CAMPEONATO GAÚCHO

Crônica de Juventude 0 x 0 Grêmio: impressões das estrelas apagadas

O valente Juventude fez um confronto à altura com o Grêmio. Ficou tudo para a Arena, no próximo sábado.

Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA
Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA

A casa está cheia para o feriado. Lygia, eu – F. – e a gurizada. Nem todos vivem a religião, mas todos celebram o encontro. O sábado (30) é uma corda bamba entre a sexta santa e o domingo da ressurreição. E durante a tarde estamos todos nos equilibrando assistindo Juventude e Grêmio, no primeiro jogo das finais do Gauchão. Uns com mais, outros com menos atenção.

Eu, por exemplo, estou no sofá com o note no colo. Nesta idade, estou numa fase em que certa monotonia, repleta de silêncios, prevalece. Mas encontro nas palavras, no pensamento e no convívio com meus próximos, o sopro vital que me acalenta. Abro meu email e mais alguém se soma. Cláudia Berenice, a filha de Jorge, meu amigo gremistão da praia. Ela me manda um escrito em que relata suas viagens, desta vez para São Paulo, coração produtivo do País.

A princípio penso que o destino escolhido não combina com seu estilo impressionista/especulativo. Mas, talvez por isso, fico curioso com a São Paulo de Cláudia. Abro e leio, enquanto começa o futebol na TV.

C.B.: Olá Professor,

Passei cinco dias em São Paulo. Meu corpo passou por entre mil multidões, então a passagem é a história de muitas passagens de minha carne. Mas algo diferente se passou a meu pensamento. Ele aparecia nos intervalos, nas imersões.

Enquanto isso transcorria o primeiro tempo, no Alfredo Jaconi. Relato para ti, leitor (a) (e). Foi uma partida muito estudada. Grêmio e Juventude alternavam momentos de predomínio. Roger, técnico do Juventude, assim como no confronto contra o Inter, mostrou muito valor na montagem da equipe. O Grêmio pouco fazia. O primeiro tempo terminou 0 a 0, com poucas chances, algumas boas para o Grêmio, mas com muita disputa. Volto à correspondência.

C.B.: Quem caminha na Av. Paulista vê a classe trabalhadora para lá e para cá, pegando ônibus, metrôs. Sempre muita gente. Nossa gente. Quem entra nos museus – Masp, Moreira Salles, – encontra um silêncio em meio a esse barulho todo. Nessas horas penso, tentando entender, mas penso lá fora, lá atrás.. é.. lá atrás.. lá atrás me impressiona.

A partida retorna do intervalo. E seguiram-se 45 minutos mais acréscimos de muito equilíbrio. O Juventude, com momentos de marcação alta, poucos chutões, fez um confronto ousado e honroso contra o Grêmio. O jogo teve muito choque físico, típico de uma final.

O jogo da volta é no sábado que vem (6), na Arena, às 16h30. Antes, o Grêmio tem compromisso pela Libertadores. O Tricolor enfrenta o The Strongest na altitude de La Paz. A partida será disputada na próxima terça-feira (2), às 21h. Cláudia conclui.

C.B: Na Liberdade, penso na Liberdade enquanto como fritura com caldo de cana. Sempre cedo à doçura, sou submissa a ela. Ando na noite satânica. E entendo um pouco mais sobre Deus. Olho para cima não vejo estrelas. Ninguém as fez. A que horas elas chegam? Para vê-las terei de partir, logo eu as faço.

Até mais, Professor. C.B.

Aqui e em São Paulo, não foi um sábado estrelado. Aqui no sentido desportivo, lá geográfico. Não bastasse a corda bamba da vida, entre a cruz e a ressurreição há uma feia fumaça ofuscando todo brilho. Cláudia bebe vinho e olha luzes amarelas. Eu me volto a minha gente.