Cultura

A subjetividade especulativa

A concentração de lucros em grandes gestoras como a BlackRock redefine políticas e afeta o futuro social e ambiental

Imagem: Cr-AI-tive / Divulgação / Pixabay
Imagem: Cr-AI-tive / Divulgação / Pixabay

Boa parte dos lucros da economia mundial hoje se encontra concentrada em fundos de investimentos. Um exemplo emblemático é o da BlackRock, uma empresa gestora de fortunas que administra algo em torno de U$ 10 trilhões, valor maior que os gastos do orçamento dos EUA.

Por drenarem lucros de empresas do mundo inteiro, essas organizações adquirem cada vez mais um poder transnacional. Afetando, dessa forma, mesmo as decisões da política interna dos países.

A Petrobras foi um caso recente do fenômeno. Quando, em nome da remuneração dos investidores, passou-se a aumentar descontroladamente o valor dos combustíveis, sem qualquer base real.

O negócio é relativamente simples. Não há produção efetiva, apenas fluxo de lucros para um mesmo lugar, onde passa-se a re.. re.. re.. metabolizar esse dinheiro. Tudo isso, com maximização das vendas para retorno o mais imediato possível.

Acontece que essa falta de base afeta os destinos dos que não vivem nesse círculo. A cada dia aumentam catástrofes de toda ordem no mundo, ligadas à exploração da terra e das pessoas. É preciso sempre extrair mais, já que sempre se projetam novos lucros, ainda que a cada dia essa fonte de recursos se mostre de maneira limitada.

Então há nesse momento uma encruzilhada, fruto desse choque entre o que o “andar de cima” projeta para o futuro e o que o mundo consegue suportar. A disputa política tende a ser a daqueles que não querem ser descartados contra os que em nome do pragmatismo do lucro se desfazem daquilo de onde não se pode mais tirar energia.

E, evidentemente, todo esse processo tem implicações subjetivas. Vale lembrar que os fundos controlam as empresas gigantes da comunicação, e que, assim, os produtos que essas empresas entregam devem seguir essa lógica de maximização. No caso da internet, incluindo espaços como as redes sociais, esse fenômeno se apresenta através do funcionamento dos algoritmos.

Consumir mais, ser mais, se informar mais, apostar mais, até o limite do insuportável. Mas conforme essa tríade formada pelo mundo virtual, o mundo real e o mundo da especulação avança, suas contradições e paradoxos se tornam mais visíveis.

Na vida prática, isso se reflete naquele pensamento “danem-se as dívidas, eu quero é aproveitar”. Ou seja, as pessoas de modo geral já se depararam com o esgotamento de um mundo em declínio. Mas, o que fazer com a existência? Temos ainda alguns anos pela frente e um mundo a vislumbrar, ainda que este não seja mais o mesmo.

Além disso, esse modo como as pessoas funcionam gera uma tendência de aceleração. Não há indicativos de que o caminho será o da reflexão crítica, pelo menos por enquanto. Todos estão dispostos a levar a produção às últimas consequências, mesmo que isso envolva falência e problemas psíquicos. Afinal, diante de tantos fluxos, extrações e multiplicações, seguimos nos guiando pela incógnita da felicidade.