O crescimento da produtividade no mercado de trabalho nacional no período de 1995 a 2018 foi de apenas 1%, influenciado pelo setor de serviços, que responde por 70% das horas trabalhadas e do emprego. A estimativa é que, para este ano, a produtividade média deve recuar 0,7%. O estudo foi divulgado, hoje (10), pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
O trabalho levou em consideração o total de horas trabalhadas e a redução de jornada, em vez da população ocupada. “Fizemos um ajuste mais fino, mas o resultado é ruim”, disse à Agência Brasil a economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, e uma das autoras do estudo.
Segundo ela, essa metodologia é mais precisa no sentido de medir corretamente a produtividade do trabalhador pelo número de horas trabalhadas e não pela quantidade de trabalhadores no mercado. Embora a economia esteja voltando a ter crescimento este ano, a produtividade segue com índice baixo, disse.
De acordo com o estudo, somente por meio da elevação da produtividade do trabalhador se conseguirá aumentar a renda per capita, e gerar crescimento sustentável no país. Dos setores econômicos analisados nos últimos 23 anos, apenas a agropecuária manteve a produtividade por hora trabalhada em alta, com pico de 7,5% no período de 2007 a 2013, e média de 6,8% entre 1995 e 2018, apesar de ser um “setor que emprega cada vez menos gente”. Na indústria, a produtividade agregada mostrou queda de 0,2% nos últimos 23 anos.
Informalidade
Silvia Matos disse que desde a recessão, em 2013, o setor de serviços não recuperou a produtividade. “Tem mais gente trabalhando, mas o resultado dele tem sido muito baixo. E uma das explicações para isso é que você percebe em 2019 um crescimento muito forte do emprego e das horas [trabalhadas], mas empregos de muita informalidade”.
Em média, quando se compara um emprego informal com um emprego formal, o primeiro representa um quarto da produtividade. “A consequência natural é que a produtividade cresce muito pouco”, disse a economista.
A análise do ano de 2019 revela um crescimento forte da informalidade, de pessoas indo buscar empregos com rendimento muito baixo, como motoristas de aplicativos, entregadores de alimentos. “Mas elas precisam buscar algum rendimento. É o que é possível. Esse trabalho tem menos produtividade”, disse Silvia Matos.
Enquanto a empresa informal tem menos produtividade, a empresa formal consegue ter máquinas, equipamentos, consegue ter crédito, consegue inovar, disse Silvia Matos. “É um processo diferente”.
Tomando por base os resultados apurados no estudo, Silvia disse que, na média, o Brasil aumentou muito o total de horas trabalhadas. “Foi muito limão para pouca limonada. O resultado ficou muito aquém do que a gente gostaria”, disse.
De acordo com a economista, existe uma grande discrepância entre o uso do fator mão de obra e, de fato, o que está se observando em termos de Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todos os produtos e serviços produzidos no país).
Recuo
Para 2019, a economista disse que por mais que se fale de recuperação da economia brasileira, é difícil imaginar crescimento da produtividade. A expectativa é que a produtividade caia cerca de 0,7% no ano. Silvia reiterou que no setor de serviços, considerado o mais importante em termos de horas trabalhadas, a produtividade cresceu muito pouco. Nos últimos cinco anos compreendidos entre 2013 e 2018, ou seja, desde o início da recessão até o ano passado, a queda da produtividade no setor de serviços atingiu 1,5% ao ano. “Então, mesmo com um crescimento da agropecuária e até a indústria conseguindo recuperar um pouquinho, a produtividade agregada fica negativa, porque o peso dos serviços é muito elevado”. Entre 2013 e 2018, a produtividade agregada ficou em menos 0,4%.
Ela avalia que enquanto o setor de serviços não tiver um desempenho bom de produtividade, dificilmente o agregado vai ter, porque o setor de serviços tem peso grande na economia e representa 70% do emprego. A estimativa, entretanto, é que à medida que a economia for ganhando fôlego, é natural que as pessoas busquem emprego formal ou, pelo menos, de maior qualidade e produtividade. “E a gente pode caminhar para números positivos”.
Desafio
Apesar dessa questão conjuntural, Silvia Matos declarou que historicamente o desafio continua sendo fazer as reformas. “Porque, para crescer, a gente precisa ter ganhos de produtividade elevados e consistentes. E isso só se obtém com reformas. O setor formal também precisa ter ganhos de produtividade”.
A reforma tributária e a melhoria no ambiente de negócios são fundamentais nesse processo, defende a economista. Silvia disse que empresas que não são eficientes não deveriam se manter no mercado. “É melhor fechar uma empresa pouco produtiva e liberar aquela mão de obra e aquelas máquinas e deixar uma empresa mais produtiva cumprir esse papel”.
Ainda segundo a economista, a inovação é a chave principal, seguida do maior conhecimento por parte da mão de obra, para que essa possa se alocar em outros empregos. É preciso uma agenda de produtividade independente do PIB, porque o crescimento sem produtividade não vai ser sustentável, disse Silvia.
“O crescimento tem que vir e tem que ser eficiente”, disse Silvia, acrescentando que para ter elevação de salários é necessário ter ganhos de produtividade. “Os ganhos de produtividade alinhados permitem o aumento do salário real de fato, porque você está tendo um aumento real, o que, do ponto de vista social, é muito importante”.
A economista da FGV disse que a produtividade é a chave do crescimento econômico e do bem-estar, que permitem aumento dos salários também no longo prazo. E para que aja crescimento econômico, a economista defende a reforma tributária e a abertura econômica como extremamente importantes, porque pressupõem maior inovação, traduzida pela importação de máquinas, equipamentos e tecnologia. “Com redução do tributo consegue-se desonerar o investimento e as importações, em vez de dar subsídio à indústria, e se tem maior acesso às novas tecnologias”.
Além dos investimentos na área de infraestrutura, Silvia assegurou que é preciso o Brasil investir cada vez mais em educação, porque a agenda do crescimento econômico passa pela elevação do conhecimento. “Tem que espalhar o conhecimento, para que ele atinja a economia como um todo”.