CAMPEONATO GAÚCHO

Crônica de Caxias 2 x 1 Grêmio: um prefácio para um imortal

Na coletiva, Renato foi cobrado por reforços

Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA

E então se passaram quase dois meses do fim da temporada de 2023 do futebol brasileiro. E cá estou eu novamente, o autor que contou a trajetória de Grêmio e Inter ao longo daquele ano. Houve, deveras, muitos episódios – a frustração colorada na Libertadores, os Grenais, o amor de adeus breve dos gremistas a Suárez. Mas agora é verão e, em meio a tristes vendavais, há o sol do Gauchão.

Hoje, de onde e de quando falo, já tenho mais de mil histórias deste tempo. E agora quero compartilhar com vocês, amigas e amigos. Reuni jornadas como quem acumula muitos potes de mel e agora precisa adocicar o mundo a volta. Que com meus contos aqueles que se julgam muito sábios, se permitam rir de sua pueril tolice. E que aqueles que se julgam pobres, gozem de sua brava riqueza.

Neste primeiro jogo do Gauchão, entre Caxias e Grêmio, no Centenário, na Serra gaúcha, eu, professor aposentado, ainda estava na praia. Entre idas e vindas da chuva, eu e meu amigo Jorge, também professor aposentado, mas, acima de tudo, um Gremistão, preferimos ouvir o jogo no rádio, sentados em cadeiras metálicas de abrir, enquanto trocávamos palavras de pretensão lírica e filosófica, mas sempre em um clima praiano.

– O Gauchão está morto – lancei à baila, para provocar meu velho amigo. Enquanto o Juiz apitava o início da partida e, de pronto, o locutor começava a falar rapidamente, intensificando a imaginação do ouvinte em cada mísero lance.

– Sou tão velho que às vezes sinto que trago na memória todas as edições – respondeu Jorge, um homem magro e terroso, de olhos apagados, barba cinzenta e traços singularmente vagos.

Nesse meio tempo, Gustavo Martins subiu mais que a defesa do Caxias e, de cabeça, abriu o placar para o Grêmio. O jogo, apesar da emoção do narrador, era de média qualidade, típico de início de temporada, restando a impressão de que o gol gremista seria o primeiro de outros a surgir naturalmente. Na praia, no entanto, o magro e terroso Jorge vibrou como um trintão que volta a andar de bicicleta pela primeira vez desde a adolescência.

– Velho mas vibrante, meu caro Jorge. Bom vê-lo assim, como uma taça a transbordar. – reconheci, curtindo aquele ambiente, com os morros ao fundo, repletos de pequenas casas, tudo embebido em uma leve brisa.

– Preservar a memória, para mim não significa viver de pensamento e especulação. Aquele que ignora a morte, sabe-se imortal – respondeu o velho enquanto eu ouvia, achando melodiosas aquelas palavras, que nos aproximavam.

O jogo seguia. E o Caxias, como costumam fazer os times do interior em início de temporada, corria copiosamente. Poderia ter virado ainda no primeiro tempo. O Grêmio defensivamente começava a mostrar os recorrentes vazamentos defensivos e, na frente, somente tinha o estreante Soteldo que, com boa movimentação, vez que outra assustava o adversário.

Segundo tempo

Foto: Luiz Erbes/S.E.R. Caxias

Na etapa final, logo aos 15 minutos, o Caxias desarmou a saída de bola do Grêmio e inverteu a jogada até o lado esquerdo. A bola chegou em Vitor Feijão que, da entrada da área, chutou colocado. A bola foi na trave e, no rebote, Tomas Bastos fez de cabeça. Coragem premiada.

Depois, aos 31, o goleiro Caíque cobrou mal um tiro de meta, a bola foi dominada por Rodrigo Ely, que acionou o atacante Álvaro. Ele avançou e chutou rasteiro, na saída do goleiro gremista. Tive que provocar o Jorge.

– Por falar em imortal…

– Como eu disse, imortal é aquele ignora a morte, como o Grêmio, que volta e meia tem reveses. Perdemos o Suárez e estamos aí. O mesmo vale para mim. “Em breve serei todos, estarei morto”.

– Viveria tudo de novo?

– Transbordando a cada taça!

Enquanto o papo ganhava contornos de final catártico, o neto de Jorge, o Gabriel, brincava na areia. Ignorava umas letrinhas de plástico que havia dado a ele e se dedicava a construir um castelo. Mas logo depois já foi chutar a bola com os amigos e, por fim, se refrescar no mar.

Coletiva Renato

Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA

Na coletiva, Renato foi cobrado por contratações. Ele disse que o clube está se movimentando mas frisou: “Não podemos contratar errado”, dando a entender que a direção precisa ser seletiva, uma vez que o clube tem uma Libertadores pela frente e não muito dinheiro.

“Nosso torcedor tem na cabeça o Suárez”, disse Renato enfatizando a dificuldade que é trazer um atleta de nível parecido. O que se sabe, é que o próprio Renato passou a fazer parte das negociações, tendo ele próprio confirmado que telefonou para dois centroavante de renome. “Se um deles vier, a torcida e vocês da imprensa vão gostar”, concluiu.

O próximo compromisso do Grêmio é na quarta-feira (24), contra o São José. A partida será realizada às 21h30, na Arena do Grêmio.