Cotidiano

Porto Alegre: gêmeas nascem prematuras com 34 semanas de gestação

Deitada em sua cama, Alice descansa ao lado pai. Tranquila, aguarda a hora de ir para casa. Tudo está dando certo, a não ser por um detalhe: os cem gramas que faltam para que a irmã, Nicole, atinja os dois quilos necessários para a alta. Quando isso acontecer, as gêmeas poderão partir com os pais rumo a Cruz Alta, no norte do estado.
A possibilidade de parto prematuro, detectada no exame pré-natal, devido à diabetes gestacional, fez com que a mãe, Stephanie Campos Cordova, 22 anos, fosse levada para o Hospital Materno Infantil Presidente Vargas, instituição SUS administrada pela Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre.
No dia 24 de outubro, com 34 semanas de gestação, as gêmeas nasceram. Alice com 2,060 quilos e Nicole com 1,580. Embora recebessem cuidados especiais para prematuros, Nicole precisava de mais cuidados. E o colo canguru da mãe e do pai fez toda a diferença.
Acolhidos no alojamento canguru do hospital, com quarto exclusivo para a família, os pais permanecem 24 horas ao lado das filhas. “Fico feliz por estar ao lado das minhas filhas, por poder acompanhar o desenvolvimento delas junto do meu marido e aprender sobre os cuidados que necessitam. Graças ao atendimento recebido aqui no Presidente Vargas estou me sentido segura como mãe e pronta para levar elas pra casa”, disse enquanto segurava Nicole junto ao peito. O pai, Michael Jordan, 20 anos, tem revezado a atenção entre as três. “Agora eu estou muito tranquilo. Fiquei assustado quando vi o tamanho delas, não sabia como pegar, o que fazer. Aqui aprendemos tudo. Estou muito feliz por ficar ao lado delas e por poder ajudar”, destacou.
A pediatra responsável pelas bebês, doutora Samanta Pitsch Alves, acompanha diariamente a evolução de Nicole e prevê alta na próxima semana. “As gêmeas estão muito bem. A Nicole responde bem aos cuidados e já está sendo amamentada pela mãe. O colo canguru fortalece o vínculo entre pais e bebê e sem dúvidas ela foi muito beneficiada com isso. A presença do pai é um cuidado extra e também contribui para a recuperação da mãe o que é bem positivo, ainda mais nesses casos de parto prematuro”, salienta.
O HMIPV tem capacidade para receber até 25 bebês prematuros. No alojamento canguru são cinco leitos com capacidade para acolher mãe e bebê. “Todos os pais são convidados a aderir ao método, pois ele traz muitos benefícios para o desenvolvimento neurológico do recém-nascido. Oportunizar aos pais que se familiarizem com seu bebê, que participem dos cuidados e o estímulo ao aleitamento garantem mais segurança no momento da alta hospitalar”, destaca a neonatologista do HMIPV, doutora Silvana Pires. Para que todo esse cuidado seja possível, a UTI Neonatal do hospital conta com cerca de 86 profissionais, divididos em três turnos.
Entenda o método canguru – No HMIPV, todo bebê prematuro que necessita de internação na UTI Neonatal é inserido no método canguru. Estimulado pelo Ministério da Saúde, preconiza  a atenção humanizada a recém-nascidos de baixo peso. São três etapas, iniciando já no pré-natal. Gestantes de risco para nascimento prematuro recebem orientações e apoio psicológico. Após o nascimento, os pais são estimulados ao contato pele a pele com bebê, de forma gradual e crescente, de maneira segura e confortável para ambos.
Trabalha-se o também estímulo à amamentação materna e a participação dos pais nos cuidados com o bebê. Ao lado dos cuidados intensivos necessários no início da internação, há uma atenção especial com o ambiente ( redução do ruído, luminosidade), com o posicionamento do bebê (uso de “ninhos”, pequenas redes esticadas dentro dos berços). Também é importante o consolo após procedimentos dolorosos e a melhor aproximação possível com o ambiente uterino, proporcionando assim um melhor desenvolvimento neurológico.
A participação na segunda etapa (alojamento canguru) requer a estabilidade da criança, ganho de peso regular, segurança materna, interesse e disponibilidade da mãe em permanecer com a criança o maior tempo desejado e possível. Na terceira etapa, após a alta, o bebê recebe atendimento ambulatorial, com consultas frequentes ao pediatra que acompanha e avalia seu crescimento e desenvolvimento.
O HMIPV, que é referência no estado em atendimento obstétrico e pediátrico, tem buscado o constante aprimoramento do método canguru, seguindo as normas do Ministério da Saúde. Essas mudanças no cuidado oferecido ao prematuro trazem um melhor desenvolvimento dos bebês, melhores índices de aleitamento materno e o estímulo ao vínculo familiar.