O processo de restauro do prédio que abrigou o antigo cinema da cidade da Feliz, em uma região colonizada por imigrantes de origem germânica, é o ponto de partida para uma discussão sobre as inúmeras nuances que envolvem a preservação do patrimônio arquitetônico no Brasil e na Europa.
A reflexão deu origem ao curta-metragem “Isto aqui vai ser muito valorizado”, realizado pela Escaiola Arquitetura Rara e dirigido por Boca Migotto. O filme será lançado na segunda-feira (30), às 16h, nas redes sociais da Escaiola (facebook.com/escaiolaarquiteturarara) e também ficará disponível gratuitamente no Youtube.
O filme integra o projeto Arquitetura Rara – Intercâmbio cultural, que levou a equipe de especialistas a apresentarem o patrimônio gaúcho a profissionais na Espanha e em Portugal. Ao todo, foram mais de dois anos de produção, dez cidades filmadas e milhares de quilômetros percorridos para a realização do curta.
Abordando o cotidiano de trabalho de especialistas na área, a iniciativa tem como objetivo democratizar o conhecimento sobre a preservação do patrimônio histórico no Rio Grande do Sul, como explica a arquiteta e urbanista Juliana Betemps.
“O filme tem a pretensão de trazer à tona as diversas variantes que envolvem o patrimônio arquitetônico, e discutir, aqui e lá fora, esse tema tão similar nas mais diferentes culturas”, ressalta.
O curta mostra também que é conservando os prédios históricos que são valorizadas as culturas locais que envolvem cada comunidade, como observa a arquiteta e urbanista Cristiane Rauber.
“Compartilhamos da concepção de que patrimônio cultural é a união dos bens materiais e imateriais, ambos se complementam. Tamanha riqueza que possuímos aqui no nosso Brasil, que durante o intercâmbio cultural foi possível afirmar que, por sermos um país demasiadamente jovem, temos muitas peças a serem encaixadas para que não percamos nenhuma história”, diz.
Empreendedorismo cultural
Construído no século 19, o cinema do Casarão Amália Noll é um exemplo dessa necessidade. Ele passou para o imaginário popular da cidade de Feliz como uma pioneira do empreendedorismo cultural na região no início do século 20.
Sua casa era cheia de cultura, com salão de baile, cinema e fotografia, expressão pela qual era apaixonada, o que fez com que o casarão fosse o primeiro equipamento cultural da cidade. Após passar décadas vazio, o prédio foi tombado como patrimônio do município e agora será restaurado.
Nesse sentido, o cineasta Boca Migotto alerta para a necessidade de “uma política que proteja nosso patrimônio, mas também se preocupe em educar as pessoas sobre a importância de preservarmos nossa história que, no caso, vai muito além de apenas casas antigas”.