Referência em transplantes, a Santa Casa de Porto Alegre celebrou nesta terça-feira (17) os 25 anos do primeiro transplante de pulmão intervivos realizado fora dos Estados Unidos.
Liderado pelo cirurgião José de Jesus Camargo, o procedimento inédito abriu caminhos para que outros centros no Brasil e no mundo realizassem transplantes pulmonares com doadores vivos, oferecendo uma nova esperança de vida para pacientes com doenças pulmonares graves.
O primeiro paciente a receber partes de pulmões de pessoas vivas foi o curitibano Henrique Busnardo, com apenas 12 anos na época. Em 1995, Henrique contraiu bronquiolite obliterante, doença que obstrui os bronquíolos, dificultando a expiração e provocando o aumento progressivo do volume pulmonar, a ponto de deformar a caixa torácica.
“Com apenas 12% da capacidade pulmonar, usando oxigênio de forma contínua, ele já não suportava deitar e durante dois anos só conseguia dormir agachado”, lembra o médico.
No dia 17 de setembro de 1999, três salas do Pavilhão Pereira Filho receberam Henrique e seus pais Márcia e Amadeu. Os procedimentos duraram mais de cinco horas e envolveram cerca de 20 profissionais da Santa Casa.
Entre eles, os cirurgiões José Carlos Felicetti e Spencer Camargo, os anestesistas Fábio Amaral Ribas e Artur Burlamaque, as médicas Beatriz Moraes, Gisela Meyer e Marlova Caramori, além da equipe de enfermagem.
Como explica Camargo, no procedimento foi realizada a retirada da metade inferior do pulmão direito do pai e a metade inferior do pulmão esquerdo da mãe, para substituir os pulmões destruídos do filho. Com o sucesso do procedimento, devolvendo a capacidade respiratória, Henrique voltou a ter uma vida normal e hoje mora em Curitiba, onde se formou em Direito.
Transplante intervivos de pulmão
Desde 1999 foram realizados 40 transplantes desse tipo na instituição, sendo 37 deles em crianças ou adolescentes.
Segundo o cirurgião, esse tipo de transplante, com todos os desafios envolvendo duas cirurgias em pessoas sadias (os doadores), é considerado como uma “alternativa de exceção”, sendo empregado somente em pacientes graves que não têm condições de sobreviver à espera de um doador cadavérico, cuja estrutura do tórax precisa ser compatível com a caixa torácica de uma criança.