Edson Arantes do Nascimento, o rei Pelé, morreu hoje (29) em São Paulo, aos 82 anos. Ele realizava tratamento contra um câncer de cólon e estava internado desde o dia 29 de novembro no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. A causa da morte de Pelé foi falência múltipla de órgãos.
Nos últimos dias, o quadro degenerativo causado pela doença havia se agravado. Os médicos apontaram a necessidade de maiores cuidados por causa de disfunções renal e cardíaca. Desde o dia 21 o hospital não divulgava mais boletins com o estado de saúde do paciente.
O velório público irá ocorrer na Vila Belmiro, em Santos (SP). Ainda não há informações sobre o cronograma de atos fúnebres.
Vida de Pelé
Natural de Três Corações (MG), Edson Arantes do Nascimento nasceu em 23 de outubro de 1940, filho do jogador de futebol João Ramos do Nascimento, o Dondinho, e Celeste Arantes do Nascimento. Aos quatro anos de idade, passou a morar em Bauru, no interior de São Paulo.
Influenciado pelo pai, se interessou pelo futebol desde criança. Ganhou o apelido de “Pelé” a contragosto. Sua primeira profissão foi a de engraxate, para ajudar a família que passava dificuldades após Dondinho, seu pai, sofrer uma lesão e abandonar o esporte.
Em 1950, presenciou o Brasil perder o título mundial, em casa, para o Uruguai. “Na final da Copa de 50, o Brasil perdeu para o Uruguai e meu pai ficou muito emocionado. Quando eu o vi em lágrimas, só pude pedir para que não chorasse, porque eu iria ganhar uma Copa do Mundo para ele”, lembrou em entrevista concedida ao Santos Futebol Clube.
Aos 11 anos, Pelé foi descoberto pelo jogador Waldemar de Brito, que o convidou para jogar no Clube Atlético de Bauru, que estava em formação. Pouco tempo depois, ao perceber o talento do garoto, Brito decidiu levar o aspirante a um time maior: o Santos.
Ele chegou à Vila Belmiro em 22 de julho de 1956, com direito a uma profecia de Waldemar de Brito. “Esse menino vai ser o melhor jogador de futebol do mundo”, assegurou. E não demorou para que aquele jovem fizesse história, marcando um gol em sua primeira partida contra o Corinthians de Santo André.
À medida que ia demonstrando seu talento, Pelé foi abrindo portas. Um ano depois, em 1957, foi convocado para a Seleção Brasileira para disputar o Superclássico das Américas, do qual o Brasil obteve o título. No Campeonato Paulista daquele ano, mais uma demonstração do que viria pela frente. “Fiz 36 gols. Para um garoto de 17 anos, foi uma grande conquista”, declarou Pelé ao Santos.
A qualidade de Pelé era tamanha, que a ideia de que ele era o rei do futebol surgiu antes mesmo da conquista de um título de expressão pela seleção. Meses antes da disputa da Copa de 1958, o dramaturgo Nelson Rodrigues se referiu ao jogador da seguinte forma em uma crônica sobre o jogo entre America e Santos. “O que nós chamamos de realeza é, acima de tudo, um estado de alma. E Pelé leva sobre os demais jogadores uma vantagem considerável: – a de se sentir rei, da cabeça aos pés. Quando ele apanha a bola e dribla um adversário, é como quem enxota, quem escorraça um plebeu ignaro e piolhento”.
Santos: da adolescência ao gol 1000
A trajetória de Pelé em clubes foi praticamente toda no Santos. O Rei atuou pelo “Peixe”, de 1956 a 1974. E essa é uma das trajetórias das mais bonitas do futebol, repletas de toques de gênio e títulos inesquecíveis.
Com o uniforme branco e preto do Santos, Pelé conquistou desde torneios regionais e nacionais, até títulos de alcance continental e mundial, levando a marca do clube paulista, mas também daquilo que seria entendido como o jeito brasileiro de jogar, para o mundo todo.
Além das conquistas com o Santos, a passagem pelo “Peixe” foi repleta de recordes individuais para o Rei. Em 1969, o Maracanã, ainda então o “rei” entre os estádios do mundo, foi palco do milésimo gol de Pelé, talvez o mais conhecido deles. O adversário foi o Vasco, do goleiro Andrada, que tocou na bola, mas não conseguiu defender o pênalti cobrado pelo eterno camisa 10 santista, que alcançava a marca aos 29 anos de idade.
Na comemoração, a imortal dedicação do gol às crianças e aos pobres. O “Maraca”, mesmo a torcida do Vasco, aplaudiu de pé Pelé e seu gol número 1000. Com o nome feito e uma história de glória construída no Santos, Pelé sairia do “Peixe” em 1974. O destino eram os Estados Unidos.
Três vezes com a Taça Jules Rimet
Muitas das monumentais atuações de Pelé pelos gramados do mundo ocorreram com a camisa da Seleção Brasileira, o que contribuiu para que ambos, Pelé e o uniforme canarinho, se imortalizassem no imaginário desportivo mundial. Foi com a verde-amarela, mas também com a azul, cor de Nossa Senhora de Aparecida, que Pelé participou, com apenas 17 anos, da primeira conquista de Copa do Mundo para o Brasil, em 1958, na Suécia.
Foi nesta Copa que, por acaso, Pelé começou a usar a camisa 10. O rei começou no banco, mas depois, ao lado de Garrincha, o Mané, outro gênio do futebol brasileiro, levou o Brasil ao título. Os dois, com seus dribles, passes e golaços, foram o brilho que faltava àquele País que saíra derrotado na Copa de 50, dentro de casa, contra o Uruguai.
Em 1962, o Brasil defendia o título e Pelé já era tido como o melhor do mundo. O camisa 10, após comandar, anotando um gol e participando de outro, a vitória contra o México, se machuca na segunda partida contra a Tchecoslováquia e fica de fora do restante do torneio. Coube a Mané Garrincha, seu parceiro dos campos, ser a liderança técnica que trouxe o bicampeonato para o Brasil.
Após o Brasil não conseguir cumprir as altas expectativas que havia em relação aos bicampeões mundiais na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, veio a que talvez seja a copa mais icônica da História: a de 1970, no México. Este mundial coroou a majestade de Pelé, que, além de liderar a conquista do título, também deixou gravado lances geniais.
Junto com outros craques como Rivelino, Jairzinho, Tostão, Clodoaldo e Gerson, Pelé participou de gols antológicos e de outros momentos nem sempre terminados em gol, como o lance em que tentou fazer o gol do meio de campo contra a Tchecoslováquia, ou aquele contra o Uruguai em que deu uma meia-lua no goleiro sem tocar na bola, além da cabeçada para baixo que exigiu milagre do inglês Gordon Banks.
O título rendeu de forma definitiva a Taça Jules Rimet ao Brasil, que posteriormente foi roubada. Mas a história, de qualquer forma, estava escrita. Ele é o único jogador brasileiro a conquistar três Copas do Mundo (1958, 1962 e 1970). Pelé se aposentou da Seleção no ano seguinte, em 1971.
Despedida dos gramados nos EUA
Pelé chega ao New York Cosmos, dos EUA, em junho de 1975, após uma espécie de “semi-aposentadoria” dos clubes brasileiros em 1974, em que atuava eventualmente com a camisa do Santos. O Rei chega à terra do Tio Sam em 1975 precisando ajustar sua vida financeira que, mesmo com os anos de glória no futebol, não era boa.
A necessidade de recuperar as finanças cria uma situação até então inédita no esporte, quando passa-se a pagar elevadíssimos salários aos atletas, assim como a se realizar grande exploração de imagem para a publicidade.
A despedida definitiva dos campos veio em um amistoso entre Cosmos e Santos, em 1977. A partida foi um evento que contou com a presença de diversas celebridades nacionais e mundiais. Pelé jogou um tempo da partida com a camisa de cada um dos times.
No discurso de despedida, após ser carregado pelos companheiros de profissão, novamente Pelé menciona as crianças. Depois, pronuncia as também já conhecidas palavras “love, love and love”.
Vida pessoal
O rei do futebol teve uma vida pessoal cercada de controvérsias, em especial em relação a seus filhos. Pelé foi casado três vezes. O primeiro relacionamento ocorreu entre 1966 e 1978, com Rosemari de Reis Cholbi. Deste relacionamento, descenderam três filhos: Kelly Cristina, Jennifer e Edson, mais conhecido como Edinho.
Em 1991, Pelé descobriu que tinha outra filha. Sandra Regina ingressou na Justiça para ser reconhecida, o que ocorreu apenas em 1996 após exame de DNA. Ela morreu em 2006, em decorrência de câncer de mama. Os netos de Pelé, à época com 15 e 13 anos, obtiveram na Justiça direito a receber uma pensão do avô de sete salários mínimos.
O ex-jogador teve uma outra filha com a jornalista Lenita Kurtz. Flávia, no entanto, só foi reconhecida em 2002, quando tinha 20 anos de idade. O segundo matrimônio de Pelé ocorreu em 1994 com a cantora gospel Assíria Lemos Seixas. Este relacionamento durou até 2008, do qual nasceram os gêmeos Celeste e Joshua. Pelé era casado com Marcia Cibele Aoki, que conheceu em 2008. A oficialização do relacionamento ocorreu em 2016. Os dois não tiveram filhos juntos.
Câncer de cólon
O rei do futebol tratava de um câncer no cólon – também chamado de colorretal ou de intestino – desde setembro de 2021 quando exames de rotina identificaram a presença do tumor no intestino. Uma cirurgia foi realizada e ele seguiu realizando tratamento em busca da remissão do câncer, o que não aconteceu.
Pelé foi internado no Hospital Israelita Albert Einstein no dia de 29 de novembro com quadro de inchaço generalizado (anasarca), edema generalizado (síndrome edemigêmica), além de insuficiência cardíaca descompensada. O boletim médico apontou que ele sofreu uma infecção respiratória, que foi tratada com antibióticos e, desde então, Pelé permaneceu internado sob cuidados médicos.