ECONOMIA ABALADA

Tarifa extra de 50% dos Estados Unidos sobre produtos do Brasil entra em vigor

Medida atinge 36% das exportações brasileiras e pode afetar 146 mil empregos. RS antecipou embarques para os Estados Unidos.

Foto: Casa Branca / Divulgação
Foto: Casa Branca / Divulgação

A nova tarifa de 50% imposta pelo governo dos Estados Unidos entrou em vigor na madrugada desta quarta-feira (6). Ela atinge produtos de diversos setores da economia brasileira. A sobretaxa foi aplicada a 36% das exportações nacionais. Portanto, deve impactar diretamente mais de 11 mil empresas brasileiras de médio porte, conforme estimativas do setor industrial.

A medida foi anunciada no início de julho pelo presidente Donald Trump. Ele justificou o tarifaço com críticas ao processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Mesmo com exclusões pontuais — como suco de laranja, aviões da Embraer e derivados de petróleo — o impacto nos setores agroindustriais e de manufatura já começou a ser sentido.

Entre os principais produtos atingidos estão o café, a carne bovina e as frutas frescas. Esses produtos perderam competitividade imediata nos Estados Unidos. Setores como o calçadista, de móveis e couro também devem sofrer os efeitos da tarifa. A FIEMG (Federação das Indústrias de Minas Gerais) estima a perda de até 146 mil postos de trabalho em dois anos, caso o cenário se mantenha. No Rio Grande do Sul, mais de 20 mil empregos estão em risco.

RS, SP e MG anteciparam embarques

Diante do início da vigência da nova taxação, empresas do Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais anteciparam o envio de cargas aos EUA. Um cargueiro deixou Porto Alegre na terça-feira (5) com 51 toneladas de produtos embarcados pelas empresas dos três estados. Elas tentam escapar da aplicação da tarifa.

Apesar de o impacto macroeconômico imediato ser considerado “controlado” — por conta da retirada de 700 produtos da lista original — os efeitos setoriais devem ser profundos, especialmente no agronegócio e na indústria de transformação.

Conforme o economista Ulisses Ruiz de Gamboa, do Insper, produtos como carne e café ficarão mais caros e perderão espaço frente aos concorrentes internacionais. Ele também aponta que itens não taxados poderão até baixar de preço no curto prazo, como reflexo da reorganização de cadeias logísticas.

Renan Pieri, da FGV, avalia que as empresas brasileiras afetadas terão redução de margens e podem diminuir o ritmo de produção. Isso impacta diretamente o emprego formal.

Governo busca plano de resposta

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, afirmou que o governo já trabalha em um plano de contingência. Possíveis medidas seriam similares às aplicadas durante a pandemia de Covid-19. O foco seria preservar a competitividade e os empregos nos setores mais atingidos. A Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos foi recebida pelo vice-presidente Geraldo Alckmin nesta quarta-feira. Eles trataram da crise.

O presidente Lula, por sua vez, descartou fazer um contato direto com Donald Trump neste momento. Ele afirmou que pretende convidá-lo à COP para discutir a pauta climática.