Um homem foi preso pelo crime de racismo na manhã desta sexta-feira (9), em Pelotas, na região Sul do Estado. Ele estava em uma fila para a vacinação contra a Covid-19 quando cometeu os crimes contra uma voluntária que atua no estande de vacinação. O criminoso, de 37 anos, possui antecedentes por furto, homicídio e posse de drogas.
Conforme a Guarda Municipal de Pelotas, o caso ocorreu na fila do drive-thru de vacinação contra Covid-19, no Centro de Eventos Fenadoce. O homem chegou ao local de carro e disse que não possuía documentos, nem comprovante de residência. A estudante de enfermagem, que é negra e fazia a coleta de dados dos pacientes afirmou que, sem os dados ele não poderia receber a dose.
O homem afirmou que sabia os dados de cor, mas que não ia mais se vacinar porque a estudante estaria tentando “prejudicar” a imunização dele. Após a crítica, a equipe resolveu, mesmo sem os documentos necessários, realizar a aplicação da dose. Momentos depois, o racista afirmou para outra enfermeira “vou me vacinar, sim, só disse que não porque não gosto de negro. Negro só serve para incomodar”. Ela acionou a Guarda Municipal, que fazia a segurança no local, antes da aplicação do imunzante.
O racista foi detido e encaminhado até a DPPA (Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento), onde foi autuado em flagrante por Preconceito de Raça e Cor, com base na Lei 7.716, artigo 20. Em depoimento, ele negou a atitude. A delegada titular da Delegacia de Pronto Atendimento de Pelotas, Cristiane Ulguim entendeu que foi uma ofensa coletiva dirigida a toda a raça negra, por isso ele foi enquadrado no crime de racismo.
Homem deveria estar em presídio
Durante as checagens para o registro de ocorrência, a Polícia Civil identificou que o homem sequer deveria estar circulando. O criminoso deveria estar cumprindo pena por diversos crimes, como furto, homicídio e posse de entorpecentes, cometidos em Bagé, na região da Campanha. Após a lavratura do flagrante delito, o homem foi encaminhado ao Presídio Regional de Pelotas.
UFPEL emite nota de repúdio
A UFPEL (Universidade Federal de Pelotas) emitiu uma nota de repúdio contra o crime de racismo cometido contra a estudante de enfermagem. Confira a íntegra:
Nota de Repúdio
A Universidade Federal de Pelotas vem a público repudiar com veemência o ato de racismo explícito ocorrido no dia de hoje, 9 de julho de 2021, no drive-thru de vacinação contra a COVID-19 em Pelotas. Em plena pandemia, com o Brasil contabilizando mais de 530 mil vidas perdidas, um homem branco se achou no direito de proferir insultos racistas contra uma profissional negra que trabalhava no processo de vacinação.
O estudo EPICOVID19, coordenado pela UFPel, revelou que a pandemia reflete a desigualdade existente na sociedade e, assim, atinge com maior intensidade as pessoas pobres, bem como as populações negras e indígenas, setores da sociedade que apresentam as maiores taxas de mortalidade. Apesar disso, milhões de profissionais de saúde negros e negras, assim como trabalhadores e trabalhadoras de outros serviços essenciais, se arriscam diariamente há mais de um ano para combater a pandemia e salvar vidas. Devemos a esses homens e mulheres nosso eterno respeito e gratidão.
A atitude racista ocorrida hoje em Pelotas é uma manifestação imoral de uma sociedade adoecida, que não se envergonha em discriminar abertamente as pessoas em virtude de sua cor da pele e ancestralidade. A UFPel se solidariza com a profissional agredida e com todas as pessoas negras que são inevitavelmente atingidas a cada vez que um episódio como esse acontece. A Universidade Federal de Pelotas, comprometida com as pautas de diversidade e inclusão, respeito à pessoa humana e contra qualquer tipo de discriminação, espera que as autoridades competentes sejam enérgicas e eficientes para combater absurdos como o que ocorreu hoje.