Uma pesquisa brasileira inédita, publicada na revista Nutritional Neuroscience, trouxe uma nova perspectiva sobre como a vitamina D pode influenciar o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade).
Em resumo, os resultados da pesquisa não apoiam a ideia de que a deficiência de vitamina D esteja na via causal do TDAH, abrindo caminho para novas pesquisas e discussões sobre a influência de diferentes aspectos biológicos nos variados sintomas do transtorno.
A pesquisa contou com a colaboração de pesquisadores do HCPA (Hospital de Clínicas de Porto Alegre) e do Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular, ligados à Ufrgs (Universidade Federal do Rio Grande do Sul ); dos Programas de Pós-Graduação em Biotecnologia e em Ciências Médicas da Univates (Universidade do Vale do Taquari)e do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (Universidade de São Paulo).
A pesquisa é assinada por Cibele Edom Bandeira, Fernando Godoy Pereira das Neves, Diego Luiz Rovaris, Eugenio Horacio Grevet, Monique Dias-Soares, Caroline da Silva, Fabiane Dresch, Bruna Santos da Silva, Claiton Henrique Dotto Bau, Flávio Milman Shansis, Júlia Pasqualini Genro e Verônica Contini, que liderou o estudo.
“Esse estudo teve início durante o mestrado, no PPGBiotec, do psiquiatra Fernando, que investigava o impacto de genes relacionados à rota de metabolização da vitamina D em sintomas comportamentais de indivíduos adultos, recrutados na comunidade acadêmica da Univates. A partir de alguns resultados que apontavam um efeito dos genes investigados em sintomas de impulsividade e hiperatividade, nasceu a ideia de investigar se esses mesmos efeitos seriam observados em uma amostra clínica de pacientes com TDAH”, explica Verônica.
O que a pesquisa busca responder?
O estudo investigou como os genes envolvidos na metabolização da vitamina D, um hormônio importante para a saúde dos ossos e do sistema imunológico, poderiam influenciar os sintomas do TDAH, com foco nos subtipos mais comuns: o TDAH predominantemente desatento, o TDAH hiperativo-impulsivo e o tipo combinado.
Os pesquisadores calcularam um “escore poligênico” para os níveis de vitamina D, que leva em consideração a soma das variações genéticas que afetam a quantidade desse hormônio no sangue. Essa abordagem permite identificar uma predisposição genética para níveis mais altos ou mais baixos de vitamina D.
A partir dessa análise, foi observado que pessoas com menores escores poligênicos, ou seja, com tendência genética a ter menos vitamina D, apresentavam mais sintomas de desatenção. Isso indica que, embora a vitamina D não seja a causa direta do TDAH, a influência genética nos seus níveis pode estar relacionada à gravidade dos sintomas, particularmente no caso do TDAH com predomínio de desatenção.
“Os níveis de vitamina D podem estar associados aos sintomas do transtorno por meio de fatores genéticos comuns”, afirma Cibele.
Os resultados variam conforme o subtipo de TDAH. Para indivíduos com TDAH predominantemente desatento, níveis mais elevados de vitamina D estão ligados à redução dos sintomas de desatenção.
No entanto, para aqueles com TDAH hiperativo-impulsivo, os níveis elevados de vitamina D não mostraram a mesma correlação positiva com a diminuição da hiperatividade e impulsividade.
“Para as pessoas com o tipo hiperativo-impulsivo, maiores escores de vitamina D estavam associados a uma piora dos sintomas”, explica Cibele. “Quando analisávamos os indivíduos com TDAH em conjunto, sem considerar o subtipo, não encontrávamos correlação significativa com a vitamina D. Esses dados são bastante interessantes e podem ajudar a compreender melhor os detalhes desse transtorno”, conclui.
Além disso, o estudo também avaliou os níveis plasmáticos de vitamina D e os sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade de 319 voluntários da Univates, confirmando um efeito de genes envolvidos na rota da vitamina D nos sintomas de hiperatividade e impulsividade desses indivíduos.
Em conjunto, os achados do estudo sugerem que genes relacionados à vitamina D podem ter um papel na gestão dos sintomas do TDAH, tanto em indivíduos com o transtorno quanto em indivíduos sem um diagnóstico clínico. No entanto, os autores reforçam que a vitamina D não deve ser vista como um tratamento isolado.
A pesquisa aponta que ela pode complementar tratamentos convencionais, como medicamentos e terapia psicológica.