Já faz cinco anos que o dia 27 de janeiro é cercado por homenagens em Santa Maria. Em 2013 este dia foi tomado pela trágica e chocante notícia. Duzentos e quarenta e duas pessoas, a maioria jovens e universitários, haviam morrido. O motivo um incêndio em uma boate, a Kiss.
A tragédia ainda deixou mais de 630 feridos físicos. Milhares, de feridos emocionalmente. Pais, mães, irmãos, avós, tios, sobrinhos… Parentes daqueles que perderam a vida naquela noite de 27 de janeiro de 2013.
Reportagem da edição impressa deste domingo do jornal Folha de S.Paulo retrata bem a tragédia para quem sobreviveu. E o quadro similar de quem perdeu alguém naquela noite.
Apenas 80 pessoas seguem em atendimento psicológico ou psiquiátrico constante. Apesar do ditado popular, que o tempo ajuda a apagar as marcas, quem viveu aquele dia de perto não esquece. E a demora do processo que corre na Justiça acentua ainda mais a dor.
Arrastadas para a depressão, nem todas as vítimas conseguiram se recuperar do abalo do 27 de janeiro de 2013. Nesses últimos seis anos, o desalento levou a vida de 18 sobreviventes, a maioria por suicídio. Outros por não sequência de tratamentos de saúde após o incêndio.
E outras 27 mortes de pais de vítimas estão diretamente ligadas à tragédia. Neste caso, a maioria dos genitores desistiu de lutar contra doenças em que há tratamento, como câncer, após as perdas dos filhos.
Agonia da espera
Não ver o processo contra os acusados andar corrói a alma de quem luta para se reerguer após aquela noite. A ação que pode condenar os quatro réus por 242 homicídios culposos – ou seja, sem intenção de matar – e 636 tentativas de homicídio culposas. São acusados por esses crimes os sócios da boate, Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann, e os integrantes da banda “Gurizada Fandangueira”, Luciano Bonilha e Marcelo de Jesus.
O julgamento não tem data para ocorrer e não contará com júri-popular porque o TJ-RS (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul) avaliou que o incêndio não foi provocado de forma intencional. Já o MP-RS (Ministério Público) resolveu recorrer da decisão. A decisão sobre o imbróglio jurídico está para ser decidido pelo ministro Rogerio Schietti Cruz, do STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Enquanto uma decisão não sai, o prédio que abrigou a boate não será destruído para a construção de um memorial. A decisão foi tomada pela Associação de Familiares da Kiss, que obteve licença para este fim. O projeto ficou pronto no fim do ano passado, mas sua construção segue em compasso de espera, aguardando uma definição para o caso.
A tragédia da Kiss é o segundo maior incêndio com fatalidades a ser registrado no Brasil. É maior que o, até então, mais letal ocorrido em boates: o da República Cromañón, que matou 194 pessoas e feriu 1.432, em 2004, na Argentina.
Ambos foram causados por pirotecnia em ambiente fechado, teto revestido com material altamente inflamável, superlotação, falta de saídas de emergência. No caso argentino, havia suborno para não realização de vistorias. No caso brasileiro, as vistorias sequer eram feitas de maneira adequada.