mais pobres, à medida que a epidemia avança nas periferias e favelas, nos asilos de idosos, nas aldeias, nas comunidades tradicionais e nos presídios. Medidas excepcionais e urgentes de proteção social, como alimentação, alojamento e serviços essenciais para as populações mais vulneráveis não foram efetivadas e as de auxílio financeiro estão sendo mitigadas.

DENUNCIAMOS que a insuficiência de leitos, de respiradores e testes, a falta de médicos e de enfermeiros, a exposição de profissionais de saúde a riscos e as condições inadequadas de trabalho são mais letais do que o novo coronavírus, para o qual não há tratamento ou vacina.

REJEITAMOS atos legislativos que busquem a isenção da responsabilidade de agentes públicos, manifestamente inconstitucionais e cujo controle será buscado perante a Justiça.

Entidades científicas e de defesa de direitos estão reunindo evidências e provas para a demonstração das consequências dessas irresponsabilidades, visando subsidiar iniciativas aptas a exigir a apuração de atos de improbidade e a reparação do dano coletivo. Todos têm direito de nascer, viver e morrer com dignidade. Vidas perdidas têm responsabilidades atribuíveis.”

Entre as entidades que assinam o documento estão: SBPC – Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência, Anistia Internacional Brasil, ABI-Associação Brasileira de Imprensa, Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro e Sociedade Brasileira de Bioetica. Novas adesões podem ser feitas em: https://idec.org.br/alerta-mortes-coronavirus.