CAMPEONATO GAÚCHO

Crônica de Grêmio 2 x 0 Brasil de Pelotas: a partida

O Grêmio, que não tem Copa do Brasil no meio de semana, enfrenta o Caxias nas semifinais do Campeonato Gaúcho.

Foto: Lucas Uebel / Grêmio FBPA

Domingo de sol. Caminhei pela rua com Lygia e vi pessoas nos bares. Ela parou na vitrine de um relicário e, vidrada, ficou ali por uns minutos. Conhecendo-a é provável que pensasse o quanto do universo de vida havia naqueles lustres, esculturas, móveis, louças, espelhos, velhos CDs, Filmes, DVDs… Tomamos um café como se a terra inteira, ou a camada humana dela, estivesse condensada naquelas pequenas salas unidas por um estreito corredor.

Chegamos em casa no fim da tarde. Liguei a TV e o notebook. Na TV vi que haveria jogo entre Grêmio e Brasil de Pelotas, na Arena, pelas quartas de final do Campeonato Gaúcho. No notebook abri meus e-mails (tinha ainda esse costume). Entre os primeiros vi que Cláudia Berenice, a enigmática filha de Jorge, meu amigo gremistão da praia, havia me mandado uma correspondência eletrônica. Cliquei.

“Olá Professor, lhe digo olá pois nossa conversa é suspensa no tempo. Não sei quando você lê o que lhe mando, assim como não sei se estou fora deste lugar para o qual parto. Sim, estou deixando o Rio Grande. Agora fisicamente, pois meu corpo está sempre atrasado à minha cabeça e essa à minha alma, ao ponto de desconhecê-la”.

Enquanto isso começava o jogo na Arena. O comentarista dizia, sobre os primeiros minutos: “O Grêmio tem a bola mas não a controla bem. A partida tem muitos erros de passe e o Tricolor tem a vantagem que os visitantes pouco se arriscam ao ataque. Até aqui o maior perigo causado pelo Grêmio foi um pedido de pênalti seguido de gol impedido, que o árbitro acertou ao dar lance a favor do Brasil de Pelotas. Volto para a carta de Cláudia.

“Talvez minha alma já tenha até voltado. É que quando ela saiu não deixou rastro, tampouco mapas. Deixou apenas o buraco entre mim e o outro lado, ou entre mim e eu. O mim olha para baixo e o buraco lhe corrói a barriga. O eu deve estar dando risadas, mal sabe que sem mim voa com asas de cera. Ou que ele saiu por aí atribulado a procura de mim”.

Até que, depois de muitos erros, aos 44, Mayk encontrou Cristaldo sozinho na intermediária e ele chutou dali mesmo. Um golaço. Que, mesmo com o Tricolor mal no jogo, se alguém podia estar vencendo era o time da casa. A partida foi para o intervalo. E eu me voltei para a carta.

“Não, não falo de outra pessoa. Esta carta não é uma dor de amor. Amor… que dizer do amor? Talvez que se aprenda com sua falta até que ele de súbito transborda. Mas também não é um cisão individual, isso que chamam de ‘neurose’. Não escondo desejos, taras.. Apenas lhe reporto uma visão, é, uma visão que a distância do eu me deu”.

Segundo tempo

Recomeçou o jogo. O Grêmio voltou melhor. Teve uma série de chances nos primeiros minutos da etapa final. Até que aos 23, Gustavo encontrou Pavón, que deu um gancho, dentro da área, para João Pedro. Ele cruzou para o meio, mirando Diego Costa. A bola rebateu, mas sobrou para o centroavante, que, na segunda tentativa, estufou as redes. Não havia mais nada a disputar.

O Brasil conseguiu uma bola na trave logo após o gol. Mas houve tempo apenas para um expulsão de um jogador do time de Pelotas. Bruno Reis acertou Gustavo Nunes com o cotovelo. Mas foi isso.

O Grêmio, que não tem Copa do Brasil no meio de semana, enfrenta o Caxias nas semifinais do Campeonato Gaúcho. A primeira partida será na Serra gaúcha, com a decisão na Arena.

“Parto para voltar sem necessariamente me mexer, pois tudo, o ar e o pensamento, as saudades e a terra, as correntes marítimas e elétricas são a mesma coisa. Nós é que nos descompassamos. Pensei nisso enquanto lhe escrevia, Professor, não é muito estilo essa coisa ‘coesa’ e ‘clarividente’, mas temi lhe afugentar. Prometo trazer relatos do estrangeiro. C.B”.

Ansioso pelos contos de Cláudia. Como serão as andanças de alguém tão habituada à introspecção.. É isso que lhe respondo, que vá atrás do que quer que queira.