Cotidiano

Ministério Público obtém sequestro de imóveis utilizados para túnel em presídio

O Ministério Público obteve na Justiça o sequestro dos imóveis usados pela facção que construiu um túnel para viabilizar uma fuga da Cadeia Pública de Porto Alegre, antigo Presídio Central. O plano foi descoberto no dia 22 de fevereiro de 2017, quando o túnel, que estava sendo escavado a partir de uma casa próxima ao presídio, foi descoberto.

A decisão unânime da Terceira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado atendeu ao recurso interposto pelo Projeto-Piloto da Promotoria Especializada no Combate aos Crimes de Lavagem de Dinheiro e Organização Criminosa.

A decisão determina o lacre nas vias de acesso à casa, que se encontra em área verde, e imediata notificação do Estado. Também está abarcado na decisão o sequestro de um prédio de apartamentos no município de Canoas, onde os operários da obra pernoitavam.

A casa havia sido comprada pela facção e foi paga em dinheiro e depois registrada em nome de uma pessoa com CPF inexistente. A conta de luz foi colocada em nome de outra pessoa, que não tinha conhecimento do fato.

Já o prédio de Canoas, segundo o que apontam as provas, pertence ao chefe da facção. O terreno foi registrado em nome de uma terceira pessoa, uma mulher, usada como laranja, que desconhecia o fato. A conta de luz do prédio foi colocada em nome de uma quarta pessoa, outra mulher, parente da companheira do chefe da facção.

Um homem, também integrante do grupo, administrava e explorava o imóvel economicamente, tratando dos aluguéis, contratando corretor para efetuar as locações, misturando os valores dos crimes com o dinheiro recebido pelos aluguéis, pagando contas do prédio e gerenciando as quantias recebidas. Com o sequestro do imóvel, os aluguéis serão depositados em conta judicial que deverá ser aberta para tal fim.

Em caso de condenação dos denunciados, os bens poderão ter perdimento definitivo em favor do Estado.

Denúncia

O MP, através da Promotoria de de Justiça Especializada no Combate aos Crimes de Lavagem de Dinheiro e Organização Criminosa, ofereceu em outubro denúncia contra Tiago Benhur Flores Pereira, Fábio Roberto Souza Nunes (conhecido como Kapa), Fabrício Santos da Silva (vulgo Nenê), Antônio Marco Braga Campos (de apelido Chapolim), líderes da facção “Os Manos”, por terem determinado a construção de um túnel de acesso à Cadeia Pública de Porto Alegre (antigo Presídio Central) para facilitar as suas fugas e de outros detentos (aproximadamente 1000 detentos). Todos foram indiciados pela autoridade policial e foram para o sistema penitenciário. Juliano Biron da Silva (o Biron), que não havia sido indiciado, também foi denunciado. Todos responderão por constituírem e integrarem organização criminosa e facilitação de fuga.

Benhur e Chapolim também foram denunciados por lavagem de dinheiro. Os crimes foram praticados com forte aporte financeiro e de recursos, materiais, veículos e bens imóveis, utilizados pela organização para a execução da obra. Os demais comparsas já haviam sido denunciados e condenados (presos em flagrante dentro da obra do túnel em fevereiro de 2017).

Benhur, Kapa, Carlos Augusto Michaelsen, Daniel dos Santos Conceição e Eliseu Dos Santos também foram denunciados por associação para o tráfico. Carlos Augusto Michaelsen também foi denunciado por pedofilia.

Condenações

Em julho, a 1ª Vara Criminal do Foro Regional do Partenon condenou outros nove réus pelos crimes de organização criminosa e promover ou facilitar fuga de presos. Eles foram denunciados porque participaram da construção do túnel.

A única condenada a cumprir pena em regime fechado foi Cíntia Santos de Paula, que recebeu cinco anos e nove meses de reclusão. Ezequiel Conceição (considerado o comandante desse grupo) recebeu cinco anos e sete meses de prisão; Carlos Augusto Michaelsen, Daniel dos Santos Conceição, Dalvan Vargas Durante, Eliseu dos Santos, Josué Conceição, Odair José Haag e Oseias Rodrigo Flores deverão cumprir pena entre de quatro anos e seis meses e quatro anos e 11 meses. Eles deverão cumprir a pena em regime semiaberto.

Foi determinado o perdimento de duas caminhonetes em favor do Estado, uma vez que foram utilizados na prática dos delitos. Eles não poderão apelar em liberdade.

Túnel Santo

Em 22 de fevereiro, após três meses de investigação, foi deflagrada a Operação Túnel Santo, realizada pelo Departamento Estadual de Investigação do Narcotráfico (Denarc) com acompanhamento do MP desde a fase inicial. A ação ocorreu antes do túnel chegar até o Presídio Central. Naquele dia, houve a prisão de oito pessoas.

Durante a instrução do processo, testemunhas e réus esclareceram que a intenção, com o túnel, era que 1.050 presos de uma facção criminosa fugissem. Faltava aproximadamente 40m para a conclusão do plano de fuga descoberto em fevereiro deste ano. Para não despertar atenção das autoridades, a terra retirada era armazenada dentro dos imóveis. Os ‘tatus’ eram pagos com, no mínimo, R$ 1 mil semanais cada um, além de moradia em outra cidade, transporte até o trabalho e alimentação durante a escavação, pagos pelos contratantes. O MP denunciou outras nove pessoas pela participação no mesmo crime, cujo processo segue em trâmite.