DIFICULDADES FINANCEIRA

48% dos municípios gaúchos fecham o primeiro semestre com as contas no vermelho

No Rio Grande do Sul, 227 municípios fecharam o semestre no vermelho, com dificuldades para pagar as contas.

Mãos manuseiam várias notas de 50 reais.
Foto: USP Imagens

O cenário fiscal em todo o país é de alerta para a CNM (Confederação Nacional de Municípios). Com aumento de despesas e diminuição de receitas, gestores locais, das cinco Regiões do Brasil, relatam dificuldades para fechar as contas.

A nível nacional, 51% das prefeituras brasileiras estão no vermelho. No Rio Grande do Sul, 227 municípios de 474 que enviaram dados ao Siconfi encerraram o primeiro semestre de 2023 com déficit, o que representa 48%. Em 2022, no mesmo período, eram 33 (7% dos respondentes).

Isso significa que o percentual de comprometimento da receita está alto. No Rio Grande do Sul, a cada R$ 100 arrecadados nos pequenos Municípios, R$ 87 foram destinados a pagamento de pessoal e custeio da máquina pública.

“Estamos em diálogo com as autoridades em Brasília e já alertamos. Muitos não veem o que está acontecendo na ponta, mas o problema é grave. Isso é também resultado de despesas criadas no Congresso e pelo governo federal sem previsão de receitas, como os pisos nacionais, caindo toda a demanda no colo dos Municípios”, avalia o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski.

Entre as despesas que oneram os cofres das prefeituras gaúchas estão, por exemplo, recomposições salariais de servidores municipais, o impacto de reajuste do piso do magistério, que, se concedido como foi imposto pela União, soma R$ 1,1 bilhão, e o atraso no pagamento de emendas parlamentares.

“A redução em emendas de custeio – do primeiro semestre de 2022 para o mesmo período de 2023 – é de quase 69%, passando de R$ 418,4 milhões para R$ 131,5 milhões. No total de emendas, a queda foi de R$ 644,5 milhões para R$ 329,1 milhões para o Estado. A cota-parte do ICMS, afetada pela LC 194/2022, recuou 8,3%”, ressaltou a CNM,

Segundo a CNM, enquanto as despesas de custeio tiveram aumento de 14%, o FPM (Fundo de Participação dos Municípios) apresenta mais decêndios menores do que o mesmo período de 2022. No primeiro decêndio de julho, por exemplo, houve uma queda brusca de 34,49% no repasse.

Em agosto, a queda foi de 23,56%, explicada por uma redução na arrecadação de Imposto de Renda e um lote maior de restituição por parte da Receita Federal.

“Além disso, os gestores do Rio Grande do Sul enfrentam o represamento de 35,9 milhões de procedimentos ambulatoriais e 245,5 mil procedimentos hospitalares durante a pandemia, sendo necessários R$ 886,4 milhões para equacionar a demanda; 200 programas federais com defasagens que chegam a 100%; 205 obras paradas e abandonadas por falta de recursos da União; e obras concluídas com mais de R$ 752,1 milhões em recursos próprios sem repasse do governo federal”, afirmou a CNM.

Propostas

Para reverter a sobrecarga de serviços que recai sobre os Entes locais sem a correta alocação de recursos, a CNM disse que atua por medidas que possam distribuir de forma mais efetiva as receitas do país.

“Uma delas é o aumento de 1,5% no FPM de março, que tramita na PEC 25/2022, e, se aprovada, representará R$ 778,2 milhões. Há ainda a redução da alíquota patronal do INSS para 8% em Municípios de até 156 mil habitantes (PL 334/2023), a recomposição do ICMS (PLP 94/2023), com R$ 754,6 milhões aos cofres municipais, e o fim do voto de qualidade do Carf (PL 2384/2023), com potencial de injetar R$ 2,3 bilhões no FPM, entre outros”, disse.