O Dia Internacional da Mulher é comemorado no dia 8 de março e sabe-se que a presença feminina no mercado de trabalho, principalmente na área da Informática, ainda é muito discutida. Um levantamento do total de formandos no curso de bacharelado em Ciências de Computação do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, que tinha 40 vagas até 2003 e, desde então, 100, mostra que, em 1997, se diplomaram 12 mulheres (48%) e 13 homens (52%), números que haviam caído, em 2003, para 4 (12%) e 27 (88%), respectivamente. O menor número de mulheres que concluíram o curso foi registrado em 2016: apenas duas (3%) ante 52 (97%) homens. Em 2017, elas chegaram a 12 (17%) dos 70 formandos.
Esta diminuição se deu por uma associação de questões mercadológicas e culturais. Antes dos anos 70, a procura pela área de computação tinha um equilíbrio entre os gêneros e em alguns casos até mesmo a predominância feminina, pois a área estava associada a matemática, realização de cálculos e atividades de processamento de dados realizadas comumente por secretárias. No entanto, a partir dos anos 80 os computadores pessoais e os videogames estavam mais acessíveis e em alta nas vendas o que fez com que o público em geral pudesse tê-los em casa. As famílias começaram a adquiri-los e por uma questão cultural associaram jogos e tecnologia como aspectos masculinos, assim frequentemente os computadores ficavam no quarto dos filhos e não das filhas. “Sabe-se que os diversos estímulos recebidos na infância e adolescência tem impacto nas escolhas adultas. Portanto, tendo em vista este contexto, entende-se o porquê de ao longo dos últimos 30 anos a área tenha tido uma predominância masculina”, comenta a docente dos cursos de Sistemas para Internet e Análise e Desenvolvimento de Sistemas na Faculdade Senac Porto Alegre, Aline de Campos.
No Instituto de Matemática e Estatística (IME), também da USP, em São Paulo, a primeira turma de Ciências da Computação, formada em 1974, tinha um total de 20 alunos, dos 14 mulheres (70%) e 6 homens (30%). Em 2016, a turma contava com 41 alunos, dos quais apenas seis eram mulheres, ou seja, 15%.
A docente está na área de tecnologia desde 2002 e possui mais colegas homens do que mulheres. Até mesmo na docência, existe predominância masculina ensinando nos cursos de TI. Atualmente percebe um interesse crescente de jovens na área e acredita que isso se deve aos diversos grupos, programas e eventos de acesso e encorajamento para ingresso na área de TI voltados para mulheres: “Tenho esperança que nos próximos anos os índices melhorem em termos de presença feminina ativa na área e não só isso, que haja também equidade para todos os gêneros”.
Ao longo de 17 anos na área desde o ingresso na graduação, a docente já percebeu diversos momentos onde o gênero foi uma questão. Em alguns casos, segundo Aline, existe um pré-julgamento no sentido de subestimar uma mulher nesta área ou então delegar a ela espaços que digam respeito à questões menos técnicas como gerenciamento de projetos, análise de negócios e design. “Acredito que hoje em dia temos uma maior consciência, entretanto ainda reside de forma implícita alguns aspectos culturais impactando na área, assim muitas vezes o preconceito é velado, mas ainda existe. Algo que tenho percebido é um movimento de homens tentando conscientizar outros homens sobre este tema e acredito que é um processo fundamental para a evolução da área”, lembra.
Para Aline, uma das formas de inclusão do gênero feminino na área de tecnologia é encorajar mulheres, inclusive crianças e adolescentes, sobre a possibilidade de seguir uma carreira e uma mudança cultural a respeito pensando-a como espaço plural e de diversidade. “Conscientizar os homens de que há necessidade de seu apoio nesse processo, pois não se trata de uma competição, mas sim de união de esforços para igualdade no tratamento e oportunidades para as mulheres que já estão na área e incentivo a novas profissionais que possam agregar visões múltiplas”, finaliza.