O ministro da Justiça Sérgio Moro abandonou o governo Jair Bolsonaro nesta sexta-feira (24), após a exoneração do diretor da PF (Polícia Federal) Maurício Valeixo. Moro fez um levantamento de sua gestão, desde que assumiu o cargo. Forneceu dados a respeito de queda na criminalidade do país e contou o motivo pelo qual se obriga a pedir demissão: “Sinto que tenho o dever de proteger a Polícia Federal e o Estado Democrático de Direito”.
Conforme relato do agora ex-ministro da Justiça, o único cargo definido por ele na corporação foi o de Valeixo, e que nenhum outro, como de superintendentes, contou com sua interferência. Destacou que sempre orientou, na composição das equipes, escolhas baseadas em perfis técnicos e não políticos. Por isso, quando no segundo semestre do ano passado, o presidente Bolsonaro começou a interferir na composição do órgão, primeiro com a substituição do superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, ele se opôs à troca. Mas cedeu em razão de uma conversa com o próprio Ricardo Saadi, que teria confirmado que gostaria de deixar o posto.
“Eu não tenho tenho problema em trocar nomes, mas eu preciso de uma causa, uma insuficiência de desemprenho”, o que, conforme Moro, não ocorreu em relação a Valeixo. De acordo com o ex-ministro, ele sempre recebeu informações positivas a respeito do trabalho executado pela Polícia Federal. Moro relata que Valeixo contou sobre um telefonema que recebeu do governo,na noite de quinta-feira (23), informando que o diretor seria exonerado “a pedido” e se ele “importaria”. Moro afirmou que além de tudo, a exoneração de Valeixo foi “ofensiva”.
Para o ex-ministro, a exoneração ainda significa “a violação de uma promessa” feita pelo presidente Jair Bolsonaro durante tratativas para que aceitasse o cargo de ministro da Justiça, destacando que recebeu a palavra do presidente de que teria carta branca para escolher os nomes da sua equipe. Acrescentou que nas tratativas, nunca solicitou um cargo no Supremo Tribunal Federal, mas sim garantias para a sua família no caso de não permanência na pasta.
Intervenção política na PF
Em conversa recente, após Bolsonaro externar desejo de substituições na Polícia Federal, Moro afirmou que se trataria de intervenção política, e que o presidente confirmou que “seria sim”. Revelou que o presidente declarou que gostaria de “ter alguém do contato pessoal dele [na Polícia Federa], a quem ele pudesse ligar, receber informações”, o que, avaliou o ex-juiz, “realmente não é o papel da Polícia Federal”.
Não podendo ir contra a substituição do diretor da PF, o ex-ministro afirmou que teve medo de “não poder dizer não” em outros temas relacionados à Justiça e ao combate à corrupção. “Sinto que tenho o dever de proteger a Polícia Federal, por todos esses motivos, tentei evitar crise durante a pandemia [de coronavírus], mas não poderia deixar meu comprometimento com o Estado Democrático de Direito”.