A redução de recursos para a ciência no Brasil foi hoje (23) o centro das discussões no painel Defesa das Instituições Públicas de Geologia e da Ciência Brasileira, no 49º Congresso Brasileiro de Geologia, no Centro de Convenções SulAmerica.
No evento, o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro Moreira, ressaltou que o orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações está em queda desde 2014. Moreira prevê que o montante para 2019 deve continuar na tendência de redução “Estamos hoje com um terço do que tínhamos para investimentos nesse ministério há oito anos. Essa situação é catastrófica”, disse.
Sobre a questão, o físico destacou que, a queda de recursos, coloca em risco a concessão de bolsas de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Segundo ele, se for mantida a quantidade de editais no nível basal, as bolsas do CNPq deverão ir até setembro ou outubro de 2019. “A nossa briga agora está no Congresso Nacional para que a lei orçamentária, que até o dia 31 de agosto o governo tem que mandar para o Congresso, a gente faça uma pressão para que esses números aumentem”.
Recentemente, o presidente do Conselho Superior da Capes, Abílio Baeta Neves, disse, em carta ao Ministério da Educação, que se o texto fixado para o órgão no ano que vem for mantido, 93 mil bolsas seriam suspensas a partir de agosto de 2019. O ministro da Educação, Rossieli Soares, reafirmou que as bolsas de estudos de pós-graduação da Capes serão mantidas em 2019. No último dia 6, foram liberados R$ 296,61 milhões para Capes.
Pós-graduação
Apesar das dificuldades enfrentadas pelo setor nos últimos anos, o professor Ildeu Moreira apontou que a pós-graduação cresceu no país. “Há 20 anos, vários estados não tinham nenhum curso de pós-graduação. Hoje, todos os estados brasileiros têm, evidentemente, às vezes com qualidade diferenciada. A região amazônica deveria ter mais para aproveitar toda a biodiversidade que temos aqui”, disse.
No ano passado, conforme o físico, o Brasil formou 58 mil mestres e 20 mil doutores, número considerado significativo na América Latina. No entando, quando a comparação é feita com o número de habitantes, é inferior ao de países avançados. “O número de cientistas brasileiros por um milhão de habitantes ainda é muito pequeno, muito menor, em uma ordem de grandeza de outros países, mas um desafio que temos agora é que estamos formando doutores que estão ficando desempregados. Esse é um desafio que o país tem que encarar. Não podemos parar de formar pessoal qualificado”, afirmou.
Para o presidente da SBPC, o desafio central é a qualidade das escolas do país. Na visão dele, é preciso aproximar crianças e jovens da ciência. “Melhorar a educação básica brasileira é um desafio fundamental e que a gente deixa a desejar”, observou.
Museu Nacional
O diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, lembrou que a instituição, que completa este ano o bicentenário, precisou recorrer a um sistema de financiamento coletivo para reabrir, em julho, a sala dos dinossauros, com a volta para o local do maior dinossauro já montado no Brasil, o Maxakalisaurus topai. Kellner destacou ainda o contrato assinado pela instituição com o BNDES que prevê investimento de R$ 21,7 milhões para o plano de revitalização do prédio histórico, acervo e espaços de exposição. “Ficar só chorando não adianta. A gente precisa pensar em ações”, disse. Ao falar sobre o assunto, apresentou uma reportagem da Agência Brasil no telão.
O diretor reafirmou que o museu busca a liberação de um terreno para construir novos espaços e expandir as áreas de exposições e de preservação do acervo. O assunto está em discussão na Secretaria de Patrimônio da União. O projeto prevê o envolvimento de moradores de São Cristóvão, bairro onde o Museu Nacional está instalado, que poderiam participar de atividades no local.