EM DUAS CIDADES

Após 130 anos, Ospa remonta a opereta “Os Bacharéis”, de João Simões Lopes Neto

A Ospa vai apresentar o espetáculo em Porto Alegre e Pelotas.

Foto: Vitoria Proença/Ospa

A Ospa (Orquestra Sinfônica de Porto Alegre) fará uma nova montagem do espetáculo “Os Bacharéis”, escrito pelo regionalista João Simões Lopes Neto há quase 130 anos e que por muito tempo ficou esquecido.

A nova versão estreia em 2 de setembro, na Casa da Ospa, e depois a Orquestra viaja a Pelotas para uma sessão no Auditório do Sicredi, em 8 de setembro, em homenagem aos 150 anos da Associação Comercial de Pelotas.

A venda de ingressos para Porto Alegre inicia às 12h desta quarta-feira (16). Em Pelotas, haverá a distribuição de ingressos mediante a doação de 4 litros de leite a partir de 28 de agosto.

Usando o pseudônimo Serafim Bemol, o pelotense Simões Lopes Neto dividiu a autoria de “Os Bacharéis” com o conterrâneo José Gomes Mendes, que assinava como Mouta Rara. Além de ser cunhado de Simões Lopes, Mendes foi um importante parceiro artístico em diversas produções teatrais.

Já a parte musical de “Os Bacharéis” coube a Manoel Acosta y Oliveira, um músico negro e estrangeiro (sua origem não é conhecida), que, a despeito do preconceito vigente no Brasil pós-abolição, teve prolífica e elogiada atuação como violoncelista, regente e compositor em todo o país.

O diretor artístico e maestro da Ospa, Evandro Matté, aponta que a montagem está inserida em um crescimento da produção operística tanto na programação da Ospa, quanto em todo o Rio Grande do Sul.

“A obra de Simões reforça a presença da ópera brasileira na programação da Ospa e traz o desafio de resgatar esta comédia de costumes da sociedade”, salienta Matté, que assina a direção musical do espetáculo.

Pesquisa

Após a estreia de sucesso, em 23 de junho de 1894, no Theatro Sete de Abril, em Pelotas, o espetáculo foi reencenado em algumas ocasiões, mas eventualmente caiu no esquecimento.

Em 2005, um extenso trabalho de pesquisa possibilitou uma nova montagem. Cláudia Antunes pesquisou as partituras e os documentos originais, Márcio de Souza reconstituiu as partituras que haviam sido parcialmente perdidas e Élcio Rossini adaptou o texto e assinou a direção.

As sessões, que ocorreram em Porto Alegre e Pelotas, causaram comoção. Naquela ocasião, Marcelo Ádams interpretou um dos protagonistas, Cincinatus. Ele retorna como diretor cênico do projeto.

Ádams relembra a montagem de 2005: “Reencenar a peça é reapresentá-la ao público, que nos últimos 18 anos não teve acesso e agora novamente terá. Em 2005, foi diferente do que será agora, o elenco era composto de atores que cantavam, alguns dos maiores da época, como Margarida Peixoto, Julio Andrade, Sandra Dani. E agora será composto por grandes cantores líricos”, compara o diretor cênico.

Em 2023, o elenco traz Flávio Leite, Sérgio Sisto, Henrique Cambraia, Felipe Bertol, Elisa Machado, Guilherme Roman, Roger Nunez, Cristine Guse, Carolina Braga, Ricardo Barpp, Oséas Duarte e Izabella Domingos.

Gênero

“Os Bacharéis” é uma comédia-opereta, ou seja, uma forma de arte que conjuga o texto falado com o canto e deriva da ópera, que explora unicamente o canto.

No Brasil, o gênero artístico estava muito em voga no final do século 19 e combinava ritmos brasileiros aos europeus. Nas operetas, o texto descontraído frequentemente recorre ao humor como ferramenta de crítica social.

EmOs Bacharéis”, o alvo dos autores foi a hipocrisia e os costumes conservadores da sociedade pelotense, ainda que o texto não esteja situado em um local ou um tempo específicos.

Embora o enredo seja construído a partir de uma clássica história de amor, com direito a vilão, os reais protagonistas são três irmãos, os bacharéis do título. Um deles, Cincinatus, impede o casamento entre os noivos Pombinho e Caricina alegando que os dois seriam parentes e, portanto, não poderiam se casar.

Desolado, Pombinho deixa a cidade e só volta anos depois, com diploma de bacharel. O retorno abala os planos de Cincinatus, que tentava conquistar Caricina. Enquanto a plateia assiste às ações inescrupulosas dos personagens, a hipocrisia dos costumes conservadores é revelada, provocando efeitos cômicos.

Segundo Ádams, a obra revela uma faceta divertida de Simões Lopes Neto. “Sempre pensamos na importância do Simões em relação às obras mais rurais, mostrando o típico gaúcho e as lendas do interior, como a Salamanca do Jarau. Mas as comédias são peças urbanas, mostram a versatilidade do autor, a sua outra face”, afirma.

Serviço

“Os Bacharéis”

Data: 02/09
Horário: 17h
Local: Casa da OSPA (Caff – Av. Borges de Medeiros, 1.501, Porto Alegre)