A cotação do dólar fechou acima dos R$ 6 pela primeira vez desde a criação do Plano Real, em 1994. O resultado ainda é reflexo do anúncio do pacote fiscal que prevê corte de gastos e do aumento do limite de isenção do Imposto de Renda, detalhados pelo governo na quinta-feira (28). A bolsa de valores iniciou o dia em queda, mas reverteu o movimento e encerrou em alta de quase 1%.
O dólar comercial encerrou esta sexta-feira (29) vendido a R$ 6,001, com alta de apenas 0,19%. A cotação começou o dia com tensão, chegando a R$ 6,11 na máxima do dia, por volta das 10h15, mas desacelerou após declarações do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Em valores nominais, esta é a maior cotação desde a criação do real. A divisa subiu 3,21% na semana e encerrou novembro com alta de 3,8%. O euro comercial encerrou o dia com alta de 0,41%, vendido a R$ 6,348. O Banco Central não interveio no câmbio.
Mercado queria corte, mas viu conteção de gastos
Os principais agentes do mercado financeiro esperavam um corte maior que os R$ 70 bilhões em dois anos e os R$ 327 bilhões em cinco anos propostos pelo Executivo. A avaliação é do diretor-executivo do Brasil no FMI (Fundo Monetário Internacional) e professor de economia licenciado da UnB (Universidade de Brasília), André Roncaglia.
“O mercado esperava um pacote de cortes e o que veio foi um pacote de contenção do crescimento dos gastos. O mercado ficou frustrado porque esperava um caminho mais austero. No sentido de efetivamente reduzir a quantidade de dinheiro gasto no agregado pelo governo. O que o governo entregou foi diminuir o quanto vai aumentar o gasto”, explicou.
Efeito Trump
O professor André Roncaglia também alerta para o fator externo, em especial, a instabilidade do real no mundo. Conforme o especialista, o Real é a terceira moeda mais usada no mercado de derivativos, que é um tipo de ativo financeiro ligado à especulação. A moeda brasileira fica atrás apenas do dólar e do euro nesse mercado.
“Isso faz do real uma moeda excessivamente volátil. Qualquer espirro que aconteça no plano internacional se traduz aqui com um resfriado, uma gripe ou até algo mais grave como uma pneumonia”, explicou.
Para Roncaglia, como há uma incerteza em relação à política dos Estados Unidos, os juros por lá tendem a se manter elevados.
“Quando os juros nos EUA estão altos a gente tende a perder muito mais dólares proporcionalmente aos nossos pares da periferia do sistema por essa característica específica do real. Ou seja, a combinação desses elementos externos faz com que a reação associada ao pacote fiscal interno agrave um processo que já está ocorrendo no plano internacional. Que é o dólar se valorizar perante todas as moedas, particularmente as moedas dos países em desenvolvimento”, enfatizou.
Mercado de ações
No mercado de ações, o dia foi marcado pela recuperação. Após uma manhã turbulenta, o índice Ibovespa, da B3, fechou aos 125.668 pontos, com alta de 0,85%. Por volta das 11h30, o indicador chegou a cair 0,53%, mas reverteu o movimento e passou a subir durante a tarde.
Apesar do avanço desta sexta, a bolsa de valores perdeu 2,46% na semana, o pior desempenho semanal desde meados de setembro. Em novembro, o Ibovespa encolheu 2,9%.