A UFRGS inaugurou na tarde desta segunda-feira (14), o Laboratório de Biossegurança NB3 do ICBS (Instituto de Ciências Básicas da Saúde). Trata-se do primeiro laboratório deste nível na Universidade. Ele terá característica de atendimento multiusuário, o que permitirá o seu uso por diversas instituições do Estado gaúcho.
O Laboratório ocupa 80 metros quadrados no 4º andar da Ala Sul do novo prédio do ICBS, no Campus Saúde (Rua Ramiro Barcelos nº 2600, Porto Alegre). O espaço está pronto desde maio passado, entretanto a inauguração precisou ser adiada em decorrência das enchentes. Agora, a previsão é de que pesquisadores da UFRGS e de outras instituições, até mesmo empresas, poderão utilizar o espaço a partir de novembro para desenvolver projetos de pesquisa.
Para a reitora da UFRGS, Marcia Barbosa, o novo espaço é uma grande oportunidade de fazer perguntas disruptivas e responder a questões de pesquisa que antes não eram possíveis por falta de equipamento qualificado.
“Passamos a trabalhar com o nível de elementos biológicos que não podíamos antes e isso abre toda uma perspectiva de fazermos uma ciência que saberíamos fazer, porque temos a competência acadêmica para isso, mas que não tínhamos instrumentos para tal”, frisa Barbosa.
A coordenação do projeto é do professor Paulo Michel Roehe. Há mais de 20 anos sonhando com esse Laboratório, Roehe vivencia a inauguração da mesa de autoridades.
“Mesmo aposentado, estarei acompanhando os trabalhos ali desenvolvidos e espero que toda a comunidade do Rio Grande do Sul faça o melhor uso dessa estrutura”, diz Roehe.
Assim, com o novo NB3 da UFRGS, o Rio Grande do Sul passa a contar com três laboratórios com ambiente altamente controlado e fechado. Os outros dois estão na PUC e na UFSM, este último destinado principalmente para estudos de Neuroimunologia, ambos com apenas uma sala de trabalho.
Estrutura do Laboratório NB3
O Laboratório NB3 dispõe de quatro salas de trabalho: uma para manipulação de vírus, uma para bactérias e duas para manipulação e alojamento de animais. O mais importante deste espaço é a estrutura adaptada para o desenvolvimento de pesquisas com microrganismos classificados como Nível de Biossegurança 3.
Dessa forma, em uma câmara com pressão, temperatura e umidade controlados existem equipamentos, cabines de fluxo, freezer -80° C, centrífugas, raque para alojamento de animais, entre outros. Estes recursos permitirão estudar vírus como HIV, febre amarela, influenza A (H5N1), dengue, Zika, Chikungunya, encefalite equina e bactérias como o bacilo de Koch (causador da tuberculose).
Novos estudos da UFRGS
Essa infraestrutura permitirá o desenvolvimento de projetos inovadores. Entre eles o teste de novas moléculas, medicamentos, insumos e vacinas, além de estudos de como esses microrganismos atuam no organismo humano e animal causando doenças.
Além disso, o Laboratório permitirá aos pesquisadores do Estado produzir conhecimento que incentive o desenvolvimento da indústria farmacêutica, por exemplo. Nesta área o Rio Grande do Sul ainda é incipiente.
Proteção à saúde pública
Segundo Ilma Brum, diretora do ICBS, o Laboratório NB3 representa não apenas um avanço na infraestrutura científica da UFRGS. Para ela o NB3 é um importante recurso para a proteção da saúde pública e a segurança da comunidade local e além dela.
“Até então não era possível realizar pesquisas deste nível na Universidade. Agora, estarmos preparados para novas ameaças de agentes pandêmicos e poderemos contribuir para a rápida detecção, pesquisa e desenvolvimento de estratégias de contenção e tratamento”, descreve Brum.
Assim, as áreas de microbiologia, imunologia, bioquímica, farmacologia, neurologia, biotecnologia, entre outras, serão beneficiadas com o início das atividades do Laboratório NB3.
“Esses microrganismos têm grande importância em saúde pública, desta forma poderemos contribuir de maneira mais concreta para a compreensão dessas doenças e, talvez, até para melhorar o seu controle e/ou tratamento”, elucida Ilma.
Novas possibilidades
Além disso, ela diz que este é o único Laboratório desse nível em todo o Estado com um espaço dedicado para experimentos com animais de laboratório e um sistema de tratamento de efluentes integrado.
“O NB3 é uma adição crucial ao cenário científico local, oferecendo um ambiente ideal para pesquisas de alto nível em microbiologia e virologia”, explica ela.
Assim, os pesquisadores poderão realizar neste laboratório experimentos in vitro e in vivo que não era possível realizar com microrganismos de classe de risco 3, tais como SARSCoV-2 ou microbactérias.
Por exemplo: pesquisas que avaliam o efeito da infecção por coronavírus ou pelo vírus influenza em aspectos da memória. Ou ainda na ativação da resposta imunológica, ou mesmo em processos bioquímicos da célula infectada. Outra possibilidade são experimentos que avaliam atividade antiviral ou antimicrobiana. Entre elas testagem de novas moléculas desenvolvidas, reposicionamento de fármacos, desenvolvimento de vacinas.
Oportunidades
Aprender a trabalhar neste ambiente também será uma oportunidade única para a comunidade universitária. No espaço irão atuar dois servidores técnicos treinados, mas estudantes e professores serão capacitados para trabalhar no NB3 de acordo com cada um dos projetos.
Investimento e futuro
O investimento total é de R$ 4,5 milhões vindos do edital 08/2021 da Fapergs (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul) e do Governo Federal.
Odir Dellagostin, diretor-presidente da Fapergs, pontua que com a pandemia de covid-19 identificou-se a necessidade de mais laboratórios neste nível de segurança para entender melhor a dinâmica do vírus.
“Por isso, redirecionamos recursos para a construção de um laboratório NB3 que fosse multiusuário que atendesse o Estado. A proposta mais adequada para a nossa necessidade foi apresentada pelo ICBS da UFRGS que deixa o Rio Grande do Sul mais bem preparado para realizar estudos e pesquisas com patógenos com alto nível de segurança”, salienta ele.
O governador Eduardo Leite, por fim, esteve presente na inauguração. Para ele, o estado gaúcho é privilegiado por contar com alto nível de instituições públicas e privadas de ensino.
“É nossa função viabilizar recursos para financiar e dar oportunidades para que os bons projetos se tornem realidade. Agradeço em nome do povo gaúcho pela ousadia de todos que pensaram neste projeto, e o nosso compromisso é para que essa ousadia seja aproveitada por todos”, afirma Leite.
Além disso, ainda em novembro, o ICBS pretende inaugurar mais oito laboratórios no Centro especializado de Análises Biológicas.