Hoje quem conta a história não é o F. Quem fala agora é o Jorge. O amigo da praia, que nosso amigo chama de “Gremistão”. Tenho estado sozinho no Litoral desde que minha filha, Cláudia Berenice, me deixou para peregrinar pelo mundo. Neste domingo (14), quem fala sou eu porque o F. tirou uma folga e não estava muito a fim de escrever nem de narrar partidas de futebol.
Então, surjo como uma solução narrativa, mas também para trazer a verve gremista para o relato, ao mesmo tempo que preencho minha solidão. Eu gosto da solidão, como dizem os jovens, estou “de boaça” com isso, ainda que a possibilidade do amor, mesmo para um homem da minha idade, seja algo que eu nunca descarte.
Ontem mesmo saí com uma mulher. Foi uma apimentada noite de amor caliente. Voltei sozinho de carro na noite, ouvindo música na rádio. A combinação do som com o vazio da estrada, mais a maresia e a leve chuva, formavam um combinado que criavam uma espécie de transe a me suspender no ritmo do cosmos. Os astros flutuavam.
Acordei leve. Era dia de Grêmio e, nesses dias, minha herança charrua transformava a praia em um pedaço do Uruguai. Sou mesmo um “Gremistão”, não nego. Vesti o manto e fiz um chimarrão com aquela erva especial. Minha cuia é igual à do Luisito, logo tem a forma da saudade. Depois veio a carne e tudo mais…
A aterrissagem
Mas o jogo do Grêmio contra o Vasco, em São Januário, pela primeira rodada do Campeonato Brasileiro, acabou com meu estado espírito. Tanto porque o Grêmio, após o título gaúcho, não vem jogando bem, quanto porque a arbitragem foi um desastre. Vou até me ajeitar na cadeira para contar.
Primeiro o Grêmio. O time foi muito mal. O meio campo formado por Villasanti, Du Queiroz e Cristaldo foi superado pelo frágil time do Vasco. Desabastecido, Diego Costa pouco fez. O Grêmio terminaria o primeiro tempo sem chutar a gol.
Os dois gols do Vasco saíram em bobeiras do time. Primeiro aos 24, quando o Rossi cruzou, Marchesín rebateu, mas o David dividiu com o defensor do grêmio depois chutou com a bola no ar. A bola ainda desviou na defesa antes de entrar.
Depois, aos 36, o Rossi cobrou escanteio e Mateus Carvalho, de dentro da área chutou sem a bola quicar. No canto esquerdo do goleiro do Grêmio. Quase sempre que chutam ali ele leva, impressionante.
Aparece o árbitro
O juiz Flávio Rodrigues de Souza já havia se atrapalhado ao confirmar um pênalti para o Vasco, que nitidamente não fora. Por sorte o VAR lhe socorreu. Mas o pior viria depois.
Aos 42, o Grêmio fazia jogada pela esquerda e, quando a bola chegaria para o Diego Costa, Lucas Piton toca a bola com o braço aberto. O VAR chamou, mas a arbitragem concluiu que não houve pênalti. Nem a torcida do Vasco acreditou.
Mas depois teve erro para eles também. Já aos 3 do segundo tempo, Rossi cruzou da direita, Vegetti testou para baixo e obrigou Marchesín a uma defesaça. Mas, no rebote, o zagueiro Rodrigo Ely chuta o calcanhar do jogador do Vasco. Foi pênalti, admito. Nem juiz, nem VAR viram.
Segundo tempo amargo
Renato mudou depois do intervalo. Nathan Fernandes e Gustavo Nunes melhoraram a equipe. Aos 22, o zagueiro Gustavo Martins, que entrou no lugar de Kannemann, após ele ter uma concussão, arrematou um escanteio curto cobrado por Cristaldo para Cuiabano, que cruzou na pequena área.
Mas o Grêmio não teve fôlego para mudar o placar. Termina amargo o domingo. Veremos se no próximo jogo pelo Brasileiro, contra o Athletico, na quarta-feira (17), às 19h, na Arena, a coisa melhora.
O fim de noite
O vento está mais forte que o comum no Litoral. Da brisa da praia, passa-se a uma espécie de clima de filme de terror. Gosto da fantasia que o cerca, mas caem-me mal os sustos. Queria Cláudia Berenice por perto, com o requinte com que ela recusa a se explicar.
Vou na adega e abro um Malbec. A praia é bonita mesmo com nuvens carregadas. O frio aproxima-se. E eu sigo sozinho. E eu preciso dela, e precisar é o pior sentimento para um solitário.