Cotidiano

Prótese inédita no país é utilizada em paciente com doença crônica no RS

Equipamento com tecnologia nacional foi produzido em tempo recorde

O aneurisma de aorta abdominal apresenta evolução silenciosa pode gerar graves consequências. Se não tratada, a aorta, artéria mais importante do corpo, pode se romper e levar à morte da pessoa. Esse era o risco que sofria um paciente do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.

Com 70 anos e histórico de cirurgia cardíaca, acidente vascular cerebral e insuficiência renal crônica, o homem possuía um aneurisma toracoabdominal, que exigia rápido tratamento.

A solução estava na implantação de uma prótese no vaso para manter a circulação em atividade normal. No entanto, devido à pandemia do coronavírus, os prazos para envio desses equipamentos, produzidos na Austrália ou Dinamarca, poderiam demorar mais de seis meses — um tempo arriscado para o paciente.

Parceria

Uma parceria do Hospital Moinhos com a Braile Biomédica, indústria nacional de produtos hospitalares, trouxe a boa notícia: em tempo recorde, foi produzida uma prótese customizada para o paciente, que permitiu a implantação do equipamento, realizado de forma inédita no país. O procedimento ocorreu no dia 21 de julho, durante duas horas e meia. Em menos de 24 horas, ele já estava no quarto e recebeu alta na segunda-feira, 27.

Prótese customizada

O procedimento foi realizado pelo médico Alexandre Araújo Pereira, coordenador do Ambulatório de Doenças Arteriais do Hospital Moinhos de Vento. O especialista explica que o produto foi desenvolvido de acordo com a anatomia do paciente, a partir de uma angiotomografia tridimensional. A prótese foi implantada por meio de técnica endovascular, com punção nas virilhas.

“A prótese é colocada dentro do aneurisma. Ela possui fenestras, que são orifícios pelos quais são inseridos stents para manter a circulação nos principais vasos do organismo, para órgãos complexos como rins, intestino e fígado”, explica Alexandre. Usualmente, as próteses possuem uma ou duas fenestras. No entanto, foi a primeira vez no país que o produto contou com tripla fenestra.

A prótese foi disponibilizada em apenas um mês, o que abreviou consideravelmente a espera do paciente. “Ele tinha um aneurisma muito grande. Se esperássemos pelos equipamentos internacionais, poderia levar até um ano, com risco de rompimento da artéria”, enfatiza o médico, ressaltando ainda que, dada a condição do homem, sua permanência de menos de 24 horas em terapia intensiva foi muito exitosa.

“Juntos, equipe médica, hospital e empresa desenvolvemos essa endoprótese. Conseguimos desenhar e fabricar em tempo recorde. Não existe nenhum processo similar tão rápido no mundo”, comemora Rafael Braile, diretor executivo da Braile Biomédica.

Histórico de pioneirismo

O procedimento realizado com a prótese pioneira se soma a outras conquistas recentes do Hospital Moinhos na área de cirurgia vascular. Em dezembro de 2019, a instituição utilizou um equipamento inédito no Sul do país para uma aterectomia de vaso periférico.

Na técnica, usada para o desentupimento das artérias, um dispositivo foi introduzido nos vasos de uma idosa de 91 anos, cortando e aspirando as placas de gordura e desobstruindo a passagem do sangue.