Poucos dias depois da divulgação de uma proposta por parte do governo de extinguir a FZB/RS (Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul), internautas criaram uma petição on-line para tentar impedir que a instituição acabe ou seja privatizada. A proposta do governo é enxugar a máquina pública e, assim, ter mais dinheiro em caixa. Para internautas, o órgão é muito importante para o Estado para deixar de existir.
A FZB/RS foi criada em 1972 para unir administrativamente três instituições que já existiam: o Museu Riograndense de Ciências Naturais – criado em 1955 –, o Jardim Botânico de Porto Alegre – criado em 1958 – e o Parque Zoológico – criado em 1962. A instituição tem como missão desenvolver pesquisas que ajudem a conservar a biodiversidade, promover a educação ambiental, e realizar a gestão ambiental.
Entretanto, a crise financeira tem atrapalhado a Fundação no desempenho de suas atribuições. Faltam funcionários, materiais de trabalho e a estrutura das instituições membras estão ficando deficitárias. Mas isso não diminui o amor que os funcionários da FZB/RS sentem por trabalhar com os animais e com as plantas.
Falta de dinheiro atrapalha Zoo de Sapucaia
No Zoológico de Sapucaia do Sul, os funcionários tratam os bichos como se fossem da família. Mas a renda com as entradas do parque não é suficiente para manter a instituição. Segundo a administração do local, os custos de manutenção do zoo são de R$ 3 milhões que são cobertos pelos mais de 500 mil visitantes anuais. A verba para os salários dos funcionários – que chega a R$ 6 milhões por ano –, porém, dependem de uma renda extra vinda da FZB.
Para o Zoológico, a proposta que mais interessa ao governo é a da privatização do parque, pois retira das costas da administração estadual o passivo com a manutenção de funcionários. A área de cerca de 200 hectares fica localizada às margens da BR-116 e mantém uma coleção de cerca de 1,5 mil animais vivos, representantes da fauna nativa e também exótica, de mais de 180 espécies.
Futuro incerto
As outras duas instituições – o Museu Riograndense de Ciências Naturais e o Jardim Botânico têm futuro ainda mais incerto. Para o biólogo Paulo Brack, do InGá (Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais), há fortes dúvidas de como ficará a continuidade do desenvolvimento de pesquisas científicas e técnicas para a conservação de espécies endêmicas, ameaçadas de extinção, medicinais, alimentares e ornamentais.
Jardim Botânico tem área de 40 hectares. Foto: Wikimedia Commons
Além das coleções especiais do Jardim Botânico, destacam-se o arboreto, o banco de sementes e o viveiro de mudas nativas comercializáveis, com ênfase em espécies nativas do Estado. O viveiro fornece espécies que praticamente não são encontradas em ambientes particulares. O Jardim também recebe, anualmente, milhares de visitantes e desenvolve um conjunto de atividades raras no Rio Grande do Sul de Educação Ambiental direcionado ao público, oferecendo visitas orientadas, principalmente para escolas.
“É realmente inconcebível que, em vez de se buscar efetivar a cobrança de desonerações e dívidas bilionárias de empresas com a receita do Estado, se escolha eliminar uma instituição de tal envergadura, que realiza estudos, projetos e atividades de educação ambiental que tanto contribuem com a conservação da biodiversidade do território gaúcho”, afirma Brack.
Procurada pela reportagem para comentar o assunto, a SEMA (Secretaria Estadual do Meio Ambiente), gestora da Fundação Zoobotânica, não respondeu os nossos contatos.
Reestruturação recente
Há cerca de uma década, o Parque Zoológico e o Jardim Botânico da Capital eram expoentes de uma proposta de valorização do Estado durante a gestão de Germano Rigotto (PMDB, 2003-2006). Naquela época havia uma propaganda – hoje inexistente – dos locais que ainda são referência para biólogos do País inteiro.
Em 2014, houve um esforço para recuperação dos quadros de funcionários, com a realização de concursos públicos, aprovação de um plano de emprego e salários e o início de uma recuperação estrutural da Fundação Zoobotânica. Mas tudo pode ir por água abaixo no processo de enxugamento da máquina pública realizado pelo governador José Ivo Sartori (PMDB).
Petição on-line pede que FZB não seja extinta
Como mencionado no início desta reportagem, um abaixo-assinado reivindica o diálogo do governo com a população gaúcha e pede que a privatização não seja realizada. “A vida selvagem gaúcha corre um enorme risco de desaparecer ou tornar-se cada vez mais empobrecida em termos de diversidade, caso tais políticas sejam efetuadas”, diz o autor da petição, que preferiu não se identificar.
Criada no sábado (7), a demanda já contava, até o fechamento deste texto, com mais de 4,5 mil assinaturas contra a proposta de extinção da FZB/RS. A maioria do comentários da página também se posiciona contra a proposta governista.
“Esperamos o bom senso do governo e dos parlamentares, já que a revolta de muitos setores será muito grande. Afinal, este Estado tem tradição na área pesquisa e conservação ambiental”, aponta Brack.
Cotidiano