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Educação pode retroceder até quatro anos devido à pandemia

A pandemia de coronavírus pode ter prejudicado a educação no Brasil muito mais do que se esperava

A pandemia pode ter prejudicado a educação muito mais do que se esperava. Uma pesquisa aponta retrocesso de até quatro anos nos processos de aprendizagem.

O resultado mostra que os alunos deixaram de aprender mais em matemática em comparação com língua portuguesa e, na maioria dos casos, os mais prejudicados são aqueles do Ensino Fundamental. O prejuízo estimado é equivalente ao retorno à proficiência brasileira na avaliação de quatro anos atrás (entre 2015 e 2017) em língua portuguesa e de três em matemática (2017) no Ensino Fundamental Anos Finais, considerando o pior dos cenários.

Em uma estimativa intermediária, ambos os componentes curriculares teriam uma queda equivalente ao retorno à proficiência brasileira de três anos atrás. Mesmo em uma situação otimista, a educação também pode ter perdido três anos em língua portuguesa.

Os grupos populacionais mais prejudicados são os do sexo masculino, pardos, negros e indígenas, com mães que não finalizaram o Ensino Fundamental.

A pesquisa foi encomendada pela Fundação Lemann ao Centro de Aprendizagem em Avaliação e Resultados para o Brasil e a África Lusófona (Clear), vinculado à Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP). As verificações foram baseadas em dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).

O número de horas dedicadas às atividades não presenciais podem fazer a diferença: quando falamos de um cenário intermediário, em que se considera que os alunos aprendem no ensino não presencial proporcionalmente às horas dedicadas a atividades escolares, estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental têm uma perda de 34%, enquanto os estudantes do Ensino Médio, de 33%. Se for considerado um cenário pessimista, em que os alunos não aprenderiam nada com o ensino remoto, ambos os ciclos perdem o equivalente a 72% no aprendizado.

“A simulação mostra a importância da aposta que foi feita no ensino remoto, mesmo com todas as suas limitações. A tecnologia se mostrou uma aliada do processo de ensino e aprendizagem durante a pandemia, e o ensino híbrido continuará fundamental em 2021, inclusive nos processos de superação das defasagens”, afirma Daniel de Bonis, Diretor de Políticas Educacionais na Fundação Lemann.

Para chegar nesses resultados, o estudo da FGV EESP Clear levou em consideração o nível de aprendizado em um ano típico (usando dados do Saeb de 2015 a 2019), o tempo de interrupção das aulas (estimado em 72% do ano letivo) e o eventual aprendizado com o ensino remoto (explorado nos cenários otimista, intermediário e pessimista). A metodologia foi baseada no estudo do Banco Mundial “Simulating the potential impacts of covid-19 school closures on schooling and learning outcome: a set of global estimates” (“Simulando os potenciais impactos do fechamento das escolas pela Covid-19 na educação e nos resultados de aprendizagem: um conjunto de estimativas globais”, em tradução livre).

“O objetivo do nosso trabalho foi entender e estabelecer algumas conjecturas razoáveis de como a pandemia do Covid-19 poderia afetar o aprendizado dos estudantes brasileiros. Primeiro, ao revisar sistematicamente a literatura internacional, concluímos que a interrupção das aulas leva a uma redução significativa no aprendizado dos alunos. Em segundo lugar, entendemos que, em um cenário de interrupção das aulas presenciais, o aprendizado dos alunos depende do acesso ao ensino remoto e esse acesso é desigual no Brasil como evidenciado pelos dados da Pnad Covid-19. Por fim, analisando dados do Saeb, concluímos que, em 2020, o crescimento do aprendizado dos alunos brasileiros poderá desacelerar ou mesmo retroceder. Esse resultado ocorre de maneira desigual no país, afetando mais fortemente os menos favorecidos”, afirma André Portela, pesquisador líder do estudo e Professor Titular de Políticas Públicas da FGV EESP.

Desigualdade

Foram realizadas simulações também levando em conta características pessoais dos estudantes: sexo, raça/cor e escolaridade da mãe. A partir desses subgrupos, analisando apenas o cenário intermediário, foi estimado que os meninos aprenderam menos que as meninas, especialmente em matemática nos anos finais do Ensino Fundamental.

Os grupos populacionais mais prejudicados, do 5º ao 9º ano, e Ensino Médio, em ambos os componentes, são os do sexo masculino, pardos, negros e indígenas, com mães que não finalizaram o Ensino Fundamental. Já os menos prejudicados são, na maioria dos casos, do sexo feminino, que se declararam brancas, com mães com pelo menos ensino médio completo.

A desigualdade aparece também nos cálculos feitos para cada um dos estados brasileiros. Em ambas as etapas de ensino, os alunos das regiões Norte e Nordeste deixaram de aprender mais que alunos do Sul e Sudeste. (FGV)