Levantamento inédito da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) mostra que quatro (39%) em cada dez lares da região metropolitana de São Paulo são comandados por mulheres. No grupo, o arranjo familiar que predomina (46%) é aquele em que elas sustentam filhos e/ou netos, sem a presença de um cônjuge.
A sondagem possibilitou, ainda, a detecção de uma disparidade entre a renda das famílias chefiadas por homens e as comandadas por mulheres. Naquelas em que chefes são mulheres, o valor chega a ser 27% menor.
As rendas per capita também diferem uma da outra, sendo de R$ 46/dia, contra R$ 41/dia, evidenciando uma face da desigualdade de gênero. Em geral, as mulheres sustentam suas casas com uma quantia mensal de R$ 2.646.
Para a coleta de dados, a equipe da Seade visitou 2.100 domicílios. A aplicação dos questionários foi feita no segundo semestre de 2019.
Com o estudo, verificou-se que, atualmente, as famílias de um casal com filhos e que têm como figura central um homem totalizam 36%. Os casais sem filhos representam 16% e são majoritariamente chefiados por homens. Já os domicílios unipessoais, ou seja, de uma única pessoa equivalem a 15%, sendo mais comuns entre mulheres.
Os casais com ou sem filhos e que têm à frente uma mulher já perfazem 24% do total de famílias. A proporção é a mesma para os lares em que mulheres vivem sozinhas, que têm em média 61,4 anos de idade.
O Centro Ampliado de São Paulo é o local onde há lares unipessoais de mulheres (14%). A região sul, por sua vez, é a que mais concentra mulheres sem cônjuge e com filhos/netos (21%).
Envelhecimento populacional
Conforme destacou a chefe da Divisão de Indicadores Sociais da Seade, Paula Montagner, em entrevista à Agência Brasil, a região analisada tem passado por um processo de envelhecimento populacional. O fenômeno pode ser identificado quando se observa a idade média dos chefes de família: entre as mulheres, é de 53,8 anos e, entre os homens, de 49,4 anos.
Além disso, quatro em cada dez mulheres que respondem por seus lares têm mais de 60 anos. A parcela de homens nessa faixa etária é inferior, de 27%.
Paula acrescenta que, no passado, o salário tinha maior peso na renda das famílias. Ela diz que, nos dias atuais, fontes como pensão, aposentadoria, valores financeiros e aluguéis acabaram se tornando importantes para a composição, devido a esse deslocamento populacional.
O dado é especialmente importante quando se considera que mais da metade (53%) das mulheres chefes de família não têm uma ocupação profissional, ante 28% dos homens. Por outro indicador, nota-se que o trabalho é a única fonte de renda para 44% das famílias chefiadas por mulheres, enquanto é para 59% das chefiadas por homens.
Área social
Analisados conjuntamente, os fatores ajudam a explicar por que as mulheres chefes de família dependem mais do sistema previdenciário. Para cerca de um quinto (19%) dos domicílios com esse perfil, a renda provém exclusivamente de pensões e aposentadorias. Entre mulheres que vivem sozinhas, a parcela sobe para 44%.
Os pesquisadores da Seade também apuraram que 1,1 milhão de pessoas integram famílias chefiadas por mulheres que recebem benefícios de programas sociais. Os registros do levantamento também dão conta de que os as famílias chefiadas por mulheres existem em maior número do que as chefiadas por homens: as parcelas são de 10,9% e 7,7%, respectivamente.
Outro ponto que Paula avaliou, durante a entrevista concedida, diz respeito à opção das mulheres por deixar o emprego para cuidar dos filhos. Citando uma pesquisa da Seade, ela afirmou que essa tendência vem enfraquecendo.
“Muitas vezes, quem faz isso tem uma condição privilegiada. O rendimento das pessoas hoje, as dificuldades no mercado de trabalho, fazem com que seja sempre necessário ter uma segunda renda e apostar, principalmente se casal for jovem, em trabalhar ao mesmo tempo em que as crianças estão crescendo. É mais raro você ter isso. Essas situações ocorrem quando não tem emprego. As mulheres deixam o mercado de trabalho principalmente quando há poucos postos de trabalho. Ela tentou, tentou, tentou e não conseguiu. Então, ela fica em casa cuidando dos filhos, enquanto não consegue trabalho.”
Economista, Paula finalizou dizendo que, pela longevidade e pela diferença nos rendimentos, na comparação com o que recebem os homens, as mulheres que chefiam lares, seja com a complementação de valores do companheiro ou não, merecem atenção. Segundo a especialista, elas estão mais suscetíveis a sofrer o impacto de cortes de programas governamentais.
“Como a gente vê a renda menor das mulheres chefes, sejam elas cônjuges ou sozinhas, sabe que elas estão crescentemente dependendo não apenas do mercado de trabalho, mas da Previdência Social e de programas de transferência de renda. Então, ficam mais vulneráveis e dependem mais do que acontece com esses programas, o que alerta a gente para ficar bastante atenta com o que está acontecendo com esses programas, porque isso vai afetar uma parte crescente da população”, afirmou.
Na capital paulista, 9% de famílias chefiadas por mulheres são beneficiadas por programas sociais. Nos demais municípios da região metropolitana de São Paulo, o índice é de 14%.