Uma recepção calorosa no Aeroporto do Galeão, na capital Rio de Janeiro, marcou a chegada hoje (26) de um grupo de 18 estudantes do Colégio Pedro II, dos quais 11 conquistaram medalhas na principal olimpíada de matemática da China, a World Mathematics Team Championship.
Familiares e também representantes da instituição os aguardavam com adereços chineses, faixas e muita animação. A escola pública federal obteve o melhor desempenho entre todas as 22 instituições brasileiras participantes da competição. Além disso, uma de suas estudantes trazia no pescoço a única medalha de ouro da categoria avançada conquistada pelo Brasil.
A participação no evento já era considerada uma vitória. Os alunos estavam convidados a competir na China devido ao desempenho na Olimpíada Matemática Sem Fronteiras, mas precisavam de verba. Eles chegaram a lançar campanhas de financiamento coletivo na internet, vender doces nas ruas do Rio de Janeiro, fazer rifas e organizarem aulas coletivas de reforço para outros colegas ao custo de R$10 reais por pessoa. Ao fim, a direção do Colégio Pedro II obteve R$150 mil junto ao Ministério da Educação (MEC) para enviar a delegação. A verba extra arrecadada pelos estudantes, superior a R$14 mil, também teve importância: com esse valor foram incluídos mais estudantes, e inclusive professores, no grupo que viajou.
“A história deles começou há quatro anos. Juntos, esses alunos têm mais de 100 medalhas em mais de 10 olimpíadas no Brasil. Esta história de preparação, de engajamento, de talento e, principalmente, da visão de futuro desses garotos mostra que a educação pública pode ser boa. É só ela ser apoiada e financiada”, diz Ivail Muniz Junior, professor de nove alunos do Campus Centro do Colégio Pedro II, onde ocorrem aulas do ensino fundamental. Os outros nove viajantes são estudantes de ensino médio do Campus São Cristóvão.
De acordo com Ivail, um dos principais desafios da competição é a rapidez exigida pela prova. A única brasileira medalhista de ouro na categoria avançada, Adrieny Monteiro dos Santos Teixeira, concorda. “Foi bem difícil, pelo tempo e pelo nível de dificuldade. Você tem apenas 10 minutos para resolver oito questões, depois mais 10 pra fazer mais quatro, e assim vai. A ficha está caindo agora”.
O seu feito ganhou ainda mais destaque tendo em vista que ela é estudante do 9º ano do ensino fundamental, mas, devido à faixa etária, seus concorrentes eram majoritariamente do ensino médio. A categoria avançada, em que ela foi incluída, é voltada para alunos de 15 a 18 anos. Já na categoria intermediária, disputam alunos entre 12 e 15 anos. “Eu não gostava de matemática. O Colégio Pedro II me estimulou, me levou para diversas olimpíadas no Brasil e eu fui gostando. Então também tenho que agradecer aos meus professores, além dos colegas e da família que sempre me apoiou”, acrescenta Adrieny que hoje pensa em se tornar engenheira.
Conquistaram medalha de prata os alunos João Victor Diniz de Andrade, Rafaela Luiz Costa Franco e João Matheus Nascimento Gonçalves. O bronze foi conquistado por Ana Catarina dos Santos, Ana Júlia Victal dos Reis, Arthur Rampazio Siqueira, Isabel dos Santos Fernandes, Luiz Carlos Machado Ferreira, Gustavo Michaloski e Bruna Melloni Romero. Os outros sete estudantes tiveram menção honrosa: Gabriela Maia da Silva, Samuel Fraga Soares, Beatriz Ferreira, Deisianny Santos, Gabriel Henrique, Gabriel Lopes e Tauat Lara.
O discurso de agradecimento à escola estava na ponta da língua dos pais que estiveram lá para recepcionar os premiados. “Estou sem acreditar até agora. A prova era de alto nível. Só uma escola pública, gratuita e de qualidade poderia proporcionar isso para a minha filha”, disse Janaína Monteiro dos Santos, mãe de Adrieny. Tatiane Garcia, mãe da medalhista de bronze Isabel Fernandes, destacou que não apenas a matemática, mas outras disciplinas também contribuíram para o feito. “A Isabel nunca fez curso de inglês. O que ela sabe, aprendeu na escola”, conta. As provas foram aplicadas em inglês e uma professora do idioma também acompanhou a delegação.
Emoção
“Quando começaram a sair as notícias das medalhas, deu uma tremedeira. Nós tínhamos consciência de que a dificuldade era grande. A gente falava para nossas filhas para não se importar tanto com o resultado, que o importante era estar lá e viver essa experiência. Então agora é só orgulho”, acrescenta Tatiane. Mas além do resultado, houve ainda outros motivos para que a experiência emocionasse pais e alunos. Irina Michaloski, mãe do medalhista de bronze Gustavo Michaloski, listou uma delas. “Foi a vez que eu fiquei mais tempo longe dele”, se emociona.
Quase todos os estudantes viveram também a emoção de sua primeira viagem internacional. Alguns deles relataram ainda terem entrado em um avião pela primeira vez. Foi o caso da medalhista de prata, Rafaela Luiz Costa Franco, do 2º ano do ensino médio. “Foi incrível. Pessoas de vários países no mesmo hotel, conversando e dividindo informações”, conta.
A professora Isabel Campos Barroso destacou a programação para além das provas. “Além de terem competido com pessoas de diferentes países, da China, da Coreia, da Tailândia, da Austrália, eles puderam visitar monumentos que são patrimônios da humanidade. Nós fomos à Muralha da China, à Cidade Proibida. Conhecer essa realidade que é tão diversa da nossa nos enriquece culturalmente e nenhum deles vai esquecer”.
Andreia Bandeira Ribeiro, diretora-geral do Campus Centro do Colégio Pedro II, também marcou presença na recepção aos alunos e lembrou da importância do investimento nas escolas públicas. Ela afirma que alguns desses alunos são beneficiários das políticas de assistência estudantil, que os ajudam a se manterem na escola. “A educação nesse país é uma questão de oportunidade”, concluiu.