No Brasil, o debate sobre igualdade salarial é recorrente. Apesar dos avanços em várias frentes da sociedade, a disparidade salarial entre gêneros e grupos étnico-raciais ainda persiste como um dos desafios mais significativos no mercado de trabalho brasileiro.
Dados recentes revelam que, em média, as mulheres no Brasil ganham significativamente menos que os homens em posições equivalentes. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2023, as mulheres ganhavam em média 79,5% do salário dos homens.
Além disso, as mulheres negras enfrentam uma disparidade ainda maior, ganhando em média apenas 57,8% do salário dos homens brancos.
No Rio Grande do Sul, segundo o 1º Relatório de Transparência Salarial, que levantou dados de 3 mil empresas gaúchas com 100 ou mais funcionários, as mulheres ganham 22,4% a menos que os homens.
A diferença de remuneração entre homens e mulheres varia de acordo com o grande grupo ocupacional. No Estado gaúcho, em cargos de dirigentes e gerentes, por exemplo, chega a 34%. No recorte por raça, o relatório aponta que as mulheres negras, além de estarem em menor número no mercado de trabalho gaúcho, também recebem menos do que as mulheres brancas.
De acordo com a professora da área de Recursos Humanos Silvia Dal’ Alba, vários fatores contribuem para essa disparidade salarial persistente.
“Um dos principais é a discriminação de gênero e raça, que muitas vezes resulta em mulheres e pessoas de grupos étnico-raciais minoritários sendo sub-remuneradas em comparação com seus colegas masculinos e brancos. Além disso, as responsabilidades de cuidado, que ainda recaem desproporcionalmente sobre as mulheres, muitas vezes resultam em interrupções na carreira e oportunidades de trabalho reduzidas, afetando seus ganhos a longo prazo”, analisa.
Maiores dificuldades
Para Silvia , esse contexto não é apenas uma questão de justiça social, mas por dispor de consequências significativas nos níveis socioeconômicos mais amplos. Ela destaca que mulheres e pessoas de grupos minoritários que são sub-remuneradas enfrentam maiores dificuldades em alcançar a segurança financeira, investir em educação e melhorar suas condições de vida.
“Mulheres que são sub-remuneradas enfrentam um maior risco de pobreza e instabilidade financeira, especialmente aquelas que são chefes de família ou têm responsabilidades de cuidado. A igualdade salarial pode ajudar a reduzir a pobreza feminina e a promover o bem-estar econômico das mulheres e suas famílias. Além disso, quando o público feminino recebe salários justos, dispõe de mais recursos para gastar e investir, o que pode estimular o crescimento econômico e promover a estabilidade financeira em nível nacional”, ressalta.
Por fim, a especialista ressalta que a igualdade salarial é um componente importante da igualdade de gênero mais ampla, pois ao abordar as disparidades salariais, é possível avançar em direção a uma sociedade mais justa e igualitária.
“Hoje, a transparência salarial, por meio de políticas e legislações que identificam e corrigem essas disparidades, os incentivos para empresas que adotam práticas de pagamento justo e as ações afirmativas para aumentar a representação de mulheres em cargos de liderança e setores historicamente dominados por homens, são medidas essenciais para assegurar os direitos das mulheres”, afirma Silvia.