Peritos do IGP (Instituto-Geral de Perícias) e pesquisadores da UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre) identificaram uma substância semelhante ao LSD pela primeira vez no Rio Grande do Sul. Chamada de ALD-52, a droga sintética forma de selo de papel foi apreendida em junho do ano passado em Santiago, na Fronteira Oeste.
Conforme os peritos, duas amostras foram encaminhadas à Seção de Drogas Apreendidas do Departamento de Perícias Laboratoriais. No entanto, não foi possível identificar qual era a substância, pois a amostra é comparada a outra, chamada padrão, que já existe em uma biblioteca virtual onde são guardados as substâncias já examinadas.
O trabalho para identificar o selo continuou no laboratório da UFCSPA. Uma nova análise, feita no equipamento chamado espectrômetro de massas de alta resolução, conseguiu identificar a composição da molécula. A ALD-52 é metabolizada pelo fígado, sendo biotransformada em LSD e passando a atuar no corpo humano da mesma forma que esta.
A alta resolução do equipamento permitiu a obtenção de resultados mais precisos e a comparação com dados publicados na literatura. As técnicas empregadas dão garantia de que a substância é realmente o entorpecente.
“É muito satisfatório fazer a identificação de forma inequívoca e ter certeza da qualidade do nosso resultado, tanto para fazer o alerta, quanto na questão técnica”, afirma a perita criminal Milena Morsoletto, do DPL, responsável pelo caso. O laudo pericial ficou pronto em 30 de janeiro de 2023.
Amostras de ALD-52 já haviam sido identificadas em São Paulo. A detecção no RS chama a atenção para uma possível volta do LSD, com uma nova “roupagem”, para tentar burlar a fiscalização. “É importante estar atento a essa possibilidade”, afirma Milena.
A parceria entre IGP e UFCSPA foi celebrada em 2022. As instituições possuem um convênio que permite o uso dos equipamentos e a troca de conhecimentos.
“Identificar novos compostos que a pessoa está consumindo é fundamental para as ações de vigilância, e para que a pessoa saiba que está usando algo que não é saudável. Fazer parte desse processo é fundamental para colaborar de modo mais eficiente para o bem social”, afirma o professor Tiago Franco de Oliveira, do Grupo de Pesquisas em Espectrometria de Massas e professor da UFCSPA.
Risco à saúde
O LSD foi criado na década de 1950, para auxiliar no tratamento de pessoas com transtornos mentais. Na década de 1970 passou a ser utilizado de forma recreativa, em função de seu efeito alucinógeno.
Como o ALD-52 precisa ser metabolizado pelo fígado, o efeito no organismo pode demorar a acontecer. Isso pode levar o usuário a consumir uma nova dose em busca de ação mais rápida, aumentando a exposição. O efeito é prolongado, ou seja, o indivíduo fica horas com todos os sentidos alterados, com paladar, visão e audição mais sensíveis.
“A pessoa não controla o que vai acontecer. Pode ter uma sensação prazerosa em algum momento, mas também pode ter ideias paranóicas de perseguição e surtos violentos, em que perde a capacidade de julgar o que está fazendo”, afirma Tiago. O risco aumenta se for associado a outras drogas, como o álcool, por exemplo.