Cotidiano

Pediatras pedem uso racional de exames por imagens em crianças

Uma campanha da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) alerta para os riscos da exposição excessiva de crianças e adolescentes a exames de diagnóstico por imagem como tomografias computadorizadas e raios x. A proposta é estimular o uso racional des...

Uma campanha da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) alerta para os riscos da exposição excessiva de crianças e adolescentes a exames de diagnóstico por imagem como tomografias computadorizadas e raios x.

A proposta é estimular o uso racional dessas ferramentas, contando com o apoio de pais e profissionais de saúde. Também há a preocupação, por parte de pediatras, em fazer com que técnicos responsáveis pela execução dos exames façam as adaptações necessárias aos equipamentos, adequando-os às características físicas desses pacientes.

tomografia exame

Campanha alerta para riscos da exposição excessiva de crianças e adolescentes a exames de diagnóstico por imagem como tomografias computadorizadas e raios x. Meta é estimular uso racional dessas ferramentas  (Arquivo/Agência Brasil)

“Para os médicos, os exames de imagem (raios x, tomografias, ultrassonografias e ressonância) são muito úteis à medicina e, por vezes, essenciais ao diagnóstico em adultos e crianças. Entretanto, alguns desses exames emitem radiação nociva à saúde e, por isso, a SBP, em parceria com outras entidades nacionais e internacionais, lança uma campanha que alerta sobre o uso racional dessas ferramentas. Além dos pediatras, os radiologistas e outros técnicos envolvidos no processo também devem ser bem orientados”, explicou a entidade, por meio de comunicado.

Para a presidente da SBP, Luciana Rodrigues Silva, é preciso cautela para não expor crianças e adolescentes a riscos desnecessários. Essa população, segundo ela, possui tecidos e órgãos ainda em desenvolvimento e apresenta, portanto, maior sensibilidade aos efeitos da radiação ionizante sobre o corpo humano. Quanto mais jovem for o paciente, maiores são as chances de desdobramentos adversos.

A orientação é que, durante a consulta, os especialistas façam uma investigação atenta e solicitem o exame apenas quando sinais e sintomas exigirem. Pediatras e demais médicos devem ainda alertar os pais sobre os riscos.

“Não são raros os casos em que os procedimentos decorrem de um pedido da própria família”, lembrou Luciana, ao destacar ser fundamental individualizar a situação de cada paciente, com bom senso crítico e uma boa hipótese diagnóstica, antes de solicitar exames complementares e, em muitas oportunidades, até discutir a possibilidade com o radiologista.

Números

Dados do Sistema de Informações Ambulatoriais do Sistema Único de Saúde (SUS) mostram que cerca de 350 milhões – 4% de todos os procedimentos médicos por imagem nos últimos dez anos – foram realizados em crianças e adolescentes de até 19 anos. Um ponto que chama a atenção, segundo a SBP, é que, embora o tamanho dessa população tenha diminuído no período, o volume de exames de diagnóstico por imagem aumentou em todo o país.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2008 havia no Brasil 67,9 milhões de crianças e adolescentes de 0 a 19 anos, algo em torno de 36% da população daquele ano. Já em 2017, o número passou para 63 milhões, baixando a representatividade do grupo pediátrico para 30% da população brasileira. Ao comparar os dois números, a queda foi de 7%.

Apesar da mudança no perfil demográfico, no caso das tomografias computadorizadas, o volume de exames realizados em pacientes com idade até 19 anos dobrou nesse intervalo de tempo, passando de 225,4 mil em 2008 para 466,9 mil no ano passado. As maiores variações percentuais foram observadas no Espírito Santo (aumento de 466%), no Rio de Janeiro (420%), no Acre (351%), em Santa Catarina (249%), em Mato Grosso do Sul (214%), no Amazonas (190%), em Alagoas (186%), no Paraná (167%), em Goiás e no Tocantins (ambos com 143%).

Já as unidades da Federação onde o aumento percentual foi menos significativo foram Paraíba (com alta de 48%), Distrito Federal (47%), Ceará (25%), Minas Gerais (13%) e Sergipe, onde não foi percebida mudança no número de exames realizados. Em São Paulo, estado que responde pela maior produção desse tipo de procedimento no país, o número cresceu 94%, saltando de 71.420 em 2008 para 138.838 em 2017.

“A SBP reconhece que uma parte dessa alta produtividade pode ser consequência da ampliação no número de equipamentos disponíveis para exames, em especial, nos estados menos desenvolvidos ou onde a rede pública recebeu investimentos mais consistentes na área. Contudo, argumentam os especialistas, o aumento proporcional é muito maior do que o crescimento da infraestrutura disponível, o que sugere a utilização dos procedimentos de modo não racional.”

De acordo com o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, atualmente existem 4.588 tomógrafos computadorizados em funcionamento no Brasil. Destes, 2.007 (44%) estão disponíveis no SUS, que atende a 160 milhões de brasileiros. No caso dos aparelhos de raios-X, são 25.243 unidades, das quais 10.286 (41%) estão na rede pública.

Os números mostram que a Região Sudeste, sozinha, concentra 40,5% dos tomógrafos computadorizados de todo o país. No caso dos equipamentos de raios x, o percentual chega a 41%. Só o estado de São Paulo concentra um quinto dos equipamentos de todo o país, com mais tomógrafos computadorizados (392) e raios x (1.900) no SUS do que a soma das regiões Norte e Centro-Oeste: 311 tomógrafos computadorizados e 1.775 raios x.

Calibragem

A médica radiologista Dolores Bustelo, uma das organizadoras da campanha, alerta que falhas na calibragem de equipamentos também constituem um problema frequente. Segundo ela, estudos confirmam ser possível reduzir as doses de radiação aplicadas durante os exames de tomografias computadorizadas, sem perder a qualidade do resultado e nem interferência no diagnóstico.

Ainda de acordo com a especialista, quando uma tomografia ou um exame de raio x são estritamente necessários para uma criança, devem ser usados aparelhos que permitam a sua adequação em função do peso do paciente e da extensão da área a ser analisada. Se bem manuseados, é possível reduzir significativamente a exposição à radiação.