ANSA Brasil – No depoimento prestado no último sábado (2), o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro afirmou que o presidente Jair Bolsonaro disse expressamente que “queria” a Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro sob sua influência.
De acordo com as 10 páginas de seu depoimento à PF, o ex-juiz disse ter recebido mensagem de celular do presidente na qual ele não explica seus interesses específicos, mas pressiona pela mudança nos cargos da Polícia Federal desde agosto de 2019. “Moro você tem 27 Superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro”, disse Bolsonaro a Moro, por conversa no WhatsApp. A íntegra do depoimento foi divulgada pela CNN Brasil. Segundo o ex-ministro, seu relato foi uma narrativa de interferência política e não uma acusação de um crime. Para ele, esse juízo caberá às “instituições competentes”.
“Quem falou em crime foi a Procuradoria-Geral da República na requisição de abertura de inquérito e agora entende que essa avaliação, quanto a prática de crime cabe às Instituições competentes”, disse.
Moro ainda explicou que o então diretor da PF, Maurício Valeixo, “declarou que estava cansado da pressão para a sua substituição e para a troca do SR/RJ”. “Que por esse motivo e também para evitar conflito entre o presidente e o ministro o diretor Valeixo disse que concordaria em sair”.
Na sequência, o ex-ministro disse que Bolsonaro “passou a reclamar da indicação da Superintendente de Pernambuco”. No entanto, segundo Moro, “os motivos da reclamação devem ser indagados ao Presidente da República”.
“Pessoas de confiança”
Conforme o depoimento, o líder brasileiro relatou verbalmente a Moro no Palácio do Planalto, em Brasília, “que precisava de pessoas de sua confiança, para que pudesse interagir, telefonar e obter relatórios de inteligência”. As declarações de Moro são divulgadas um dia depois de Bolsonaro nomear o novo diretor-geral da PF, Rolando Alexandre de Souza, o qual já trocou o comando da Superintendência da PF do Rio em uma das suas primeiras medidas no cargo. A alteração foi vista por investigadores como uma corroboração das acusações feitas por Moro de interferência política.
Mais cedo, a defesa de Moro já havia pedido ao STF (Supremo Tribunal Federal) que seu depoimento fosse revelado. O intuito seria “de evitar interpretações dissociadas de todo o contexto das declarações e garantindo o direito constitucional de informação integral dos fatos relevantes”.
Ontem (4), o procurador-geral da República, Augusto Aras, por sua vez, pediu ao ministro Celso de Mello que três ministros do governo Bolsonaro sejam ouvidos no inquérito – Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Walter Souza Braga Netto (Casa Civil).