Ele é cearense, mas escolheu Porto Alegre (RS) para morar, pois chegou aos 12 anos ao Sul, junto com a família. José Haroldo Loureiro Gomes, de 63 anos, ou Arataca, como é mais conhecido, treina desde 1980 a equipe de atletismo da Sociedade de Ginástica de Porto Alegre (Sogipa), clube multiesportivo. Apaixonado pelo que faz, ele conversou com a Agência Brasil sobre as chances do Brasil na Olimpíada de Tóquio (Japão), adiada para o ano que vem, e sobre as descobertas de talentos no atletismo, durante as quatro décadas de atuação na Sogipa.
O treinador recorda com carinho que foi o responsável por levar o primeiro atleta do clube à uma edição de Jogos Olímpicos. “Foi o Jorge Teixeira, do salto triplo, em Seul 1988. Depois, ele conseguiu também participar da Olimpíada de Barcelona 1992”.
De lá para cá, a lista de atletas talentosos que passou pelas mãos do Arataca não parou de crescer. Fabrício Romero e a medalhista pan-americana Luciane Dambacher, do salto em altura, o campeão sul-americano sub-20 e sub-23 do salto em distância, Samory Uiki, e a triplista finalista do Mundial de Berlim 2009 e participante dos Jogos Olímpicos de Pequim 2008, Gisele Lima de Oliveira, são alguns deles. E também é da equipe treinada por ele uma das principais promessas do salto triplo da atualidade no Brasil, Almir Júnior. A marca de 17 metros e 15 centímetros deu ao brasileiro o bronze no Meeting de La Chaux-de-Fonds, na Suíça, em junho do ano passado, e o índice olímpico para os Jogos de Tóquio.
Mas o técnico acredita que o garoto de 26 anos pode ir bem mais longe. “Ele é um cara que tem muita habilidade. Tem pouco treinamento na prova do salto triplo. A idade cronológica dele é de 26 anos, mas a idade de treinamento, que é a que conta, ainda é muito pequena. O Almir tem saúde para seguir saltando em alto nível até os 32, 34 anos. Ele tem condição de bater os 18 metros, quebrando as marcas do João do Pulo, que é 17m89cm, e do Jadel Gregório, 17m90cm”, aposta Arataca.
O talento do atleta mato-grossense para o salto triplo foi descoberto justamente pelo treinador do clube gaúcho. Almir Júnior adotou a modalidade apenas aos 23 anos. Escolha até certo ponto tardia, porque até essa idade ele praticava outro tipo de salto, o salto em altura, prova que começou a disputar aos 14 anos em função do seu biotipo, já que tem pernas muito longas.
O técnico Arataca levou o garoto da cidade de Peixoto de Azevedo, no interior do Mato Grosso, à capital gaúcha e mostrou os novos horizontes que o atletismo poderia oferecer ao atleta. “A mudança foi algo sensitivo. Ele chegou aqui no final de 2009, tinha sido campeão em diversas categorias de base. Chegou a saltar 2,19 m. Bom resultado em nível juvenil. Mas faltava o próximo passo. Ele treinava bastante provas de velocidade com barreiras. Depois, no final de 2016, ele participou apenas para completar a equipe na prova do salto triplo, nos Jogos Abertos do Interior de São Paulo. E ficou em segundo lugar, perdendo por apenas um centímetro para o Jean Casemiro, líder do ranking brasileiro na época. Foi aí que surgiu a ideia, era início de 2017”, recorda.
Hoje, pouco mais de três anos depois, ele já é o terceiro melhor atleta de toda história do salto triplo do Brasil. O primeiro é Jadel Gregório (17,90 m) e o segundo é João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, (17,89 m), com a melhor marca em provas oudoor: 17,53 m, no Meeting Internacional de Guadalupe (Caribe), e 17,46 m, em provas indoor, no Meeting Internacional de Kent (Ohio-USA).
“Em 2018, ele [Almir] foi segundo lugar no Ranking Mundial Indoor e terceiro no outdoor. No ano passado, foi terceiro no ranking mundial indoor e oitavo no outdoor. Além de ter conquistado a medalha de prata no Mundial Indoor na Inglaterra em 2018. Aquele foi o primeiro Mundial dele e tudo isso em pouco menos de um ano de salto triplo. É um cara que pode escrever outros belos capítulos nessa que é a prova que mais trouxe medalhas olímpicas para o nosso país”, acredita Arataca.
Vale lembrar que no salto triplo, o Brasil ganhou dois ouros com Ademar Ferreira da Silva (1952/1956), uma prata com Nelson Prudêncio (1968) e três bronzes, dois deles com João do Pulo (1976/1980) e o outro com Nelson Prudêncio (1972).
Pandemia
Apesar de vários estados brasileiros ainda estarem sofrendo muito com o novo coronavírus (covid-19), no Rio Grande do Sul, onde o número de casos foi relativamente menor se comparado ao restante do país, vários clubes já retomaram as atividades esportivas, respeitando as normas impostas pelos órgãos de saúde. E com a Sogipa não foi diferente. Mas o Almir Júnior ainda está na sua cidade natal e deve se juntar ao grupo apenas nesta quinta-feira (06). “Nós voltamos a treinar há 15 dias. Mas, diferentemente de outras modalidades do clube, nós do atletismo estamos em uma situação um pouco mais confortável. Além do Almir já estar garantido em Tóquio, as competições oficiais valendo índices, ou que contem pontos para o Ranking Mundial Olímpico, só retornarão em dezembro deste ano. Assim, estamos voltando aos poucos. Temos outros dois atletas, Samory Uiki, do salto em distância, e o Saymon Hoffmann, do lançamento do disco, com chances reais de uma vaga. Estamos reiniciando aos poucos com eles. O Almir recebeu uns dias de “destreinamento”, seguidos de férias. Está com o pai dele em Mato Grosso, mais isolado do vírus. Na quinta-feira (6), ele deve estar de volta aqui com a gente.” garantiu o treinador. .