INVESTIGAÇÃO

Mais de 200 servidores estaduais são alvo de fraude com descontos na folha

Descontos determinados por decisões judiciais teriam mascarado empréstimos com juros abusivos.

Foto da mesa com cinco pessoas concedendo entrevista coletiva sobre descontos em folha de pagamento de servidores inativos. Duas pessoas da plateia podem ser vistas de costas.
Crédito: João Pedro Rodrigues/Secom

Uma auditoria da CAGE (Contadoria e Auditoria-Geral do Estado) identificou indícios de fraude em descontos realizados em contracheques de 243 servidores inativos do governo do Rio Grande do Sul. Os valores, que somam mais de R$ 1,5 milhão, foram aplicados entre 2021 e 2024 com base em decisões judiciais oriundas da Paraíba, e teriam sido usados para mascarar empréstimos com juros abusivos.

A investigação foi aberta a pedido da Sefaz (Secretaria da Fazenda) e revelou que os descontos eram lançados como “contribuições associativas”. Ou seja, com parcelas mensais e prazo determinado. Por se tratarem de ordens judiciais, a Fazenda era obrigada a incluí-los na folha. Mesmo em casos em que o contracheque já havia atingido o limite legal de 40% de consignações facultativas.

A secretária da Fazenda, Pricilla Santana, destacou que a auditoria foi solicitada em dezembro de 2024 como medida preventiva. Os dados foram enviados para a SSP (Secretaria da Segurança Pública), o MP-RS (Ministério Público do RS) e a PGE-RS (Procuradoria-Geral do Estado).

Descontos suspensos e valores bloqueados

A PGE ingressou com ação para suspender os repasses e transferir os valores para uma conta judicial, o que foi acatado pela Justiça. Somente em abril, os descontos somaram cerca de R$ 87 mil, que agora estão sob custódia do Judiciário.

Conforme o procurador-geral do Estado, Eduardo Cunha da Costa, a medida visa preservar os direitos dos servidores e garantir a segurança jurídica dos gestores estaduais. Já o contador e auditor-geral do Estado, Carlos Rodrigues, ressaltou que o controle interno atua de forma contínua para coibir fraudes semelhantes.

Ações na Paraíba e apoio às vítimas

As investigações envolvem duas empresas com sede na Paraíba, que teriam aplicado o mesmo golpe em diversos Estados. A promotora de Justiça Carla Frós, do MP-RS, afirmou que buscas e apreensões foram realizadas naquela unidade da federação, onde tramitavam as decisões judiciais utilizadas para viabilizar os descontos.

A Central de Atendimento às Vítimas do MP-RS fará contato com todos os servidores lesados para garantir assistência, apoio jurídico e prevenção a novos prejuízos.

Golpe é diferente do caso do INSS

As autoridades esclarecem que o caso não tem relação com a fraude contra o INSS noticiada em nível federal. Neste caso, não há indícios de envolvimento de servidores públicos nem de desvio de recursos do Tesouro gaúcho. O diferencial é a presença de decisão judicial em todos os 243 casos identificados.

Margem de consignação no Estado

Desde março de 2023, o RS limita os descontos facultativos na folha a 40% da remuneração líquida, sendo 5% reservados exclusivamente ao cartão de crédito consignado. A regra vale para ativos, inativos, militares, contratados e pensionistas, com o objetivo de reduzir o endividamento e prevenir fraudes com empréstimos.