Senadores divergem sobre rumos da pauta do Senado após queda de Renan

Assim que a notícia sobre a liminar do ministro STF (Supremo Tribunal Federal), Marco Aurélio Mello, determinando o afastamento do presidente do Congresso Nacional, Renan Calheiros (PMDB-AL), chegou ao Senado, diversos senadores começaram a se dirigir à Casa para repercutir a situação.

No Palácio do Planalto, onde estava para uma reunião da bancada governista com o presidente Michel Temer sobre a reforma da Previdência, o líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), foi o primeiro a falar e repercutir o assunto. Cauteloso, Jucá disse que é preciso conhecer a decisão em detalhes, mas desclassificou a possibilidade de que ela seja uma retaliação do STF à pauta defendida por Renan Calheiros no Congresso.

“Como é que eu vou achar que uma decisão de um ministro do Supremo é uma retaliação por alguma coisa? Pelo contrário, o ministro Marco Aurélio é um ministro sério, firme, que tem suas convicções. Não conheço a decisão. Vamos ler, mas decisão do Supremo se cumpre e se recorre se for o caso. Também não conheço e não sei se cabe recurso. O presidente Renan vai avaliar com todo o cuidado, com todo o equilíbrio, com todo o respeito ao Supremo”, acrescentou.

Para o líder da minoria na Casa, senador Lindbergh Farias (PT-RJ), o afastamento do presidente configura uma “crise institucional gravíssima”, que deve se refletir na pauta da Casa. Lindbergh Farias reiterou que vai conversar com o primeiro vice-presidente, senador Jorge Viana (PT-AC), para que, ao assumir o posto vago, retire de pauta a proposta de emenda à Constituição 55/2016, que trata do Teto de Gastos Públicos pelos próximos 20 anos.

“Vivemos uma crise política, econômica e uma gravíssima crise institucional. O que eu sei é que, com essa decisão, o Senado Federal não tem condição de votar a PEC 55. Vai assumir o Jorge Viana. Nós vamos conversar com ele, pedir que ele desmarque a votação dessa PEC [em segundo turno]”, declarou o senador. Segundo ele, “não dá para o Senado fingir que não está acontecendo nada” e seguir com a pauta de votações marcada para ocorrer até o fim do ano.

Para o senador Paulo Paim (PT-RS) “não é assim” que as coisas devem caminhar. Embora também contrário à PEC, Paim lembrou que o calendário de votação dela foi definido em acordo com os líderes partidários e somente um novo acordo com todos os partidos poderá modificar a decisão. “A vontade da maioria foi essa. Queiramos ou não, a maioria tem essa posição”, lembrou.

Apesar disso, ele defendeu que o Senado “dê um tempo e jogue a decisão para fevereiro”. “Entendo que é difícil. Houve um acordo firmado por todos para votação em segundo turno no dia 13. Mas, se todos entenderem que há uma instabilidade – política, especialmente – que reflete no social e no econômico, esse tema, mediante acordo, pode muito bem ficar para fevereiro. Mas veja bem: mediante acordo. Como democrata, devo sempre respeitar a vontade da maioria”, afirmou.

A possibilidade de adiamento da pauta do Senado, especialmente da PEC 55, também foi rechaçada por líderes governistas. Para o líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), “há pauta do Senado está mantida”.

“Essa é uma decisão liminar. O que precisa é que o plenário do Supremo se reúna o mais rapidamente possível para resolver essa questão definitivamente. Não pode o funcionamento de uma casa legislativa ficar pendente de uma decisão liminar. É preciso que o Supremo se reúna e resolva essa questão”, cobrou Ferreira.

No mesmo sentido, o líder do PSDB, senador Paulo Bauer (PSDB-SC), também pediu que o pleno do Supremo decida se mantém ou derruba a liminar de Marco Aurélio Mello. Independente disso, ele também garantiu que “não prejudica nenhuma votação”.

“Talvez tenhamos algum atraso, alguma dificuldade no debate, na discussão dos temas, mas isso não vai atrapalhar e nem impedir que se cumpra o calendário pré-estabelecido”, concluiu Paulo Bauer.

Jucá diz que afastamento de Renan não prejudicará votação da PEC dos Gastos

Romero Jucá durante entrevista. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil (Arquivo)

O líder do governo no Congresso, senador Romero Jucá (PMDB-RR), disse nesta segunda-feira (5) que o afastamento do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidência do Senado não prejudicará votações consideradas importantes para o governo, como a Proposta de Emenda à Constituição 55, que cria um teto de gastos para as despesas públicas nos próximos 20 anos.

“Existe um calendário acertado com o [ex] presidente Renan, com toda a Mesa Diretora, com os líderes e com os partidos. Esse calendário será respeitado, independentemente de quem esteja presidindo a sessão”, minimizou Jucá.

Com o afastamento de Renan Calheiros por decisão do ministro Marco Aurélio Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), quem assume a presidência do Senado é o vice, senador Jorge Viana (PT-AC), que tem posição contrária à PEC do Teto de Gastos. Como presidente, ele tem a prerrogativa de pautar as matérias que serão votadas pelo plenário da Casa.

Logo após a decisão do STF, o líder da minoria no Senado, Lindbergh Farias (PT-RJ), informou que pediria ao novo presidente da Casa o adiamento da votação da PEC. Segundo ele, diante da instabilidade institucional, não há clima para votação da proposta

Para Jucá, no entanto, prevalecerá o acordado com as lideranças antes do afastamento do colega de partido da presidência da Casa. “Iremos cumprir o acordado com os senadores e com o país. Portanto, o calendário de votar o segundo turno [da PEC] no dia 13 e promulgar no dia 15 está mantido, independentemente de qualquer decisão judicial”, afirmou o líder do governo no Congresso.

Já o vice-líder do governo na Câmara, deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), disse acreditar que o afastamento de Renan Calheiros compromete a votação da PEC do Teto de Gastos. “Foi uma decisão irresponsável. Tem de ter noção do quadro fiscal. Isso [o afastamento] compromete a PEC. Isso é não ter visão”, reclamou Perondi.