Há um filme estadunidense lançado em 2004, mas que apesar da pouca idade, já é um clássico da comédia romântica mundial, chamado “Como se fosse a primeira vez” (50 First Dates). Nele, após um encontro fruto quase do acaso em um bar, os personagens de Adam Sandler e Drew Barrymore se apaixonam e começam rapidamente um romance.
Mas acontece que ela tem uma doença rara, que faz com que a personagem esqueça tudo que viveu em um determinado dia assim que vai dormir. Ela acorda e tudo se passa como se sua vida fosse a mesma desde a aparição da enfermidade.
Isso obriga Sandler a ter de “consquista-la” todos os dias. E como é muito difícil que as situações da vida se repitam, a tarefa de controlar o acaso dos encontros exige sempre muita criatividade. Trata-se de fazer surgir o milagre do amor durante anos e anos como se este fosse sempre algo novo e nunca vivido.
Assim senti o Gre-Nal deste domingo (5), na Arena. Por mais que lembremos que este seja já o clássico de número 438, houve, como sempre, diversos componentes que acabam por gerar a sensação de que a partida, mesmo se tratando de uma mera fase classificatória de Campeonato Gaúcho, vale muito, despertando expectativa e ansiedade em ambas as torcidas.
Como havia um tempo sem clássicos, ambas escalações traziam muitos estreantes, já que o Grêmio, após um ano na série B, precisou reformular quase todo seu elenco, e o Inter, cujo grupo passado foi alvo de críticas da torcida, também teve sua fotografia repaginada.
Entre todos os estreantes, sem dúvida o mais aguardado era o novo centroavante gremista, o uruguaio Luis Suárez. Muitos dos que foram à Arena estavam apreensivos pelo primeiro Gre-Nal de “El Pistolero”, um astro de alcance mundial, e que, na semana do jogo teve uma fala divulgada nas redes sociais onde dizia ter feito gols em todos os clássicos que jogara.
Além disso, o Gre-Nal era diferente de outros tempos porque ambos lados tinham a sensação de que seus times chegavam em um bom momento. Havia equilíbrio técnico e uma necessidade de verificar na prática quem era melhor de fato. Dado que, mesmo com o resultado de hoje, ainda está em aberto, pois a disputa do estadual não acabou.
Assim é o clássico, um milagre regional que se renova a cada dia pela paixão inesgotável da torcida e pelas atuações marcantes de seus personagens. Sempre haverá expectativa por um “remake” e uma necessidade de não depender do acaso para que novos encontram ocorram.
O jogo
Afora a análise de cada um dos times, não lembro de um jogo tão disputado e tão bem estudado no futebol brasileiro em 2023. A partida foi extremamente acirrada e dentro de campo, com pouco antijogo. No final, a equipe da casa, que mostrou mais desenvoltura e que criou mais chances, levou a vitória. Grêmio 2 a 1.
Ambos os gols do Tricolor gaúcho saíram nos acréscimos e de estreantes, um no primeiro tempo, de Vina, e o outro na etapa final, de Carballo. O gol da vitória saiu quando a partida estava empatada, tensa e no melhor momento dos colorados no jogo.
O gol do Inter havia sido marcado no segundo tempo pelo apagado Alan Patrick minutos antes do Grêmio ir ataque e encontrar a vitória. Patrick sem dúvida foi uma das decepções de um Inter que perdeu dividas no meio, apesar da escolha de Mano por começar com os volantes Johnny e Baralhas no meio campo.
Do lado gremista, os quase 50 mil torcedores que foram ao estádio viram uma equipe que se propôs a ir ao ataque desde os primeiros minutos do jogo. Com um meio bem articulado, sob o comando do jovem Bitello, que teve duas boas chances de gol na etapa inicial, o Grêmio controlou as ações diante de um inter que optou por uma formação reativa, com eventuais saídas em contra-ataque e tendo a melhor chance com Bustos dentro da área.
O Grêmio abriu o marcador já nos acréscimos. Vina recebeu um toque de calcanhar de Cristaldo e chutou de fora da área. Keiller não conseguiu pegar.
Segundo tempo
Na volta do segundo tempo, Mano desfez a formação, colocando Maurício e Matheus Dias nos lugares de Baralhas e De Pena, ambos consumidos pelo ritmo gremista. Renato manteve a estratégia, apenas trouxe Bitello para a esquerda para explorar aquele lado da defesa colorada.
O Inter desafogou, teve mais leveza, mesmo que ainda nada criasse. As chances, no entanto, ainda eram do Grêmio, que voltou a gerar chances após substituições. Ferreira, que entrou no lugar de Vina, perdeu uma boa chance aos 28. Antes, Pepê também perdeu um gol feito.
Mas o Inter estava no jogo. Aos 30, Alan Patrick, até então fora da partida, conduziu uma bola até a intermediária e chutou no canto de Adriel. O jogo, em termos de disputa, estava em seu melhor momento, as duas equipes transitavam com velocidade e pegavam as defesas desprevenidas.
A festa colorada, porém, durou pouco. Aos 48, novamente nos acréscimos, João Pedro, também saído do banco, toca a bola em direção a área. Ela desvia em Lucas Ramos e sobra para Carballo chutar na saída de Keiller. Não havia tempo para mais nada.
Situação e próximo jogo
Com o resultado, o Grêmio vai a 28 pontos no Campeonato Gaúcho e abre 9 pontos de vantagem na fase classificatória. O Inter tem 19 pontos e é vice-líder. Resta agora a última partida desta etapa da competição, todas disputadas no sábado (11), às 16h30.
O Grêmio enfrenta o Ypiranga no Colosso da Lagoa, em Erechim. Já o Inter joga contra o Esportivo, no Beira-Rio. O colorado já está classificado, mas pode perder a vice-liderança a depender dos resultados.
Escalações
Grêmio
Adriel; Fabio (João Pedro), Bruno Alves, Kannemann e Reinaldo; Villasanti (Carballo), Pepê, Bitello, Cristaldo (Thaciano) e Vina (Ferreira); Suárez – 4-2-3-1- Técnico: Renato Portaluppi
Inter
Keiller; Bustos, Vitão (Moledo), Mercado e Renê; Baralhas (Matheus Dias, int.), Johnny (Lucas Ramos), De Pena (Mauricio), Alan Patrick e Wanderson; Pedro Henrique (Luiz Adriano) -4-2-3-1- Técnico: Mano Menezes
Cartões amarelos
Grêmio
Kannemann, Vina, Reinaldo e Thaciano
Inter
Renê, Pedro Henrique, Mano Menezes, Mauricio, Moledo e Lucas Ramos
Arbitragem
Árbitro: Leandro Vuaden
Auxiliar: Rafael da Silva Alves
Auxiliar: Mauricio Coelho Silva Penna
VAR: Daniel Bins