Cotidiano

PM nega arbitrariedade em operação no Complexo da Maré de madrugada

A Polícia Militar divulgou um balanço da operação iniciada hoje (6) de madrugada no Complexo de Favelas da Maré e que se estendeu também ao Alemão e que resultou na morte de cinco pessoas. Oito pessoas ligadas ao tráfico foram feridas na Favela Nova ...

A Polícia Militar divulgou um balanço da operação iniciada hoje (6) de madrugada no Complexo de Favelas da Maré e que se estendeu também ao Alemão e que resultou na morte de cinco pessoas. Oito pessoas ligadas ao tráfico foram feridas na Favela Nova Holanda, na Maré e três pessoas foram feridas no Alemão.

A PM informou que como se tratava de uma situação emergencial, visando a garantia da ordem e a segurança de moradores, não houve descumprimento de decisões do Poder Judiciário e da própria Secretaria de Estado de Segurança, que estabelecem normas para operações policiais no Complexo da Maré. Entre essas normas consta a proibição de cumprimento de mandados de busca e apreensão em residências durante a madrugada, o que foi rigorosamente cumprido, segundo a PM.

Mais cedo, o porta-voz da PM, major Ivan Blaz, disse que a ação da polícia tinha caráter emergencial para conter um encontro na comunidade Nova Holanda entre marginais de diversos pontos do estado. O oficial informou que um dos suspeitos mortos no confronto era de Campos dos Goytacazes, município no norte fluminense, distante cerca de 280 km de distância do Complexo da Maré.

​Legalidade da operação

A ONG Redes de Desenvolvimento da Maré, que atua na comunidade, disse que, apesar da declaração do major Ivan Blaz sob a legalidade da operação, a ação desrespeita os pontos estabelecidos na Ação Civil Pública (ACP), firmada em julho de 2017. A ACP tem por objetivo reduzir danos causados pelas operações à população local e estabelece algumas regras a serem seguidas como o fato de não poderem ser realizadas junto com a execução de mandados de busca e apreensão.

“Embora a ação tenha sido caracterizada como de urgência e emergência, pela ACP ela não poderia realizar invasões a domicílio de madrugada e uma série de outras violações de direitos humanos”, informou a ONG, em nota. ​

Os números de mortos também estão desencontrados. A Redes da Maré confirma a morte de quatro pessoas. Entre elas, o professor de Física William Figueira de Oliveira, de 36 anos, que morava na Maré há 11 meses. Há relatos que o homicídio ocorreu por volta das 5 horas da madrugada. Como forma de protesto, moradores levaram o corpo de William num carrinho de transporte de carga até a Avenida Brasil, principal ligação do centro com as zonas norte e oeste da cidade. 

Na ação morreram também, segundo a ONG: Marcos Paulo Fernandes Mota, que passeava com o cachorro quando foi alvejado; Tiago Ramos Pereira e uma moradora identificada apenas como Zezé. Não há, até o momento, confirmação que as vítimas tivessem ligações com ações criminosas, segundo a ONG.

Ocupação

A Polícia Militar disse que a operação policial começou no início da madrugada de hoje nas comunidades Parque União e Nova Holanda, do Complexo da Maré por unidades de elite da corporação. A finalidade foi intervir em uma ampla reunião de criminosos de várias comunidades, segundo informações levantadas e confirmadas pelo setor de inteligência da PM. Sobre a morte do professor de Física William Figueira de Oliveira, a PM respondeu que a vítima já foi indiciada por porte ilegal de arma de uso restrito.

A ação terminou no final da tarde e foram apreendidos 800 quilos de maconha em tabletes, um fuzil automático, uma pistola automática, uma granada, além de nove veículos, sendo três carros e seis motocicletas. Entre os presos está Alex Sandro Alexandre dos Santos, vulgo Ratinho, que é responsável por roubo de cargas na comunidade e possui 8 anotações criminais, e já foi condenado pela Justiça a 7 anos de prisão em regime fechado.

Todas as escolas públicas e postos de saúde das comunidades Parque União, Nova Holanda, Rubens Vaz e Parque Maré ficaram fechadas durante todo o dia. Milhares de pessoas ficaram sem aula e sem atendimento médico.

Tropas do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), do Batalhão de Choque e o Batalhão de Ações com Cães foram empregadas para operar no Parque União e na Nova Holanda, comunidades dominadas por uma facção que convocou a reunião com a participação de criminosos locais e de outros municípios do Estado. O 22º batalhão da PM, instalado no Complexo da Maré cercou a região, em apoio à ocupação.