ARTIGO | VIAGENS E TURISMO

Sair por aí...

Texto fala sobre viajar, sair da rotina. Uma vida que para alguns é necessidade e para outros libertação

Foto: Luis Eduardo de Oliveira / @islu.ed
Foto: Luis Eduardo de Oliveira / @islu.ed

Olhou no horizonte e viu o mundo, distante. Havia a natureza, em climas quentes e frios, dunas de areia e montanhas cobertas de gelo. Lagos, oceanos. Florestas. Em cada lugar, cabia de uma forma, havia um prazer a extrair dali. Era preciso ir, e aquilo pulsava nele, e o fazia perder o controle. Queria partir, se reunir com os demais. Conspirar. Respirar junto.

Abandonar a cidade, que vivia o horror. Era como se aquele mundo pouco a pouco se desencantasse, e sobrevivesse apenas em seus pequenos cantos, seus pontos de resistência. A qualquer momento poderia acontecer um novo absurdo, talvez até um bombardeio. Quem duvida? A dor trazia uma lembrança não se sabe do quê. De um tempo que nunca viveu, mas em que era feito da mesma matéria de tudo que existe.

Então foi. Vento no rosto, cantos, palavras, gostos. Viajar melhorava o sabor de tudo. Parava nesses restaurantes de beira de estrada, que têm esses lanches e cafés. Nas cidades que chegava experimentava os pratos locais. À noite buscava o beijo na boca, que às vezes acontecia. Sim, esse ainda era o melhor jeito de conhecer alguém. E de colecionar histórias.

A viagem e os encontros às vezes faziam a pessoa se desconhecer. E seguia em frente, perdido de si.

De si e do poder. Havia algo legal em chegar nos locais e ser o estrangeiro. Aquele que, além de estranhar tudo, não era dono de nada. Não tinha cargo, status, história. Apenas vagava entre a multidão das cidades grandes e do silêncio dos vilarejos. Era quando via também, cada vez mais, seu lado de dentro, que, conforme andava, se confundia com o lado de fora.

A novidade do amanhã era um aprofundamento em algo primitivo. Tudo o que o estimulava representava um mergulho com alto poder de destruição interna. O que faz efervescer os questionamentos.

Como seria quando voltasse? Haveria diferença entre ir e voltar? E, seria possível andar como se sempre estivesse viajando? O mundo atual tem disso, desde os mochileiros até os refugiados políticos, econômicos e climáticos, que, expulsos do lar, vagam pelo mundo em busca de reviver uma lembrança cada vez mais remota de uma casa.

Além disso, qual a importância do contrário da peregrinação: o retiro? Aquele momento de introspecção, de repensar, refletir, para então fazer novos planos. Quem ainda pode fazer essa escolha e com qualidade? É verdade que as capitais do mundo estão cheias de apartamentos ocupados por apenas uma pessoa, que passam dias e dias sem ter um toque ou apenas uma conversa, mas.. todo retiro não deveria ter seu fim? seu momento do encontro?

Pois desejar e sonhar têm disso, é algo que se precisa reabastecer. Como tudo que demanda energia. Você não se afasta para ali permanecer para sempre. Parece muito mais um efeito colateral negativo de nossa vida pós-moderna: a qualidade de nossa solidão.

Pensou nisso e viu o mundo. Havia uma brisa fria no rosto. Imaginou-se um cavalo (Sim, parece engraçado, mas a gente pode se imaginar um cavalo se quiser). Então, antes de retomar a caminhada, escreveu alguns versos simples (Sim, porque versos simples também valem):

Cavalo /Galopa / Não vem / De lugar nenhum /Não vai / Para lugar algum / Cavalo / Galopa / E galopa / Com a força / De não ter / Início / Nem fim…