O técnico Tite é um profissional no sentido mais forte que a palavra pode ter. Os gregos diriam que ele possui a Areté. A virtude da excelência, daquele que realiza tudo com o extremo rigor de competência.
Por onde passou, Tite montou equipes muito bem estruturadas e cumpridoras de um meticuloso receituário tático, técnico, físico, psicológico, e até mesmo moral e ético. Sempre que possível, Tite enfatiza esses últimos aspectos como parte constitutiva de um time vencedor.
Este apego ao profissionalismo extremo fez de Tite uma pessoa com uma linguagem bem marcante, professoral talvez, mas que ele mesmo, aos poucos, com muito treino e… profissionalismo, está conseguindo deixá-la mais solta e natural.
Hoje, vejo Tite no seu auge. Ele montou uma Seleção Brasileira que reflete bem esse seu momento de realização da essência. É como diz o filósofo, é preciso fazer algo pela enésima vez, com muito esforço e persistência, até o ponto de soar espontâneo.
Como um guitarrista de jazz, por exemplo, que estuda horas de harmonia, escalas e tudo mais, para que no momento do improviso seus dedos deslizem pelas notas como se tudo não passasse de pura intuição.
O Brasil da Copa do Mundo começou assim. Um time de forte disciplina tática, mas que reencontra em talentos individuais e associações coletivas sua pura musicalidade.
Nesta sexta-feira (2), o Brasil perdeu para Camarões por um 1 a 0, no Estádio Lusail, na partida que fechou o Grupo G. Tite confiou nos reservas já pensando na próxima fase. Quase passou sufoco. Mas com um pouco mais de refinamento, os escolhidos de Adenor Bachi poderiam ter vencido.
Fica o alerta e o aprendizado. Além da comprovação de que a competência é uma arte sempre a se aprimorar.
O jogo
O Brasil até tentou atacar Camarões nos minutos iniciais. Porém, o clima de garantir o empate, que já dava o primeiro lugar da chave, reinava.
Além disso, poucos dos jogadores escolhidos por Tite de fato aproveitaram a oportunidade. O melhor deles foi sem dúvida Martinelli, pelo lado esquerdo, que conseguiu vantagem sobre os marcadores em algumas oportunidades.
Antony, que perdia tempo com a posse da bola, e Gabriel Jesus, estiveram apagados durante boa parte do tempo. Já a defesa era consistente e segurava as investidas corajosas de Camarões.
Daniel Alves, de convocação contestada, esteve bem. Não comprometeu.
O primeiro tempo acabou sem nenhuma chance realmente perigosa.
Segundo tempo
Na etapa final veio talvez a pior notícia do dia. O lateral Alex Telles teve lesão após uma disputa de boa na área brasileira e teve de ser substituído por Marquinhos. Imagens da TV mostraram Telles saindo de campo chorando.
Ao mesmo tempo que o Brasil jogava com Camarões, a Suíça ia vencendo a Sérvia no outro jogo do grupo. O que deixava a comissão técnica e jogadores brasileiros em alerta.
Tite fez mais mudanças. Colocou Everton Ribeiro, Bruno Guimarães e mais tarde Pedro. O Brasil rondava a área, mas pecava no chamado “último terço”, naquele momento de dar o passe certo e de concluir bem a gol.
O castigo veio já nos acréscimos. Aos 46, Aboubakar cabeceou um cruzamento da direita, sem chances para Ederson.
Foi preciso esperar acabar o jogo da Suíça para ter certeza da liderança. Mas o outro jogo acabou e o Brasil, mesmo com riscos no final, acabou líder.
Situação e próximo jogo
O Brasil termina a fase de grupos da Copa do Mundo como líder do Grupo G, com seis pontos. O adversário nas oitavas é a Coreia do Sul. A partida será realizada na próxima segunda-feira (5), às 16h, no Estádio 974.
Escalações
Brasil
Ederson; Daniel Alves, Militão, Bremer e Alex Telles (Marquinhos); Fabinho, Fred (Bruno Guimarães) e Rodrygo (Everton Ribeiro); Antony (Raphinha), Gabriel Jesus (Pedro) e Gabriel Martinelli -4-3-3- Técnico: Tite
Camarões
Epassy; Collins Fai, Wooh, Ebosse e Tolo; Anguissa, Kunde (Ntcham) e Ngamaleu (Mbekeli); Mbeumo (Toko Ekambi), Aboubakar e Choupo-Moting –4-3-3– Técnico: Rigobert Song
Arbitragem
Árbitro: Ismail Elfath (EUA)
Auxiliar: Kyle Atkins (EUA)
Auxiliar: Corey Parker (EUA)
VAR: Alejandro Hernandez (ESP)
Cartões Amarelos
Brasil: Militão e Bruno Guimarães
Camarões: Tolo, Kunde, Collins Fai
Cartão Vermelho
Camarões: Aboubakar