Porto Alegre, meu cantinho no mundo

Por Lucas Correa Viegas
Eu nasci em Porto Alegre há 34 anos. Eu deixei a cidade há 28 anos e vim morar em São Leopoldo, na região metropolitana. Mas Porto Alegre nunca saiu de mim. Tenho aquele mesmo espírito porto-alegrense: posso estar em qualquer rua do mundo que a minha pressa é a mesma de quem circula pela Rua da Praia às 2 da tarde. Pessoas se batendo, músicos cantando, a esquina democrática exercendo sua função, ambulantes gritando seus produtos e serviços. Mas também resguardo em mim o clima do Parcão com sua calmaria e sua aura ‘zen’ e seus patinhos e gansos brincando e nadando nas águas do lago próximo ao moinho de vento em meio à metrópole cinza e barulhenta que se tornou esta cidade. Obviamente que volto com frequência e revejo e revivo tudo aquilo que já conheço de cabo à rabo e amo ainda mais.
Porto Alegre nos apresenta tudo isso. Essas contradições de cidade mediana-interiorana com as da grande metrópole global fazem seus moradores e visitantes se apaixonarem por esse cantinho.
Uma cidade deste porte ainda possui plantação de pêssegos e sua respectiva “festa da colheita”. E que se mantenha por muito tempo, por favor!
Uma cidade que tem um trenzinho que sai do nada e leva ao lugar algum.
Uma cidade que tem porto no nome mas não recebe navios.
Uma cidade que tem uma rua da praia sem areia, sem água e sem biquinis.
Uma cidade que tem uma orquestra que a homenageia e não possui um local para tocar.
Uma cidade que ama e alardeia as artes.,
Uma cidade de lendas como a do açougueiro canibal que serviu carne humana para a comitiva imperial em visita à Porto Alegre no século XIX.
Uma cidade de lendas como a de Obirici, índia que chorou tanto por amor, que criou um riacho de lágrimas no local onde fica o Viaduto Obirici, no Passo d’Areia.
Uma cidade de lendas como a do escravo que rogou uma praga à Igreja das Dores antes do seu enforcamento em frente ao templo. A igreja levou mais de 100 anos para ser concluída.
Uma cidade que cultiva as tradições gaúchas, e não somente em setembro.
Uma cidade literária com sua incrível feira do livro. A maior das Américas.
Uma cidade musical com sua cena roqueira e seus pequenos festivais de garagem.
Uma cidade com um centro historicamente rico, mas abandonado, infelizmente.
Uma cidade das artes plásticas com sua renomada Bienal do Mercosul.
Uma cidade onde seus moradores insistem em dizer que possui o mais belo pôr do sol no mundo.
Uma cidade que possui um dos maiores monumentos artísticos do Brasil: o Theatro São Pedro.
Uma cidade que reverencia as artes cênicas, dedicando um mês inteirinho à elas, o Porto Alegre em Cena.
Uma cidade referência em arquitetura pelas mãos do arquiteto português Alvaro Ziza e sua criação, a Fundação Iberê Camargo.
Uma cidade que cultiva a diversidade em seu ‘multi’ Parque da Redenção.
Uma cidade que vive a noite nos arredores dos bairros Bom Fim e Cidade Baixa.
Uma cidade que tem uma orla subaproveitada.
Uma cidade que tem seu grande poeta reverenciado numa Casa de Cultura.
Uma cidade com dois campões mundiais.
Uma cidade com dois estádios de futebol como poucas no mundo tem.
Uma cidade com suas mazelas e suas deficiências, mas que aos poucos e com vontade política vamos resolvendo.
Mas sobretudo tudo uma cidade acolhedora que eu nunca deixarei de amar, visitar, voltar, passear, apreciar, brincar, conversar…