A Polícia Federal deflagrou uma operação para investigar crimes de corrupção na compra de materiais médico hospitalares. Os equipamentos foram adquiridos para a realização de cirurgias através do SUS (Sistema Único de Saúde) em hospitais de Passo Fundo, na região Norte do Rio Grande do Sul.
Participam da execução da operação 80 policiais federais na “Operação Círculo de Willis”. Ao todo, 17 mandados de busca e apreensão, nos municípios de Passo Fundo e Porto Alegre, Florianópolis e Lages (SC), e em São Paulo (SP).
Conforme a PF, a investigação teve início em 2019, a partir de informações coletadas na Operação Efeito Colateral, de 2018. Na apuração atual, foi identificada a relação ilícita de médicos com empresas fornecedoras de materiais hospitalares. Os profissionais de saúde recebiam valores pelo direcionamento do uso de produtos das empresas investigadas em procedimentos neurocirúrgicos, realizados na maior parte das vezes através do SUS. As comissões pagas aos investigados variavam entre 20 e 25% dos valores dos produtos utilizados nas cirurgias.
De acordo com as apurações, em 2013, um dos médicos investigados teria realizado 84 procedimentos cirúrgicos. As intervenções eram realizadas com materiais fornecidos pela empresa ao custo aproximado de R$ 1,4 milhões. O médico envolvido no esquema teria recebido R$ 284 mil, conforme a PF. Desse valor, R$ 190 mil seriam dos procedimentos realizados através do SUS.
A estimativa é de que, no período de 2013 a 2018, apenas esse investigado teria recebido indevidamente R$ 1,5 milhão. No cálculo, a PF considera apenas os procedimentos realizados através da rede pública. Diligências indicaram que parte dos valores eram entregues em envelopes, de forma dissimulada, durante eventos médicos realizados no Brasil, sem a devida declaração para a Receita Federal.
Investigado era sócio oculto de fornecedora
A Polícia Federal também identificou que o principal investigado teria se tornado sócio oculto de uma fornecedora de “stent neurológico”, uma espécie de mola usada no tratamento de aneurisma cerebral. A aquisição desses materiais pelo hospital em que atuava também era submetida a sua influência.
Outra fraude investigada diz respeito a estudo sobre eficiência da mola nacional, utilizada pelo principal investigado em cirurgias pelo SUS. O médico teria realizado um acordo comercial com empresa privada para elaborar um estudo clínico que apontaria a eficácia da mola nacional comercializada por ele, porém, em razão de desacordo comercial, o médico deliberadamente alterou o resultado do estudo, passando a apontar que o produto apresentava complicações superiores a 90%.
Os crimes investigados na Operação Círculo de Willis são corrupção passiva, corrupção ativa e sonegação tributária. O nome da operação faz referência a um conjunto de artérias que suprem o cérebro, pois se relaciona com materiais utilizados em neurocirurgias.