A psicanalista, professora universitária, pesquisadora e autora de uma série de livros, Ana Suy, chegou ao lotado Espaço Força e Luz do Auditório Barbosa Lessa, em Porto Alegre, animada por mais uma novidade em sua trajetória. Ela é semifinalista na categoria ciências do Prêmio Jabuti 2023, com o título “A gente mira no amor e acerta na solidão”, publicado pela editora Paidós.
Nesta quinta-feira (9), ela participou de uma conversa com a também psicanalista Diana Corso, como parte da programação da 69ª Feira do Livro de Porto Alegre. Na apresentação, Corso destacou a popularidade de Suy e atribuiu seu sucesso muito ao seu modo ao mesmo tempo profundo e simples de escrever. Ao que Suy completou citando os primórdios da psicanálise: “O próprio Freud já escrevia sobre seus medos e anseios”. Corso completou – “Freud falava colocando o fígado a prêmio”. E assim se deu a conversa, uma troca de livre de ideias.
Psicanálise e ciência
E ciência acabou sendo o gancho inicial para uma conversa bem fluida, no melhor estilo associação livre, que Suy e Corso tiveram. Psicanálise e Ciência, tema antigo, mas atualizado no contemporâneo brasileiro.
Recentemente, o livro “Que bobagem!: pseudociências e outros absurdos que não merecem ser levados a sério”, da microbiologista Natália Pasternak e do jornalista Carlos Orsi, apresentou contestações à validade científica da prática da psicanálise. Daí a admiração de Suy pelo fato de seu livro aparecer nesta categoria no Jabuti.
“Freud queria criar uma ciência, mas encontrava resistência, a Psicanálise não é uma visão de mundo. Ela é uma aliada da ciência mas não é ciência porque não se replica. Se for, é ciência da poesia, do singular”. Quanto ao prêmio, Corso foi enfática: “ Trata-se de um gesto político”.
Autoajuda
Além da ciência, a conversa transitou por outros assuntos frequentemente associados ao mundo da escrita. Suy citou o momento em que encontrou um de seus livros na temática “Autoajuda”, às vezes tão criticada por ser comercial e superficial. No entanto, ela disse não ver nisso um problema.
“Não me incomoda, por ser importante borrar fronteiras” (a transcrição não é literal, mas a ideia se manteve). Então se seguiu uma conversa sobre como esse atravessamento pode fazer entrar no universo popular as inquietações da psicanálise. Foi aí que temas como o amor, a amizade, a paixão e o desejo, surgiram no papo, sempre de forma poética.
Relação com a tecnologia
Suy falou sobre a presença de psicanalistas nas redes sociais, situação que estamos todos acostumados hoje em dia. Ela ponderou sobre exageros, mas concluiu que “estamos aprendendo a dosar”, processo para ela comum em qualquer sociedade.
As psicanalistas falaram também sobre o atendimento virtual, que ganhou força na pandemia. Nesse ponto, houve certa discordância. Suy citou Freud, recorrendo a uma máxima do autor que dá conta da ideia de que para haver psicanálise, basta que haja “resistência e transferência”. Já Corso disse sentir falta da presença do corpo em ambiente clínico.
Relações de gênero
Corso indagou Suy sobre o quanto o fato de ela ser mulher influi na sua produção e na relação com seu público, segundo ela, a maioria de mulheres, inclusive no auditório hoje à tarde. Suy concordou que há uma relação, mas disse não ter a intenção de escrever só para este público e citou ver cada vez mais homens como seus leitores.
Corso disse temer o apagamento do corpo da mulher, algo historicamente já ocorrido, mas agora neste contexto de crescimento de novas identidades. Ela citou contingências do corpo feminino como a cólica, a maternidade, o próprio jeito de amar, e a relação com a produção científica e outros.
Por fim, Suy foi perguntada sobre a necessidade de uma desconstrução nas relações amorosas. Então ela divagou em um pensamento livre, que deu a entender que isso muda com o tempo, mas sempre esteve presente nos questionamentos da psicanálise.