Cotidiano

Seminário da Fundação CEEE debate perspectivas para o próximo governo federal

O presidente eleito Jair Bolsonaro terá como principal desafio a articulação política e diálogo com a sociedade, fundamentais para poder avançar em seu plano de governo e recolocar o Brasil na rota de crescimento. Esse foi o consenso entre os palestrantes da 20ª edição do Seminário Econômico da Fundação CEEE Aod Cunha, ex-secretário estadual da Fazenda; Rodrigo Telles da Rocha Azevedo, economista; e Vladimir Safatle, doutor em filosofia. O evento aconteceu na quarta-feira, 21, no Centro de Eventos do Barrashopping Sul em Porto Alegre. Os palestrantes propiciaram uma rica tarde de reflexão e debate das perspectivas sobre o Brasil para um público de cerca de 500 pessoas.

O presidente da Fundação CEEE, Rodrigo Sisnandes Pereira, destacou a satisfação em promover a 20ª edição do seminário, conhecido nacionalmente pelos profissionais dos setores financeiro e de investimentos por debater as perspectivas macroeconômicas do país. “Ficamos muito satisfeitos com a temática e abordagem dos palestrantes em um ano marcante, com expectativa muito grande de como será a nova gestão federal. Nós estamos otimistas e acreditamos que o País vai reencontrar a sua rota de crescimento”, avaliou Pereira.

Ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Azevedo afirmou que a agenda econômica do novo governo será determinante para seu sucesso. A seu favor estará um cenário interno favorável, com elevado superávit comercial, contas externas organizadas, taxa de câmbio relativamente depreciada e empresas desalavancadas e com capacidade ociosa, prontas para produzir mais sem pressão inflacionária. “O ambiente é favorável aos negócios. As incertezas são relativas à capacidade de articulação de Bolsonaro e sua equipe no sentido de buscar o consenso e fazer essa agenda evoluir”, disse.

Mas, se do ponto de vista cíclico o cenário é positivo, do ponto de vista fiscal é a situação mais dramática dos últimos 30 anos, ponderou Azevedo. “Os Estados estão em situação lastimável. Não podemos repetir o erro da Argentina e fazer um ajuste fiscal gradual, especialmente considerando que a perspectiva do cenário externo menos favorável pode reduzir a oferta de financiamento”, ponderou.

Bolsonaro contará com a boa vontade do mercado no início de sua gestão e com a perspectiva de crescimento do Brasil de 2,5%, em 2019. Mas, segundo Azevedo, a aprovação das reformas essenciais condicionarão o que acontecerá de 2020 para frente.

Reforma Tributária, abertura comercial e discussões de ajustes com os estados são pontos de destaque na agenda de Bolsonaro, mas o tema do próximo ano será a aprovação da reforma da previdência, processo que testará a sua capacidade de governabilidade, afirmou Aod Cunha. Segundo ele, a agenda econômica na largada será importante para a sustentabilidade política do governo, e o primeiro passo é buscar o equilíbrio fiscal. Para Cunha, o ponto nevrálgico é a capacidade política de aprovar reformas que exigem muita negociação com a sociedade.

Outro tema que vai atropelar o governo federal até mais rápido do que a reforma da previdência é o alto endividamento os estados, entre eles o Rio Grande do Sul, além de Minas Gerais e Rio de Janeiro. “Será importante rediscutir a Lei de Responsabilidade Fiscal, especialmente no que diz respeito ao limite de gasto de pessoal com a receita líquida”, afirmou. Cunha defende a união dos governadores a partir de uma proposta conjunta de negociação junto ao governo federal. Aumentar a produtividade também é uma agenda desafiadora para reduzir o impacto do fenômeno demográfico de envelhecimento da população brasileira.

Coube a Safatle fazer um contraponto em relação às expectativas. Ele entende que o governo eleito se encaminha para um ambiente de crise permanente por ser incapaz de estabelecer diálogos com diferentes setores da sociedade brasileira, que é complexa e plural. “Qualquer governo precisa levar isso em conta. Uma agenda econômica de reformas muito profundas como a que Bolsonaro propõe precisaria de um pacto com a sociedade. Não dá para pensar em economia sem política para conseguir adesão social”, destacou. Para Safatle, o primeiro elemento de governabilidade seria apaziguar o país, que está dividido.