Por Ananda Müller
Dois anos do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, muita coisa mudou na cidade de aproximadamente 260 mil habitantes localizada na região central do Rio Grande do Sul. Entre pontos positivos e negativos, alguns ganham destaque e acabam virando notícia. Existe, agora, um maior cuidado com a segurança em espaços públicos e privados, e o santa-mariense passou a observar os locais que frequenta.
Quem costuma ir às casas noturnas da cidade, por exemplo, tem encontrado mais sinalização, saídas de emergência e respeito às lotações máximas, exigências legais decorrentes da tragédia de janeiro de 2013. Para garantir essa segurança, um grupo sem qualquer ligação formal com o Estado ou com o município foi formado especificamente para fiscalizar o cumprimento das regras vigentes. São sobreviventes do incêndio e amigos de vítimas que se uniram para evitar novas tragédias.
Entre as organizadoras dessa ‘força-tarefa’ está a sobrevivente Jéssica Rosado, 22 anos. Ela é irmã de Vinícius Rosado, que também estava na casa noturna no dia 27 de janeiro de 2013, mas não está mais aqui para fazer parte dessa história. A ausência física, no entanto, não impede que a memória de Vinícius siga atuante junto a causas sociais.
“É pelo meu irmão e por todo o trabalho social que ele fazia em vida, e que eu tenho certeza que ele seguiria fazendo, que estamos realizando tudo isso”. Questionada sobre os motivos que levaram o grupo a sair às ruas pedindo segurança para a população, Jéssica responde que buscar o melhor para fazer a cidade renascer é a forma que encontrou para superar o trauma.
A associação “Ah, Muleke!”, criada em homenagem a Vinícius e aos amigos Danilo e Rogério, atua junto a comunidades carentes e grupos de apoio a pessoas com câncer. A vontade de viver superou a dor e o medo. O desejo de ver Santa Maria como antes fez com que Jéssica fosse impulsionada a seguir em frente. “Nós entramos nas casas, nos bares, e conversamos com as pessoas. Orientamos para que evitem o uso excessivo de álcool e não consumam drogas, além de salientar a necessidade de observar as normas de segurança dos locais”, diz.