MEMÓRIA DA CAPITAL

Os Caminhos da Matriz contam mais histórias

Uma Biblioteca com inspiração positivista, o "Forte Apache" da Capital e a Casa Rosada receberam visitas na edição dos Caminhos da Matriz.

Arte sobre fotos de Thiago Xavier / Agora RS
Arte sobre fotos de Thiago Xavier / Agora RS

Não foi um clima cinzento ou uma ameaça de chuva que desmotivou a imersão na história. A edição de julho dos Caminhos da Matriz, no dia 27, nos conduziu a um passeio incrível na história de Porto Alegre. O ponto de encontro, como de costume, é no monumento a Júlio de Castilhos, na Praça da Matriz. A partir dali somos guiados a passear pelas décadas passadas. Apesar de participar de outras edições, é interessante como sempre percebemos algo novo ou diferente, tornando cada experiência única.

A imersão começa desde o início, conhecendo os motivos de a praça Marechal Deodoro ser um local tão importante e simbólico. Não vou entrar em muitos detalhes, pois quero te motivar a participar um dia desse evento. Na minha primeira vez, curioso que sou, fui surpreendido com a riqueza de detalhes e histórias que nos são apresentados. Se você, assim como eu, aprecia passeios assim, esse é um que você precisa conhecer. Mas antes, deixa te contar como foi a última edição.

Crédito: Thiago Xavier / Agora RS

Inclusive o monumento a Júlio de Castilhos merecia um evento a parte. A cada edição do Caminhos surge um detalhe ou uma curiosidade nova sobre ele. Ou seja, história é que não falta para se contar e explorar.

A maior biblioteca pública do Rio Grande do Sul

Nossa primeira parada é a Biblioteca Pública do Estado, acho que já expressei anteriormente meu amor aos livros. Então nem preciso dizer a emoção que foi visitar esse lugar, não é?! Como o espaço interno era um tanto pequeno para o grande grupo que tínhamos, nossa primeira mediadora começou a contar um pouco da história do lado de fora. A edificação é lindíssima para se apreciar. Interessante poder apreciar lugares que tantas vezes passamos pela frente e nem percebemos devido as atividades diárias.

A maior biblioteca pública do Rio Grande do Sul foi criada em 1871. Conta História, com “H” maiúsculo mesmo, tanto no seu exterior quanto interior. Sua construção apresenta influência da doutrina positivista, utilizando vários estilos em sua representação. Na fachada, podemos perceber 12 bustos, vindos da França, tais como Júlio César, Gutemberg e Descartes. É como se fosse um calendário postivista. Iniciamos a visita pela Gibiteca e, posteriormente, ingressamos no interior da biblioteca, tão lindo quanto seu exterior.

Crédito: Thiago Xavier / Agora RS

A biblioteca já passou por algumas reformas, mas procurando sempre preservar a sua originalidade. Com exceção de algumas paredes, que foram tapadas por tinta cinza, na década de 1950, por ordem de um de seus diretores. O mesmo acreditava que as imagens poderiam distrair ao leitor. Mas existe estudo para se recuperá-las. Atualmente é possível tanto visitar para conhecer a biblioteca, como se cadastrar e escolher livros para empréstimos ou até mesmo ir efetuar pesquisas nos arquivos.

O “Forte Apache”

Seguindo nosso roteiro, a próxima parada foi o Memorial do Ministério Público, popularmente conhecido pela população como “Forte Apache”. Além de algumas curiosidades, podemos ver algumas fotos e conhecer um pouco mais da antiga Porto Alegre. Imagens de como era a configuração original do Palácio antes e após a reforma; como era a antiga fonte que ficava na Praça da Matriz, antes da construção do monumento; o Theatro São Pedro, com o Palácio da Justiça e até mesmo a concha acústica do Araújo Viana, quando o mesmo também ficava em torno da Praça da Matriz.

Palacio do Ministério Público do RS, conhecido como “Forte Apache”. Crédito: Arquivo Público do Rio Grande do Sul / Arquivo

Uma curiosidade: o apelido de “Forte Apache” é recente. A estimativa dos historiadores é que o nome tenha surgido a partir dos anos 1960, por causa de um brinquedo infantil. O motivo provável é o torreão que fica de frente para a esquina da Jerônimo Coelho com a Praça da Matriz. Ele lembra as torres de observação do brinquedo.

A edificação mais antiga da cidade

Encerrando o nosso roteiro, porém não menos importante, o Memorial do Legislativo. Mesmo já conhecendo de outra edição do Caminhos, foi uma experiência tão gostosa quanto da primeira. Como comentei no início, a gente sempre acaba descobrindo algo novo. A “Casa Rosada”, construída em 1790, é até hoje a edificação mais antiga da cidade.

Após ter sido “casa” em diversas situações, Sede da Provedoria da Real Fazenda, Câmara Municipal, cadeia, sede da Assembleia Provincial e da Assembleia Legislativa, ainda abrigou secretarias e órgãos do Poder Executivo. Hoje, o casarão abriga – além de muitas histórias – um acervo com fotos, documentos devidamente arquivados, mobiliários antigos que ao mesmo tempo que contam fazem parte da história do Parlamento gaúcho. Sendo possível não somente visitarmos para conhecer, mas também para fazer de uso como fonte para pesquisas.

Memorial da Assembleia Legislativa, edificação mais atinga de Porto Alegre. Crédito: Thiago Xavier / Agora RS

Algo que chamou atenção na fala da mediadora era que antigamente, quando a Casa Rosada ainda recebia debates políticos, as pessoas participavam, ativamente, assistindo. Teve tempos que os jovens saíam dos colégios próximos para poder acompanhar o que os debates. Hoje, infelizmente, se tornou um hábito distante da população. Se tornou algo “chato”, fora do habitual. Mas, querendo ou não, é algo importante de se acompanhar. Afinal muitas vezes é a decisão do nosso futuro em jogo.

Além de tudo isso o Memorial do Legislativo conta com algumas publicações incríveis. A mais recente, em celebração aos 200 anos da Imigração Alemã, um livro sobre a trajetória e discursos na Assembleia Provincial de Carlos von Koseritz. Sem contar com outras publicações, que como a mediadora mesmo se referiu, são motivo de muito orgulho da casa.

Mix de sensações

A termina o passeio com um mix de sensações, ansiedade pelo próximo e conhecer outros lugares, curiosidade em visitar com maior tempo os que já estivemos, mas acredito que o mais interessante é poder ver a cidade com um olhar diferente. Perceber que, por trás dos prédios, existe muita história e beleza para se contemplar. É muito importante valorizarmos momentos assim, e foi lindo de ver que (apesar de o clima não estar dos melhores) um grupo expressivo de pessoas estava de fato interessada em conhecer e aprender mais. O que torna a experiência de participar de Os Caminhos da Matriz um evento tão único e especial.

E quem sabe a gente não se encontra no próximo? Aproveite, segue o projeto nas redes sociais e fica comigo aqui no +Cultura para ficar por dentro das novidades. Um abraço do Thi, até a próxima.